COLUNA

Apoiar uma mulher que amamenta é um ato político!

Dicas de Mulher

Mulheres que amamentam precisam de apoio para exercer esse direito e, assim, preparar a criança para uma sociedade mais saudável e justa

O segundo semestre do ano é um período simbólico na luta pelo direito à alimentação adequada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) celebra o Agosto Dourado para simbolizar o reconhecimento do leite materno como padrão ouro de alimentação no início da vida e em dezesseis de outubro comemora-se o Dia Mundial da Alimentação. Não é a toa que o Agosto Dourado vem antes do Dia Mundial da Alimentação (16/10). Afinal, o primeiro contato do ser humano com a alimentação saudável ocorre com o leite materno.

Há inúmeras razões para a promoção do aleitamento materno, que deve ser exclusivo nos primeiros seis meses de vida e continuado por dois anos ou mais. Além dos benefícios nutricionais, o leite materno fortalece a imunidade, gera efeitos importantes na saúde da criança e da mãe e contribui para a inteligência, o maior vínculo mãe-filho e a segurança emocional da criança. Conforme atesta o Ministério da Saúde, no Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos, amamentar é muito mais do que alimentar uma criança; é também garantir afeto e cuidado.

Um estudo científico brasileiro publicado na ‘Revista Lancet’ observou os efeitos do aleitamento materno quando a criança se torna um adulto. Os pesquisadores demonstraram que crianças amamentadas tendem a apresentar maior escolaridade e maior renda quando adultas. Similarmente, crianças amamentadas e mães que amamentam apresentam menor risco de diversas doenças, beneficiando o sistema de saúde do país. Além disso, amamentar é ambientalmente sustentável, pois evita que a criança tome fórmulas lácteas, cuja produção consome água/energia, gera resíduos e polui o ambiente. Portanto, amamentar beneficia a economia do país, o planeta e toda a sociedade.

Apesar de todos os benefícios da amamentação, o Brasil está muito aquém da meta da OMS para 2030. Enquanto o desejado é termos 60% das crianças em aleitamento materno continuado no segundo ano de vida, o Brasil registrou prevalência em torno de 35% no último Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI). Isso significa que muitos esforços ainda são necessários para melhorar os padrões de aleitamento materno no país, com mais investimentos em políticas públicas.

É importante considerar que a mãe possui o direito de amamentar e a criança de ser amamentada! Além da revisão da legislação trabalhista de forma a garantir com que mulheres trabalhadoras consigam amamentar, é fundamental o acesso a mecanismos de proteção/ apoio e à informação. No entanto, nem sempre a mulher consegue exercer seu poder de decisão com sucesso. Em torno dessa mulher e dessa criança existe um pai, o(a) companheiro(a) da mãe, seus familiares, sua comunidade, colegas de trabalho, os equipamentos envolvidos no cuidado da criança (serviços de saúde e escolas), colegas de trabalho, o marketing da indústria de substitutos do leite materno, entre outros.

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A consolidação de uma rede de apoio é imprescindível para essa mulher conseguir superar os obstáculos vivenciados em sua rotina: o cansaço, as dúvidas e angústias, as possíveis dificuldades, as informações equivocadas, a dificuldade de conciliar a amamentação com o trabalho (fora e dentro de casa), as críticas e o julgamento da sociedade, e por aí vai. Na rede municipal de ensino de São Paulo, os Centros de Educação Infantil (CEI) são reconhecidos como equipamentos importantes na promoção do aleitamento materno. A campanha educativa CEI Amigo do Peito incentiva essas ações nos CEIs para garantir a manutenção da amamentação mesmo com a matrícula da criança.

Produzido naturalmente pelo corpo da mulher, o leite materno contém propriedades inexistentes nas fórmulas lácteas e nos leites modificados pela indústria. Portanto, a amamentação simboliza o poder que a mulher apresenta em nutrir, proteger e preparar uma criança para a sociedade. Apoia-la no exercício desse poder é uma das formas mais potentes de garantir uma sociedade mais justa, saudável e amorosa.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Nutricionista doutora em Ciências e defensora do Guia Alimentar para a População Brasileira. Adora cozinhar, explorar novas culturas alimentares e fazer conexões com a natureza e as pessoas.