Dicas de Mulher
O empreendedorismo feminino colabora para construir uma sociedade justa, gerando oportunidades para mudar a vida das mulheres. Além disso, é uma forma de empoderamento feminino para aumentar a ocupação de cargos de liderança. A especialista em empreendedorismo e fundadora da Rede Fluida, Mariana Simões, falou sobre os desafios que a mulher enfrenta para se tornar dona do próprio negócio. Acompanhe!
O que é empreendedorismo feminino
Segundo Mariana Simões, quando se fala em empreendedorismo feminino, existem duas vertentes. A primeira são os empreendimentos fundados por mulheres, como exemplo, a escola feminista de negócios fundada e gerenciada pela especialista. Já a outra vertente, é o empreendedorismo feminino de empresas que não foram fundadas por mulheres, mas são lideradas por uma.
Qual é a importância do empreendedorismo feminino?
Mariana explica que o empreendedorismo feminino é importante não apenas para as mulheres, mas para a sociedade como um todo. Ela diz que quando elas comandam os negócios, os aspectos de construção e impactos são diferentes. A especialista argumenta que quando os negócios de mulheres prosperam, elas investem em educação e mentoria empreendedora. Dessa forma, os projetos geram impactos diretos na sociedade, aumentando a empregabilidade e gerando renda para mais pessoas.
Agora, para as mulheres no âmbito privado, a especialista diz que o empreendedorismo feminino tem uma série de consequências positivas. Uma delas é a possibilidade de gerar renda para mulheres responsáveis pelo sustento das suas famílias. Afinal, muitas delas não conseguem fazer isso no mercado corporativo.
“Por exemplo, mais da metade das mulheres que engravidam são demitidas até um ano e meio após a licença-maternidade. Além disso, o salário delas diminui e isso não acontece com os homens”, afirma a empreendedora. Na realidade, o movimento é inverso para eles. De acordo com o Global Gender Gap, os homens recebem aumento de salário quando se tornam pais. Enquanto o mercado entende que os homens precisam prover a família, as mulheres ainda são vistas como um problema, uma vez que são as principais cuidadoras e precisam se dedicar à criança.
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Para Mariana, o ambiente corporativo não é feito para mulheres, muito menos para mães, lactantes e puérperas porque gera várias incompatibilidades. “Então quando as mulheres colocam todas as suas habilidades e conhecimentos técnicos no empreendedorismo para gerar valor onde ela pode conciliar vida pessoal com trabalho, gera resultados diretos para elas”.
Qual é o objetivo do empreendedorismo feminino?
O empreendedorismo feminino, de acordo com a especialista, existe para criar métodos, processos e formatos de negócios que atendam às necessidades e desejos das mulheres. Ela diz que o empreendedorismo padrão foi desenhado e criado para os homens e seus objetivos. Além disso, até pouco tempo atrás, as mulheres não tinham direito a herança, a ter conta bancária e receber dinheiro em seus nomes.
Dessa forma, elas foram excluídas do mercado, da administração de empresas e construção de metodologias próprias. “Os processos e o conhecimento foram construídos sem ou com a participação tardia das mulheres”, então, o empreendedorismo feminino veio para resolver essas questões e inserir as mulheres em todos os aspectos dos negócios.
Características do empreendedorismo feminino
O empreendedorismo feminino possui características específicas que visam beneficiar mulheres no mercado de trabalho, vida pessoal e em seus negócios. A seguir, veja quais são:
- Gera renda e oportunidades para outras mulheres;
- Criado especificamente para atender às necessidades e desejos femininos;
- Constrói metodologias e processos pensando em futuras mães;
- Colabora para ascensão de mulheres em cargos de liderança;
- Possibilita a independência financeira de mulheres em situação de vulnerabilidade social.
Além disso, o empreendedorismo feminino é inovador, pois as mulheres são criativas e, constantemente, desenvolvem novas ideias. Elas buscam conhecimento de diferentes formas: por meio das redes sociais, palestras, livros, entre outros e procuram criar uma rede de apoio a negócios de outras mulheres.
Quais são os tipos de empreendedorismo feminino?
Existem três tipos de empreendedorismo feminino: os criados por necessidade, oportunidade e desejo. A seguir, Mariana dá detalhes sobre cada um:
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- Necessidade: “são mulheres que não queriam empreender, mas foram demitidas porque engravidaram ou envelheceram demais e não conseguem encontrar um trabalho CLT”, explica. Então, elas se habilitaram para construir renda para as suas famílias;
- Oportunidade: nesse caso, as mulheres não começaram as suas carreiras com o objetivo de empreender. Então, elas não se capacitam para isso, mas aproveitam oportunidades no mercado de trabalho que já atuam. “Por exemplo, podem abrir um escritório concorrente da empresa em que trabalham ou herdam um negócio”;
- Desejo: “as mulheres escolhem esse caminho, se formam e se capacitam para ter a própria empresa”. Porém, segundo a especialista, o empreendedorismo por desejo ou vocação não é tão comum no Brasil.
Mariana comenta que o empreendedorismo por necessidade “gera uma série de consequências, como baixa capacitação, muita informalidade, além de os negócios quebrarem cedo”. Esses fatores tornam o empreendedorismo feminino ainda mais complexo e desafiador.
Desafios do empreendedorismo feminino
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Um dos grandes desafios da mulher empreendedora é driblar o preconceito e ingressar em um mundo que sempre foi dominado por homens, mas as barreiras não param por aí. Confira abaixo outras dificuldades que essas mulheres enfrentam, mesmo após ocupar espaços que lhes foram negados:
Apoio e credibilidade
As mulheres sempre sofreram discriminação no mercado de trabalho e ainda encontram obstáculos para conquistar a igualdade de gênero no ambiente corporativo. Segundo o relatório Global Gender Gap Report 2020, as mulheres representam 38,8% no mercado de trabalho global, enquanto os homens 61,2%.
Quando se trata de empreender, elas também precisam provar para a família e pessoas próximas que são capazes de gerir o próprio negócio. “O primeiro desafio das mulheres é conquistar a credibilidade e apoio da família e, principalmente, dos companheiros. Eles são os que menos incentivam e apoiam as mulheres, pois acham que elas deveriam fazer algo mais seguro”, aponta Mariana.
Múltiplas jornadas
A especialista diz que o segundo maior desafio do empreendedorismo feminino é conciliar a carga da maternidade e do trabalho não remunerado em casa com as suas empresas. Segundo dados do IBGE, em 2019, 54,5% das mulheres acima de 15 anos se dedicaram aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas. Enquanto 73,7% dos homens se dividiram entre as tarefas de casa e o trabalho.
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“O cuidado com a casa e os filhos é desproporcionalmente maior para as mulheres. Então, elas precisam contar com uma rede de apoio para conseguir mais tempo para os negócios”. Além disso, geralmente, “as mulheres também são responsáveis pelas pessoas idosas e que adoecem na família”. Essa desigualdade na divisão de responsabilidades sobrecarrega essas mulheres.
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Capacitação adequada
Segundo Mariana, é muito importante encontrar capacitação, conteúdo e metodologias específicas para o empreendedorismo feminino. Isso porque o planejamento financeiro de uma empresa liderada por uma mulher precisa ser diferente.
Ela dá um exemplo: “os planos de engravidar precisam estar na estruturação do negócio, pois essa variável não é levantada em um planejamento tradicional, sendo vista como um problema”. Agora, com o empreendedorismo desenhado para as mulheres, estão sendo criados métodos e gerenciamentos que vão abarcar a complexidade de suas rotinas.
Recursos financeiros
As mulheres também enfrentam maior dificuldade em conseguir investimentos nos negócios. Apesar de os índices de inadimplência das mulheres serem mais baixos comparados aos homens, o maior desafio é conseguir recursos financeiros e capital de giro.
De acordo com a pesquisa de “Mapeamento de Negócios Femininos 2022”, realizada pela NOZ Inteligência, 63% das mulheres ouvidas com mais de 50 anos disseram ser difícil e desafiador captar esses recursos para empreender. Isso acontece, normalmente, devido às políticas de crédito e análise de perfil que empregam preconceito e pouca diversidade.
Embora as mulheres ainda enfrentam muitas barreiras, elas se destacam por investirem em conhecimento. A pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), de 2021, mostrou que 45% das mulheres já realizaram cursos de capacitação ou formação na área. Com isso, conseguem aumentar o faturamento dos seus negócios e torná-los sólidos.
O empreendedorismo feminino no Brasil
O empreendedorismo no Brasil aumentou consideravelmente com a pandemia da Covid-19. Conforme dados do LinkedIn, em 2020, os índices de mulheres empreendendo aumentaram 41% comparado aos homens que empreenderam no mesmo período. Isso aconteceu, principalmente, devido ao aumento do desemprego e a necessidade de sustentar a família.
Além disso, uma pesquisa da GEM (Global Entrepreneurship Monitor), mostrou que o Brasil ocupa o 7º lugar no ranking mundial de mulheres empreendedoras iniciantes. Mesmo com tantas dificuldades, o empreendedorismo se tornou uma ferramenta de transformação econômica, social e profissional no país. Ainda, está possibilitando que mulheres se fortaleçam e conquiste liberdade e autonomia financeira.
Mulheres empreendedoras que fazem a diferença
Cada vez mais mulheres estão quebrando esteriótipos, ultrapassando a linha do preconceito e enfrentando desafios para mostrar a sua capacidade nos negócios. Portanto, conheça algumas das mulheres que inspiram o empreendedorismo feminino:
1. Zica Assis
Zica Assis nasceu em uma comunidade na zona norte do Rio de Janeiro e, aos 9 anos, começou a trabalhar como babá e faxineira. Durante a adolescência sofreu muito preconceito por causa do seu cabelo crespo. Cansada de alisar os fios, ela passou 10 anos pesquisando uma fórmula para cuidar dos cabelos e, então, em 1993, fundou a primeira unidade do Instituto Beleza Natural. Hoje, são 29 unidades especializadas em cabelos cacheados, ondulados e crespos espalhadas pelo Brasil.
A empresária já foi eleita Empreendedora do Ano, na categoria Emerging, pela Ernst & Young, em 2006, além de outras premiações. Assim como outras mulheres, ela enfrentou dificuldades na carreira e declarou ser fundamental “buscar parcerias, conhecer o nicho de mercado que está atuando e focar no atendimento diferenciado”. Além disso, afirma ser preciso inovar sempre, reconhecer e aprender com os próprios erros.
2. Maitê Lourenço
Maitê Lourenço nasceu em São Paulo, cursou Psicologia e trabalhou na área de telemarketing e recrutamento. Em 2010, começou a sua trajetória empreendedora quando abriu uma empresa de elaboração de currículos. Mas sentiu que deveria criar ações relativas às necessidades da população negra.
Foi então que, em 2016, fundou a BlackRocks Startup, visando estimular o protagonismo de empreendedores negros em ambientes de inovação e tecnologia no ecossistema de startups. Ela declarou que não busca por mais representatividade e sim por proporcionalidade.
“Quantas pessoas negras estão na liderança e têm oportunidade de desenvolver inovação e ações que gerem impacto positivo? Precisamos de proporcionalidade na liderança, é nessa direção que devemos pensar em avançar”, compartilha.
3. Ana Fontes
Ana Lúcia Pedro Fontes nasceu no sertão de Alagoas e, apesar das dificuldades, se formou em Publicidade e Propaganda. Entretanto, após 18 anos no mundo corporativo, fez o pedido de demissão por não se identificar e não se sentir representada neste ambiente.
Durante esse período, foi muito discriminada por ser mulher, nordestina e de origem negra. Foi então que, em 2017, fundou a Rede Mulher Empreendedora (RME). A instituição promove mentorias, eventos e cursos intensivos para capacitar mulheres e estimular o protagonismo feminino no empreendedorismo.
“O empreendedorismo feminino é bem importante porque ajuda as mulheres a se desenvolverem e conseguirem gerar renda. Para nós, gerar renda ou a inclusão produtiva, é um fator fundamental para as mulheres, inclusive, para elas saírem de situações de violência.”
4. Mazé Lima
Nascida em um povoado há 7 km de Paiol, Minas Gerais, Mazé Lima trabalhava de faxineira, mas quando engravidou do segundo filho foi demitida após retornar da licença-maternidade. Com dois filhos para criar, teve que se reinventar e buscar alternativas. Então, em 1999, Mazé fez o primeiro tacho de doces, mas não entendia sobre negócios.
A empresária fez um curso na TV indicado pelo Sebrae e estudou diversos materiais sobre como montar uma fábrica de doces. Além disso, se especializou em frutas cristalizadas. A partir daí, em meio a erros e acertos, nasceu a Mazé Doces, mas o objetivo não era só ter o próprio negócio, mas gerar renda para outras pessoas.
“Eu lembro que eu fiz um juramento: eu criaria o meu emprego e muitos outros para minha cidade, eu fiz um tacho de doce e nas ruas ganhei R$ 20. Então percebi que iria mudar a minha vida e eu mudei mesmo”.
5. Déborah de Mari
Após se tornar executiva em grandes empresas, Déborah de Mari estava insatisfeita com o ambiente corporativo. Então surgiu o desejo de ser mãe, mas trabalhava 13 horas por dia e sabia que era desafiante ser executiva e ter filhos. Diante disso, se sentiu cansada, perdida e sem propósito.
Foi quando decidiu abandonar a carreira corporativa e descobriu que queria trabalhar com igualdade de gênero. Após realizar pesquisas sobre o assunto, em 2016, surgiu a ideia de criar o projeto “Força Meninas” – uma plataforma educativa que capacita meninas e desenvolve habilidades para a liderança. Por meio desse projeto, a empreendedora social já impactou cerca de 43 mil crianças e adolescentes.
Contudo, seu maior desejo é ver essa geração se tornando líderes, principalmente em áreas majoritariamente masculinas. “Sonho em ver essas garotas, que hoje ainda são crianças, superando desafios relacionados a gênero, tomando ações e papéis mais igualitários”.
O empreendedorismo feminino é fundamental para o crescimento de mulheres para que elas saiam de situações de violência doméstica. Com a liberdade financeira, elas podem reconstruir a autoconfiança e fazer as próprias escolhas.
Vídeos sobre empreendedorismo feminino
Para qualquer negócio dar certo é essencial ter orientações e planejamento. Então, é válido seguir dicas de mulheres empreendedoras e conhecer as suas histórias. Sendo assim, confira vídeos com lições importantes:
3 dicas de empreendedorismo feminino
Nesse vídeo, a empreendedora conta como começou a empreender e dá dicas para mulheres serem donas do próprio negócio. Ela também fala sobre a importância de desenvolver habilidades para ter alta performance no mercado corporativo. Assista!
5 passos para o empreendedorismo feminino
Ana Paula Guedes, fundadora do grupo Mulheres Empreendedoras Brasil, ensina os 5 principais passos para se tornar uma empreendedora bem-sucedida. Então se você pensa em ingressar nesse mundo, assista ao vídeo e acompanhe as orientações!
História para inspirar mulheres
Sarah Breedlove ou Madam C. J. Walker, como também era chamada, ficou conhecida por ser a primeira empreendedora negra milionária nos Estados Unidos. Nos anos 1900. ela desenvolveu uma linha de produtos capilares específicos para mulheres negras. Assista ao vídeo e conheça essa incrível história!
Apesar das inúmeras barreiras que as mulheres enfrentam, muitas se destacam pelo talento e determinação, mas é fundamental se capacitar antes de começar a empreender. Para isso, existem projetos de empreendedorismo feminino que dão suporte para facilitar a ascenção no mundo dos negócios!
Erika Balbino
Formada em Letras e pós-graduada em Jornalismo Digital. Apaixonada por livros, plantas e animais. Ama viajar e pesquisar sobre outras culturas. Escreve sobre diversos assuntos, especialmente sobre saúde, bem-estar, beleza e comportamento.
