Sociedade

Retratos de violência: 75% das leitoras do Dicas de Mulher já sofreram assédio sexual

Estudo de audiência evidencia consciência das mulheres sobre violências de gênero e desconfiança nas instituições que deveriam promover a segurança das vítimas.

Dicas de Mulher

A busca por informação e a troca de experiências têm sido elementos essenciais na vida das mulheres modernas. Sabemos que elas têm uma multiplicidade de interesses e opiniões, mas o quanto as informações que recebem impactam seus cotidianos? Quais são os temas e discussões que figuram nas vidas das mulheres atualmente? Esses e outros interesses impulsionaram a iniciativa do Dicas de Mulher de se aproximar mais do seu público em 2023.

Para isso, o DM desenvolveu um estudo de audiência, no qual foram analisadas as respostas voluntárias de leitoras maiores de 18 anos. O questionário apresentou perguntas e situações acerca de temas discutidos no site diariamente, como carreira, sexualidade, saúde, maternidade, autonomia sobre o corpo, violências de gênero, padrões de beleza e outros.

Em seus mais de 13 anos de história, o Dicas de Mulher se dedica a entender como cada um desses assuntos atravessa a vida das leitoras que acessam o site, como pensam e enxergam seu papel na sociedade e quais suas opiniões sobre temas intrínsecos à realidade das mulheres modernas. Dessa forma, poderemos cada vez mais produzir matérias, conteúdos e oferecer dicas relevantes para esse público, criando um espaço que seja uma verdadeira referência para todas as mulheres em busca de informação e inspiração.

Machismo, discriminação e violências de gênero

Dicas de Mulher

A consulta com as leitoras do Dicas de Mulher mostra que as mulheres estão cada vez mais conscientes das violências de gênero que ainda atravessam as suas vidas. A maioria das respondentes relatou ter vivenciado ou presenciado crimes como assédio, estupro, importunação sexual e violência obstétrica.

Mais da metade das leitoras afirmaram ter sofrido ou conhecerem vítimas de assédio sexual. Dessa amostragem, 74% dos casos aconteceram no ambiente de trabalho. Além da discriminação, desigualdade salarial e assédio moral, elas são potenciais vítimas de crimes sexuais.

A porcentagem de mulheres que afirmaram ter sofrido ou conhecem outras vítimas de importunação sexual (cantadas, toques inapropriados, assobios e semelhantes), sob o mesmo ponto de vista, é ainda maior, representando 85% das leitoras. Aqui, mais de 80% das mulheres tem entre 18 a 29 anos, gerações que mais se informam pela internet. Por isso, nós do Dicas de Mulher, nos empenhamos a nomear os problemas enfrentados pelas mulheres e apresentar as suas definições para que mais de nós consigamos identificar situações de violência, dar suporte às vítimas e a denunciar corretamente.

Os números são alarmantes e sabemos que no Brasil a realidade é de subnotificação dos crimes sexuais. Em consonância, 40% das respondentes afirmaram que não confiam nos sistemas de segurança e saúde no Brasil, por acreditar que estes são incapazes de acolher e proteger vítimas da violência sexual. Esse receio de que a denúncia em canais oficiais não seja eficiente para proteger as vítimas é comum no Brasil, como aponta o Relatório “Visível e Invisível” de 2023, e é um cenário que precisa ser combatido.

A relação das mulheres com a maternidade

Este é um assunto de destaque na vida das mulheres contemporâneas. Em meio a novas perspectivas sobre o papel feminino na sociedade, a mulher moderna enfrenta desafios e vivências singulares ao equilibrar as demandas da maternidade com suas aspirações pessoais e profissionais.

Os papéis desempenhados pelas mulheres na sociedade mudaram, mas será que suas responsabilidades diminuíram? 43% das respondentes afirmam ser mães solo, ou seja, as responsáveis exclusivas pelos cuidados com os filhos. Além disso, 50% das mães são as responsáveis exclusivas também pela limpeza e alimentação em suas casas.

Contudo, observamos uma mudança na forma como as mulheres enxergam a maternidade. Das respondentes, 87% acreditam que o mercado de trabalho trata mulheres grávidas com discriminação. Paralelamente, observamos que 29% das entrevistadas que ainda não são mães, afirmam não ter desejo de exercer a maternidade no futuro.

Em assuntos como o aleitamento materno, a audiência do DM se posiciona, e 78% das respondentes acreditam que a amamentação não deve ser vista como uma obrigação das mães. Sobre a amamentação em público, 98% afirmaram que é um direito que deve ser garantido às mães.

As mães somam um total de 63% das respondentes. No Brasil, de acordo com pesquisa de 2023 do Datafolha, as mães somam 69% das mulheres, e as que se identificam como mães solo são 55% entre as mães brasileiras.

O valor invisível do cuidado na gestão do lar

Mulheres sobrecarregadas, exaustas e esgotadas. A economia do cuidado diz respeito ao trabalho não remunerado e por vezes invisível protagonizado pelas mulheres do mundo todo. Gestar, alimentar, criar, limpar, educar… O cuidado é distribuído desigualmente entre os gêneros. Estudos apontam que, no mundo, 85% dessas tarefas familiares são desempenhadas pelas mulheres.

Entre as respondentes da pesquisa, a realidade não é muito diferente. Das mulheres que moram com seus/suas parceiros(as) (47% das respondentes), 7 em cada 10 são responsáveis majoritárias ou exclusivas pelos cuidados com a casa. Quando as mulheres são mães, esse número pode aumentar em até 12%.

O número fica ainda mais relevante quando levamos em consideração as jornadas triplas, ou seja, as mães que cuidam dos filhos, da casa e também possuem um emprego. Entre as mães que estão empregadas, 59% são as principais ou únicas cuidadoras dos filhos e da casa.

Sexualidade e relação com o corpo

Dicas de Mulher

A maneira que a sociedade trata e interpreta a sexualidade feminina pode ter um impacto profundo na forma que as mulheres percebem seus corpos e se enxergam. Entre as participantes do estudo, 49% afirmam já terem se sentido afetadas pelos padrões de beleza, e uma grande maioria expressa o desejo de realizar procedimentos estéticos. Observou-se também como uma parte considerável das respondentes não se sente confortável para explorar sua própria sexualidade, mesmo quando estão em relacionamentos sérios.

A maioria das respondentes é heterossexual (84%), monogâmica (71%) e está e um relacionamento sério (62%). Elas também demonstram uma disposição maior a explorarem o prazer sozinhas, considerando que 85% afirmam já terem se masturbado e 74% já terem gozado com a masturbação.

Feminismo e a autonomia da mulher

É nítido a repercussão e o crescimento do feminismo no Brasil. Entre as respondentes, 73% consideram importante o crescimento do movimento no país. Em relação à representatividade feminina na sociedade, 94% acreditam que a sociedade avançou nos últimos anos. Mas, apesar dos avanços, apenas 16% afirmaram se identificar totalmente com o movimento brasileiro.

Estes dados são relevantes, pois demonstram os diversos papéis desempenhados por cada assunto na vida das mulheres, revelando o que é significativo em seu cotidiano. O estudo mostra que a vida das mulheres tem passado por transformações, à medida que ganham mais espaço e voz.

O Dicas de Mulher convidou as leitoras a dedicarem alguns minutos de seu tempo para compartilharem suas opiniões e desejos por meio desse estudo de audiência. Seu engajamento é essencial para ajudar na construção de um portal que represente verdadeiramente a diversidade e a força feminina nos tempos atuais. Os dados serão usados para planejar conteúdos cada vez mais relevantes e comprometidos.

Comunicóloga. Editora e redatora do Dicas de Mulher.