
Kéren Paiva / Dicas de Mulher
Influencer fala sobre aceitação da pele acneica, autoestima, maquiagem e uso de filtros nas redes sociais

A pele acneica é uma das condições de pele que mais atinge pessoas no Brasil e no mundo. Já tendo sido considerada um problema de adolescentes, a acne atinge cerca de 16 milhões de brasileiras adultas, de acordo com informações compartilhadas no evento ‘Acne na mulher adulta: uma nova doença crônica’, da empresa farmacêutica Bayer.
A aparência da pele acneica é causa de aborrecimento e frustração para muitas mulheres, o que faz com que o mercado de tratamentos para acne tenha grande faturamento. O Brasil é o quinto país no ranking de compras de cosméticos anti-acne, de acordo com levantamento do Euromonitor, realizado em 2019.
O que levanta uma grande questão: por que esconder a pele com acne sendo que podemos aceitá-la? A influencer do movimento Pele Livre, Kéren Paiva, fala sobre a aceitação da pele natural no instagram, plataforma onde possui mais de 51 mil seguidores. Em conversa com o Dicas de Mulher relata seu processo de aceitação e o que a levou a produzir conteúdo sobre o assunto.
Um longo caminho para a aceitação

Kéren Paiva / Arquivo Pessoal
Moradora da região metropolitana de Belo Horizonte, da cidade de Contagem, Paiva é estudante de publicidade e propaganda e começou a ter acne logo no início da adolescência, aos 11 anos de idade.
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Ela compartilha que possui um histórico familiar da condição, “minha acne, inclusive, é mais resistente justamente por ter uma maior incidência genética! Meus pais tiveram acne, minha mãe até a fase adulta, e tive outros familiares com histórico de acne também”.
Isso não tornou o processo de aceitação fácil. Ela conta que “Foi um processo bem longo e abraçar a minha pele é uma realidade super recente pra mim. Foram muitos anos de ódio mesmo”.
Quando a condição começou a aparecer, por ainda ser muito nova, ela compartilha que não se importava tanto, no entanto “foi mais no ensino médio, já um pouco mais velha, que tive a fase mais difícil. Adolescência, a gente está se descobrindo, se inserindo no mundo, e com uma vontade e uma pressão muito grande pra se sentir aceita”.
Ela recorda que a pele acneica a afetou de diversas formas, tendo inclusive agravado sua timidez. “É muito simplista achar que é só uma questão de aparência. Eu me sentia feia, suja, descuidada, culpada, tive meu psicológico extremamente afetado, e com isso eu também me sentia incapaz de muitas coisas”, explica.
A acne também influenciava seus sonhos e metas profissionais “pra mim, trabalhar com beleza hoje é algo que me faz até engasgar quando vou contar, porque era muito inalcançável, não me achava capaz nem digna”.
O processo de aceitação e autoconhecimento ainda é recente, tendo sido iniciado por volta de 2016 e 2017, e se desenvolvido melhor em 2020. O que motivou o início desse processo foi ter tido “contato com o movimento Body Positive por meio da minha melhor amiga, Layla Brigido, que é uma mulher gorda! Vê-la falando sobre abraçar o próprio corpo, sobre se cuidar sim e que ter um corpo gordo não era sinônimo de descuido foi o que me fez começar a enxergar a minha pele e o processo dela”.
Paiva compartilha a importância dessas referências positivas: “É libertador ter boas referências, pessoas que te façam enxergar o melhor em você e que não reforce um estereótipo inalcançável!”.
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Durante todo esse processo, a influencer sempre recorreu a tratamentos para acne, que mantém até hoje “Ainda faço tratamentos tanto tópicos quanto orais, que me permitem ter a minha acne bem mais controlada, porém ainda não livre delas, por ser mais resistente e difícil de tratar”.
A importância de abraçar sua beleza natural
Entre filtros, imagens editadas e a falsa realidade criada, as redes sociais fazem parecer que é possível alcançar a pele perfeita, “então quando vemos algo assim, e então nós olhamos no espelho e percebemos que muito provavelmente a nossa realidade é bem distante daquilo, nos faz mal! Adoece!”, aponta Kéren Paiva.
Ela diz que toda essa edição virtual e manipulação de imagens nos leva “a não se reconhecer na própria pele, que é normal, humana e mutável”. A partir disso surge a urgência de aceitar o natural “porque essa é a nossa realidade e ela merece respeito, nós merecemos respeito e esse respeito precisa partir de nós”.
Nesse cenário, compartilhar conteúdos sobre a beleza natural na internet é uma forma de alcançar outras pessoas que estão passando pelo processo de aceitação, ou sofrendo com a pressão estética criada pela sociedade.
Kéren Paiva conta que o que a motivou a começar a produzir conteúdos nesse segmento foi ver uma postagem sobre o movimento de Skin Positivity que trazia “a foto de uma modelo maravilhosa com acne, me senti representada ali, mas quando fui ler os comentários vi pessoas horrorizadas, que não entenderam a real mensagem e motivo da importância em falar sobre aquilo”.
Esse contato lhe proporcionou sentimento de revolta e lhe deu motivação “para começar a compartilhar a minha história e as minhas vivências com a acne, com a esperança de encontrar pessoas passando pelo mesmo processo! Encontrei muitas mesmo, e me sinto muito orgulhosa da rede de apoio que criamos!”.
Os altos e baixos da exposição virtual

Kéren Paiva / Arquivo Pessoal
Mas nem tudo são flores quando se é produtora de conteúdo. Como os comentários negativos na foto da modelo com pele acneica que motivaram Kéren a produzir conteúdo, apesar dos resultados positivos, ela também recebe comentários negativos.
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“Definitivamente são altos e baixos, tem dias incríveis e dias que a vontade é de sair berrando com todos os comentários sem noção e de ódio que sim, eu recebo! Mas a parte positiva é infinitamente melhor!” compartilha ela, que se mantém positiva.
Compartilhar sua própria jornada de aceitação foi de grande importância para muitas mulheres que apresentam a mesma condição de pele “mas foi importante principalmente pra mim! Foi incrível falar sobre isso e ser ouvida e compreendida por pessoas com histórias parecidas com a minha, ou até mesmo pessoas que nunca passaram por isso mas que se abriram a ouvir e abraçaram a causa. É libertador, me sinto menos sozinha todos os dias!”.
O uso de filtros e maquiagens de alta cobertura
Kéren Paiva compartilha que é um processo difícil deixar filtros de lado, mas que “não é algo que eu faço hoje, não faço uso de filtros há muito tempo já e foi parte libertadora do processo também”. Apesar de sua opção, ela entende quem escolhe continuar usando artifícios como esses e não julga essa escolha.
“Acredito que devemos apontar o dedo para uma indústria que lucra com imagens mentirosas, que fazem com que a gente se sinta inadequada, insuficiente e que a gente viva numa busca infindável por uma perfeição que não existe, sabe? O dedo precisa ser apontado pra eles, e não pra quem é vítima de um sistema tão opressor”, defende a influencer.
Para outras mulheres que também são afetadas pela acne ela deixa um recado “precisamos entender que a acne é uma doença comum, multifatorial com múltiplas causas, e causas que muitas vezes estão fora do nosso controle. Não é culpa sua! Você se cuida sim, porque você merece cuidado, e faz parte desse cuidado que você se acolha nesse processo. Lidar com a acne já é difícil demais pra gente ainda colocar mais esse peso sobre nós!”
E o lembrete de que “Você é livre, você é linda sim, a acne não define você porque você é muito mais do que a sua pele! Estamos juntas!”

Victória Vischi
Jornalista e produtora de conteúdo. Fã de cultura POP com interesse em Estudos Culturais, tentando acumular o maior número possível de hobbies nas horas vagas.