COLUNA

Tão perto e tão longe: é possível trabalhar junto e manter um relacionamento saudável?

Dicas de Mulher

Dizem que "casal que trabalha junto cresce junto", mas meu dia a dia na clínica de psicologia e meu ouvido aguçado para os conflitos conjugais me levam a crer que, na prática, a coisa não funciona tão bem assim.

Todo mundo percebeu o quanto a pandemia e o convívio ininterrupto afetou os relacionamentos: enquanto alguns aproveitavam os momentos em casa para se aproximar e até aumentar a família (muitas crianças foram geradas na pandemia!), outros se davam conta de que o excesso da presença do cônjuge sufocava, os defeitos ficavam evidentes e alguns conflitos já não podiam ser ignorados. Foi uma época em que o isolamento com a família evidenciou o quanto o trabalho afeta a saúde de um relacionamento.

Hoje, com as mulheres mais ativas no mercado de trabalho, muitos casais optam por empreender, fazer crescer um negócio em família e até mesmo trabalhar em empresas diferentes, mas no mesmo lugar, em casa, na modalidade home office. Essa organização implica uma convivência diária, em que todos os momentos do dia, decisões, conflitos e vivências são compartilhados. Os dois acordam juntos, se arrumam juntos, tomam café juntos, vão pro trabalho juntos, almoçam juntos, voltam pro trabalho juntos, resolvem conflitos juntos, ganham (ou perdem) dinheiro juntos, voltam pra casa juntos, jantam juntos, dormem juntos. Sempre… juntos.

Se o entrosamento é bom, ótimo. Um apoia o outro, o diálogo faz crescer um time em que há mais vitórias do que decepções. Em outros casos, o convívio destroça a privacidade do casal, ambos se privam da vida social, perdem a paciência com as manias repetitivas do parceiro, sentem que a intimidade já não existe – e, é claro, isso vai desembocar na vida sexual.

Casais que trabalham juntos transam menos?

Essa não é uma regra. De fato, o convívio intenso pode dar aquela sensação de “enjoar” do outro, porque não dá espaço para a saudade. É ela, a falta, que alimenta o desejo e o tesão por quem amamos. É claro que há casais que driblam isso com muito talento e aproveitam até o fato de trabalharem juntos para dar aquela escapadinha no meio do expediente…! Mas a grande maioria deixa que os problemas profissionais atravessem a conexão amorosa e sexual, muitas vezes levados pelo cansaço de um dia inteiro de trabalho, dentro e fora de casa.

Mas o que trabalho tem a ver com sexo?

A energia que dispomos para viver é a mesma. Com ela, trabalhamos, nos divertimos, nos movimentamos, criamos e fazemos sexo. Quando essa energia está totalmente direcionada ao trabalho, com certeza ela vai faltar em outra área da nossa vida. Trabalhar com o parceiro pode evidenciar ainda mais esse esvaziamento da tensão sexual entre o casal, se ambos se dedicam intensamente à carreira.

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Então estar “sempre juntos” é perigoso para meu relacionamento?

Primeiro, é impossível viver “sempre junto”. Por mais que duas pessoas estejam a todo tempo no mesmo espaço físico, cada uma tem sua vida íntima, seus próprios pensamentos, desejos, fantasias e questões. Também há casais que vivem à distância e conseguem manter um relacionamento saudável, porque preferem manter suas vidas e trabalhos separadamente.

O mais perigoso para uma relação não é o tempo em que um está na presença do outro, mas como isso é manejado e como o diálogo possibilita uma separação do que é trabalho e do que é vida pessoal.

Se você planeja trabalhar com seu parceiro, tenha em mente que trabalho e vida íntima são coisas distintas, que em muitos dias vocês podem enjoar da presença um do outro, mas que a administração deste conflito é fundamental. E é claro que manter uma vida sexual ativa é o ingrediente secreto para que a intimidade nunca caia na rotina!

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Psicanalista e Palestrante, graduada em Psicologia e em Letras, com Mestrado e Doutorado em Linguística e Pós-Graduada em Sexualidade Humana. Dedica sua carreira ao desenvolvimento de mulheres líderes no trabalho, nos relacionamentos e na vida. É autora do livro "A linguagem da loucura" e empresária, ama comunicação, esportes, viagens e celebrações.