Bem-estar

Como a internet pode ser um espaço coletivo mais acolhedor e humano?

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Daniela Arrais, sócia da Contente, fala sobre projetos da empresa e dá dicas para uma boa relação com a internet

Atualizado em 04.10.23

O uso da internet se intensificou nos últimos anos, sobretudo com o surgimento de diversas redes sociais. Muitos usuários a utilizam para entretenimento, mas também para estreitar laços com outras pessoas, acompanhar notícias e preencher o tempo livre. A internet pode ser importante ferramenta de comunicação, interação e também auxiliar crianças e adolescentes no aprendizado.

Mas, em alguns casos, o mundo virtual pode gerar isolamento social, prejudicar relações familiares e o contato com o mundo externo e real. Pensando nisso, a jornalista Daniela Arrais e a publicitária Luiza Voll, criaram a Contente – uma empresa que desenvolve projetos com o objetivo de fazer da internet um espaço coletivo, acolhedor e mais humano.

Arrais e Voll se conheceram por meio de seus blogs, e se tornaram amigas ao descobrirem a paixão em comum pela internet e a vontade de ampliar esse espaço. Então, em 2010, nasceu a Contente, que se tornou sucesso ao postar conteúdos que impactam positivamente na vida das pessoas.

O Dicas de Mulher conversou com Daniela Arrais sobre os projetos da empresa. Além disso, a jornalista também dá dicas para manter uma relação saudável com a internet. Não perca!

Contente e projetos

Daniela Arrais, sócia-fundadora da Contente

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Daniela Arrais conta que o “objetivo sempre foi devolver um pouco do tanto que a internet nos deu”. Ela acredita que a internet pode ser um “lugar de expressão genuína, de autenticidade, de criatividade, esse espaço que qualquer pessoa pode colocar sua história, suas ideias, seus projetos e formar uma comunidade em torno disso”.

O perfil da Contente no Instagram conta com mais de 338 mil seguidores e também está presente no Facebook, LinkedIn, Telegram e Twitter. A empresa também criou o Instamission – um projeto que revolucionou as relações com as redes sociais por meio de imagens. A ideia era propor missões fotográficas para os participantes postarem fotos utilizando a hashtag da tarefa.

A jornada do Instamission foi encerrada depois de quase 10 anos de sucesso, engajando pessoas com mais de 365 missões, dezenas de jornadas e números impressionantes. Atualmente, a Contente tem o podcast “Querida Internet”, criado para refletir sobre as emoções e saúde mental online. Além disso, já contou com a participações de nomes incríveis em lives, como Alok, Juliette Freire, Saquinho de lixo e Te amar.

Daniela convida todos para conhecer outro projeto da Contente em parceria com a SaferNet e Vita Alere. O projeto propõe refletir sobre o bem-estar online para transformar essa reflexão em ação. Os conteúdos já abordaram temas como consumo, conexões, comparação e tempo na internet.

O impacto da internet nas relações e sociedade

A internet impacta na vida pessoal e social, na relação com o trabalho e as emoções. Com o avanço tecnológico, o smartphone se tornou o centro das atenções, mesmo quando amigos e familiares estão reunidos socialmente. Entretanto, esse hábito pode afetar as relações pessoais e sociais, gerando isolamento.

Daniela comenta que a pandemia reforçou ainda mais o distanciamento entre as pessoas “porque a gente acha que está ali no WhatsApp”. Para ela é “muito difícil conversar com alguém e concorrer com todas as distrações, memes e notícias impactantes” que a internet traz.

No entanto, se recorda de uma frase da filósofa Simone Weil, que diz: a atenção “é a forma mais rara e pura de generosidade”. Daniela complementa dizendo que se “estamos com outra pessoa e ela está ali presente, aquilo nos faz bem. Então que a gente seja essa pessoa para outras pessoas também”.

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As redes sociais se tornaram um lugar de interação, exposição de opiniões, mas também de julgamentos e discursos de ódio. Com isso, muitas pessoas tem experiências negativas na internet e não sabem lidar com os famosos ‘haters’ – o que pode gerar impactos na saúde mental.

Sobre isso, a jornalista diz ter pouca experiência, pois se comunica de uma forma que inclua as pessoas em geral. Mas comenta que já recebeu “alguns comentários atravessados na Contente, e quando a gente respondia e explicava, a pessoa já falava assim: “caramba, obrigada por me explicar.”

Para Daniela, “muitas vezes o que pode ser lido como hater é quase um pedido de atenção, e um comentário mais ofensivo tem quase um pedido de ajuda”. Assim, ela diz ser importante “ter paciência para entender que a nossa presença na internet é uma construção e que nem sempre será só flores. Mas se a gente tiver paciência para conversar, a gente vai mais longe”, aponta.

Além disso, a sócia da Contente, comenta que o Brasil é um dos países que mais passatempo nas redes sociais. “Isso tem um impacto, a gente fica nesse lugar e acha que a nossa vida não é tão interessante, acha que o outro que está arrasando, a gente acha muitas coisas. Então isso pode abalar a nossa autoestima.”

Como ter uma relação saudável com a internet?

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Se usada conscientemente, a internet pode ser extremamente positiva, unir pessoas, agregar conhecimento, abordar temas importantes e contribuir para o trabalho de diversos profissionais. Contudo, o mundo on-line é bem mais amplo e pode gerar dependência. Assim, é preciso promover o bem-estar e transformar esse espaço em um lugar seguro e positivo. Arrais dá duas dicas imprescindíveis para ter um bom relacionamento com a internet:

Refletir sobre a internet e o tempo on-line

Para a jornalista, é importante pensar, falar e refletir sobre a internet, e levar essa conversa para a mesa de bar. “Se a gente conseguir olhar para essa relação e dizer: “caramba, tem questões aqui, como é que eu posso resolver?”

Daniela também acha positivo criar conteúdo de valor “porque quando você começa a criar conteúdo na internet, você entende muito mais sobre ela.” Além disso, ela aconselha “entender mais sobre curadoria, o que você consome ou deixa de consumir, e o que você escolhe ver naquele feed”.

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Muitas vezes, os conteúdos podem mexer com o emocional da pessoa e gerar diversos gatilhos, então é importante filtrar o que vê e administrar o seu tempo on-line. Sobre isso, Daniela aconselha: “olhe para você e para o seu tempo com atenção para não ser completamente distraído pela internet”.

Orientar crianças e adolescentes

Outra questão que deve ser discutida é a relação de crianças e adolescentes com a internet, e como incentivá-los a usar a tecnologia de forma benéfica. Segundo Daniela, falar sobre isso é um grande desafio. Os adolescentes passam muito tempo em frente às telas e pode impactar até mesmo no ensino escolar. “Como uma escola concorre com a internet que te dá toda a informação e toda a distração do mundo?”, questiona Daniela.

Mas sugere “convidar essas crianças e adolescentes para entenderem melhor como a internet funciona, porque quando eles entram ali numa rede social X, eles acabam se comparando.” Então dialogar com eles sobre a internet e redes sociais, é fundamental para terem informações e conseguirem navegar de forma saudável e consciente. A jornalista pontua ser “um trabalho importantíssimo de se fazer e quanto antes.”

No mundo atual, seja em qualquer fase da vida, a internet está presente no trabalho, estudos e relações humanas. Essa tecnologia também deu espaço para abordar temas importantes, como racismo, lugar de fala, feminismo, questões LGBTQIA+, entre outros. O mundo virtual pode ter alguns aspectos negativos, mas pode ser uma ferramenta para dar voz às pessoas envolvidas nessas questões e para outras se sentirem abraçadas e acolhidas.

Formada em Letras e pós-graduada em Jornalismo Digital. Apaixonada por livros, plantas e animais. Ama viajar e pesquisar sobre outras culturas. Escreve sobre diversos assuntos, especialmente sobre saúde, bem-estar, beleza e comportamento.