COLUNA

O que é esse tal de “Ponto G”?

Dicas de Mulher

Todo mundo já ouviu falar do tal do "Ponto G", mesmo que ele seja um mistério para os próprios cientistas e pesquisadores da área. Afinal, ele existe?

Já vivi épocas em que me falavam sobre o famigerado Ponto G e eu fingia costume para não parecer desentendida. Era como aquela famosa frase sobre o caviar: “nunca vi, nem comi eu só ouço falar…”, mas ouvindo dizer parecia ser a coisa mais incrível do universo. Foi só depois de muitos estudos sobre a sexualidade humana e algum anos de prática atenta (risos) que soube do que se tratava. E também descobri o quanto é recorrente o senso comum inventar prazer inacessível para as mulheres, como se sempre houvesse um segredo a ser desvendado, desde malabarismo, aperta e solta, posição sexual, até ponto G, P, U… uma infinidade de vocábulo para uma cartilha do sexo que não existe.

E vamos de ciência…

Falando sobre as descobertas científicas, o tal do Ponto G foi descrito pela primeira vez na década de 1940, pelo ginecologista alemão Ernst Gräfenberg (por isso o nome “G”, em referência ao Ponto de Gräfenberg). O fisiologista o caracterizou como uma zona erógena da vagina que, ao ser estimulada, poderia elevar os níveis de excitação sexual.

Atualmente, uma pesquisa publicada na revista “New Scientist”, orientada pelo ginecologista Emmanuele Jannini, revelou exames inéditos que distinguiam a anatomia de dois grupos de mulheres: aquelas que atingem o orgasmo pelo estímulo da parede do canal vaginal; e aquelas que têm dificuldade com isso. Trocando em miúdos, viram a diferença fisiológica entre a vagina das mulheres que conseguem gozar só com penetração; e daquelas que só chegam lá se estimularem a glande do clitóris, do lado de fora da vulva. O resultado? Os exames das mulheres que têm orgasmos vaginais, somente com a penetração, apresentaram um claro espessamento do tecido uretrovaginal, ou seja, a região entre a uretra (canal por onde fazemos xixi) e o canal vaginal era mais espessa do que naquelas mulheres que tinham dificuldade em chegar lá sem estímulos adicionais.

Então quer dizer que o ponto G existe?

Se considerarmos que o Ponto G é uma região que todas nós temos, podemos dizer que ele existe. A questão é que ele pode gerar mais prazer ou menos, e isso depende não só de questões fisiológicas (como o espessamento do tecido uretrovaginal), mas também do grau de excitação da mulher. O corpo do clitóris, órgão do prazer feminino, fica localizado também nessa região, então quanto mais excitada a mulher estiver, maior é a chance de estimulá-lo por meio do Ponto G, mesmo pela penetração.

Mas isso não deveria ser uma cobrança…

Há muitos discursos que acabam criando verdadeiras neuras nas nossas cabeças. Com essa história de Ponto G, muitas mulheres se viram obrigadas a encontrar um “pote de ouro” no fim do arco-íris, uma solução mágica para gozar com a penetração. Mas sabemos que soluções mágicas não existem. O que existe é a nossa capacidade de descobrir sempre pontos excitantes do nosso corpo. Vejam que a região do Ponto G pode ser excitante ou não; assim como os seios e mamilos são muito excitantes para algumas mulheres e menos excitantes para outras. Trata-se de mais uma área erógeno, uma possibilidade dentre muitas de sentir prazer. Por isso, vale a pena nos perguntar: será que estamos preocupadas em achar o Ponto G simplesmente pelo nosso prazer, ou porque ele está ligado ao prazer do homem, já que nos estimula durante uma penetração? Muitas mulheres acreditam que encontrar o prazer na penetração é suficiente para que o sexo seja satisfatório para ambos, o que não é verdade.

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Se eu tenho, o que eu faço com ele?

Se você de fato deseja encontrar prazer nessa zona erógena, basta explorá-la, sozinha ou acompanhada. Brinquedos eróticos, vibradores, dedos ou com seu par… tente tocar seu canal vaginal, buscando essa área que está a 2 ou 3 centímetros adentro da vagina, embaixo da uretra. Você vai sentir uma região mais “rugosa”, e pode brincar com ela para descobrir se é bom para você ou não. O legal de explorar a nossa própria sexualidade é quando começamos a compreender que nosso tesão não é um “ponto”, mas está presente no corpo inteiro, vai além, e os segredos do prazer só nós mesmas podemos conhecer, na prática!

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Psicanalista e Palestrante, graduada em Psicologia e em Letras, com Mestrado e Doutorado em Linguística e Pós-Graduada em Sexualidade Humana. Dedica sua carreira ao desenvolvimento de mulheres líderes no trabalho, nos relacionamentos e na vida. É autora do livro "A linguagem da loucura" e empresária, ama comunicação, esportes, viagens e celebrações.