Bem-estar

Depressão não é frescura: conheça causas, sintomas e tratamento

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Atualizado em 11.10.23

Embora nem todo mundo tenha conhecimento disso, a depressão – ou transtorno depressivo – é uma condição médica séria. Ela é caracterizada por alterações do humor, do comportamento, da cognição e vegetativas (anorexia, insônia, perda da libido). Georgiane Haluch Moletta, psiquiatra e professora da pós-graduação em psiquiatria da faculdade IPEMED, destaca que a depressão gera um grande sofrimento e um comprometimento em vários âmbitos da vida, como laboral, social, familiar, educacional e outros.

“A depressão acomete as mulheres até duas vezes mais do que os homens; e entre as hipóteses para esta disparidade estão as diferenças hormonais, estresses psicossociais e parto”, acrescenta a psiquiatra. Saiba mais sobre esta condição, entenda quais são os sintomas, as complicações e os tratamentos possíveis para a depressão.

O que é a depressão?

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A depressão é um transtorno de humor, segundo o DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais). “Esse manual é usado por médicos e psicólogos para a classificação das doenças mentais. Ela pode ser definida como um transtorno crônico de humor, por meio do qual a pessoa altera seu comportamento e isso afeta seu convívio social, profissional e familiar”, destaca a psicóloga Beatriz Brandão.

Classificações

A psiquiatra Georgiane cita abaixo os diferentes tipos de depressão e suas principais características:

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Depressão maior: apresenta pelo menos cinco sintomas da depressão, por um período maior que duas semanas; estando presentes a tristeza e a perda do prazer e interesse. Costuma iniciar numa idade mais tardia, e responde melhor com tratamento medicamentoso.

Depressão bipolar: são as fases da depressão dentro do transtorno bipolar.

Depressão sazonal: é a ocorrência de quadros depressivos em determinadas estações do ano, geralmente no início de outono e do inverno, tendo sua remissão na primavera e verão. Há uma prevalência em mulheres e seus sintomas são atípicos (aumento do sono, do apetite, avidez por carboidratos e ganho de peso).

Depressão atípica: apresenta inversão dos sintomas vegetativos típicos, isto é, aumento do apetite, ganho de peso, aumento do sono, sentimento forte de rejeição e falta de energia acentuada.

Depressão puerperal: desenvolvida nas primeiras quatro semanas após o parto. Geralmente acomete as primíparas (primeiro parto), e um dos sintomas é a rejeição do bebê.

Depressão psicótica: o quadro depressivo é mais grave, tendo associado aos sintomas ideias delirantes e alucinações.

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Distimia: é um transtorno do humor persistente, caracterizado por um quadro depressivo leve e crônico, com duração maior que dois anos, marcado por sentimentos de insatisfação e pessimismo.

Transtorno disfórico pré-menstrual: a característica essencial é a presença de labilidade do humor, irritabilidade, disforia e sintomas de ansiedade durante a fase pré-menstrual do ciclo. Tais sintomas se remitem no início da menstruação ou logo após.

Luto patológico: neste caso, avalia-se a gravidade e a duração, não sendo considerado o quadro de luto patológico antes de dois meses após a perda. Trata-se de um episódio depressivo pleno que advém do luto, sendo observado principalmente uma culpa acerca de ações não realizadas à época do falecimento, pensamentos sobre morte, preocupação mórbida com inutilidade, retardo psicomotor acentuado, prejuízo funcional prolongado e acentuado.

A psicóloga Beatriz ressalta que somente uma avaliação apurada do médico vai poder diagnosticar certamente a depressão, diferenciando-a de outros quadros. Por isso, caso a pessoa em si ou a família note algum desses sinais, o melhor caminho é procurar o quanto antes a ajuda de um médico psiquiatra.

Sintomas

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Os sintomas variam bastante de pessoa para pessoa e também de acordo com o tipo de depressão. Confira os principais destacados pela psiquiatra Georgiane:

  • Humor triste
  • Prejuízo da capacidade de sentir alegria e prazer
  • Falta de energia
  • Alteração do sono e do apetite
  • Dificuldade de concentração
  • Sentimento de culpa ou inutilidade
  • Pessimismo
  • Desesperança
  • Lentificação motora e do pensamento
  • Pensamentos de morte ou suicídio
  • Dores e sintomas somáticos (dor de cabeça, dores musculares, dores na barriga, etc.)

Os pensamentos suicidas, aliás, estão muito presentes dentro da depressão e são motivo de preocupação, pois fazem muitos pacientes enxergarem a morte como uma “fuga da tristeza” e uma “solução mais rápida” quando comparada com a busca por tratamento.

Causas

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Georgiane explica que a depressão é de causa multifatorial, com influências biológicas, genéticas, psíquicas (desenvolvimento da personalidade e vulnerabilidades pessoais), sociais (exigências do mundo e relações interpessoais) e ambientais. Neste sentido, a psiquiatra destaca a causa genética e o desequilíbrio de alguns neurotransmissores como as causas mais conhecidas.

Há uma maior predisposição e vulnerabilidade de desenvolver depressão em indivíduos com histórico familiar. Neurotransmissores como a serotonina, noradrenalina, dopamina e GABA também são responsáveis pelo surgimento da depressão. Existem, ainda, outras causas que podem desencadear a depressão. Veja quais são elas:

  • Disfunções hipotalâmicas/alterações hormonais
  • Alterações da estrutura cerebral
  • Uso abusivo de álcool e drogas
  • Privação do sono
  • Doenças crônicas
  • Eventos adversos/estresses emocionais
  • Traumas na infância

Vale destacar que, muitas vezes, duas ou mais causas “relacionam-se” entre elas e também com alguns fatores de risco.

Fatores de risco

As diferentes causas da depressão podem ser “alimentadas” com fatores de risco, como, por exemplo, os citados pela psiquiatra Georgiane:

  • Isolamento social
  • Abuso de substâncias (álcool, drogas, medicamentos)
  • Abandono e/ou tratamento irregular
  • Pensamentos negativos, de que nada adianta fazer, que não tem solução
  • Traumas e abusos na infância
  • Sedentarismo
  • Má alimentação
  • Sono de má qualidade

Vale reforçar que é impossível se falar em uma única causa para o surgimento da depressão, visto que ela geralmente resulta da combinação de uma série de fatores.

Diagnóstico

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Como a depressão é uma doença mental, destaca Georgiane, todo médico pode dar o diagnóstico. “Porém, é recomendado procurar o psiquiatra para fazer o diagnóstico e indicar o melhor tratamento”, diz.

“O diagnóstico é feito através da entrevista com o paciente e exame psíquico. Quando necessário, pode-se solicitar alguns exames para descartar patologias clínicas que possam parecer depressão”, explica a psiquiatra Georgiane.

Tratamento

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Mas, a depressão tem cura? A psicóloga Beatriz destaca que a depressão é uma doença crônica, ou seja, ela tem remissão dos sintomas, mas precisa ser acompanhada por psicólogos e psiquiatras.

Georgiane ressalta que a maioria dos transtornos depressivos evolui com melhora completa. “Porém, muitos fatores estão ligados para a melhora, recaídas ou cronicidade da doença, como a intensidade do quadro (leve, moderado ou grave), fatores psicossociais, presença de outros transtornos psiquiátricos ou doenças crônicas, traços da personalidade, uso de álcool ou drogas, entre outros”, acrescenta.

Beatriz explica que o tratamento da depressão é feito de forma medicamentosa e através da psicoterapia (a fim de mudar o comportamento depressivo e dar novas ferramentas para o indivíduo).

Os medicamentos, bem como a duração do tratamento, são indicados pelo médico psiquiatra levando em conta as particularidades de cada caso. E todas as orientações passadas pelos profissionais envolvidos no tratamento devem ser levadas muito a sério pelo paciente e pelos seus familiares, a fim de que esta condição grave seja tratada da melhor maneira possível.

Convivendo com a depressão

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Além do tratamento indicado pelo psiquiatra e da psicoterapia, conforme destaca Georgiane, existem outras medidas e atitudes que podem ajudar na depressão. São elas:

Alimentação saudável: alguns alimentos contendo triptofano, ômega-3, vitamina D, vitamina C, vitamina do complexo B, acido fólico, selênio, zinco, cálcio e magnésio ajudam a aumentar o nível de serotonina e melhorar a depressão. Exemplos são frutos do mar, peixes, banana, leite, laranja, maçã, abacate, mel, ovo, alface, brócolis, espinafre, soja, aveia, nozes, amêndoas, castanha-do-pará. “Também deve-se evitar alguns alimentos que alteram o sistema nervoso e pioram a depressão, como, por exemplo, o álcool, cafeína, adoçante artificial, açúcar refinado, óleo hidrogenado, alimentos ricos em sódio”, acrescenta Georgiane.

Mindfulness: emprega técnicas de meditação, com o foco na autopercepção, tornando conscientes às sensações e emoções.

Atividades físicas: como exercícios aeróbicos, pois liberam endorfina, a qual está ligada ao bem-estar.

Manter-se ativo: realizar alguma atividade voluntária, artesanal, de jardinagem etc. é interessante, pois disciplina e proatividade ajudam a melhorar a autoestima.

Acupuntura: terapia natural e alternativa que busca o equilíbrio do corpo e da mente e que pode ser muito útil também no caso da depressão.

Musicoterapia: técnica que, entre outros pontos, pode ajudar a pessoa a se reconectar com algumas sensações e sentimentos e, assim, tornar-se mais sensível ao tratamento.

Ter um animal: Georgiane destaca que os animais evitam a sensação de isolamento e produzem uma sensação de bem-estar para a pessoa.

A psicóloga Beatriz ressalta que é interessante que a pessoa pratique esportes para melhorar a sua dopamina e serotonina de forma natural; busque uma alimentação que promova o aumento de vitamina D e de serotonina; e que tenha uma rotina a ser seguida. “É válido que anote seus pensamentos negativos e acompanhe sua evolução com um diário”, diz.

“E, claro, é essencial o acompanhamento médico e psicológico. Nenhuma dessas atitudes complementares substituem o tratamento com estes profissionais, pois a depressão é uma doença grave e progressiva”, acrescenta a psicóloga.

Complicações

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Mas, por que a depressão é tão grave? Quais são, afinal, as possíveis complicações?

Beatriz responde que a evolução de outros transtornos (como ansiedade, síndrome do pânico) é uma das complicações, isso sem falar do suicídio, que naturalmente é a complicação mais grave associada à depressão.

Georgiane destaca como possíveis complicações e prejuízos associados à depressão:

  • Cronicidade dos sintomas da depressão (tristeza, irritabilidade, angústia, desmotivação, perda de energia e prazer, ideias de suicídio, comprometimento cognitivos)
  • Prejuízos no trabalho, na escola
  • Dificuldade nos relacionamentos interpessoais
  • Término de relacionamentos amorosos e conflitos familiares
  • Dificuldade de superar doenças graves
  • Uso de drogas e álcool
  • Danos cardiovasculares e cerebrais
  • Baixa do sistema imunológico, aumento dos processos inflamatórios

Tudo isso reforça que a depressão é uma condição médica séria, que deve sempre ser diagnóstica e tratada com profissionais adequados.

No que diz respeito aos familiares e amigos, é essencial que eles se informem sobre o quadro, apoiem o tratamento e nunca julguem inadequadamente o paciente.

Diferentemente do que muita gente acredita, depressão não é “simplesmente uma tristeza”, não “passa sozinha” e não é “frescura”. Exige tratamento médico, psicoterapia e até mesmo outras atitudes e/ou técnicas complementares. Todo ano ocorre o setembro amarelo, um mês de reflexão e prevenção a uma das conseqüências da depressão, porém, o cuidado com a saúde mental deve ser diário .

As informações contidas nesta página têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.

Jornalista formada em 2009 (58808/SP), redatora freelancer desde 2013, totalmente adepta ao home office. Comunicativa, sempre cheia de assuntos para conversar e inspiração para escrever. Responsável no trabalho e fora dele; dedicada aos compromissos e às pessoas com quem convive; apaixonada pela família, por cachorros, pelo lar, pelo mar, por momentos de tranquilidade e também de agito.