Bem-estar

Desapego: a liberdade de deixar ir o que te aprisiona

Dicas de Mulher

Atualizado em 28.09.23

O desapego é um tema que desperta cada vez mais interesse na sociedade atual. A prática pode ser muito libertadora e trazer inúmeros benefícios ao bem-estar emocional e à saúde mental, auxiliando tanto em suas relações quanto no seu estilo de vida. A psicóloga clínica, Rebeka Santos, fala sobre o conceito e como aplicá-lo no dia a dia.

O que quer dizer desapego ou ser desapegada?

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Muitas vezes, o desapego é essencial para o desenvolvimento de uma boa autoestima. Segundo Rebeka, o conceito está relacionado à “capacidade de abrir mão de coisas, pessoas, sentimentos e ideias que não fazem bem para dar espaço ao novo e ao positivo”.

A psicóloga explica que, “em determinados momentos das nossas vidas, algumas coisas e pessoas despertam o nosso interesse devido ao sentimento de bem-estar, conforto, amor e cuidado”, consequentemente, desenvolvemos o apego. Entretanto, os afetos, “nem sempre estão relacionados às coisas externas, mas, sim, a nós mesmo”.

Nesse sentido, é importante desconstruir o estereótipo da pessoa desapegada – “que geralmente entendemos como uma postura cruel, egoísta e fria”. O desapego não está relacionado à falta de empatia e afeto, mas, sim, à capacidade de “discernir e valorizar o que é importante na vida”.

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O ato de se desprender de algo ou de alguém também está relacionado à capacidade de lidar com as mudanças, incertezas e frustrações, além de saber se colocar em primeiro lugar, ter amor-próprio e entender que “as vivências acontecem em fases e que ciclos precisam ser encerrados”.

Tipos de apego

O apego está presente nas mais diversas áreas da vida humana e possui diferentes formas de manifestação. Ele permeia as relações com outras pessoas, objetos, experiências, ideais e padrões. Desse modo, pode ocasionar impactos positivos ou negativos. Abaixo, conheça as características dos principais tipos:

  • Apego emocional: o tipo mais conhecido de apego está relacionado às emoções e pode ser confundido com o amor. Ocorre quando “todos os afetos e sentimentos positivos são depositados em uma pessoa, gerando o falso sentimento de segurança e desencadeando uma dependência emocional”. Entretanto, “quando ocorre algo que não corresponde às expectativas da pessoa apegada, ela pode sentir uma grande tristeza, angústia e frustração”, abalando sua saúde mental.
  • Apego material: esse tipo de apego diz respeito à necessidade de “uma busca constante por dinheiro, status e bens materiais”. A busca pode ocorrer pelo desejo de segurança pessoal e financeira, porém, em alguns casos, “está atrelada a uma idealização de afeto”, ou seja, a pessoa só se sente amada e querida se tiver o que oferecer.
  • Apego aos ideais e expectativas: “acontece quando esperamos, de forma inflexível, que pessoas ou situações supram as nossas expectativas e ideais”. Quando isso não ocorre, “a pessoa apegada tem uma grande dificuldade para lidar com os conflitos emergentes”. Ela está tão apegada as próprias emoções que não consegue lidar emocionalmente com adversidades.
  • Apego ao passado: “a pessoa está tão enraizada às situações passadas que tem grande dificuldade em viver coisas novas e passar por mudanças”. Uma das características desse tipo de apego é acumular muitas coisas antigas.

A profissional ressalta que os tipos de apego citados acima não fazem parte da teoria do apego, criada pelo psicanalista, John Bowlby. “Para esse teórico, o apego é dividido em outros quatro tipos: o apego seguro, o apego evitante, o apego ambivalente e o apego desorganizado, que terão outros significados e análises”, esclarece.

Como praticar o desapego

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Antes de tudo, é preciso compreender que praticar o desapego é um processo gradual e individual. Cada pessoa estabelecerá o apego por algo ou alguém a partir de sua subjetividade. Contudo, algumas dicas de ouro podem te ajudar a desenvolver a inteligencia emocional nesse processo. Abaixo, veja o que a psicóloga diz sobre o assunto:

Exercite seu autoconhecimento

Se você deseja constituir a sua autonomia e desenvolver o desapego, a primeira coisa a fazer é “exercitar seu autoconhecimento para entender o valor das relações, coisas e situações na sua vida”. Além disso, Rebeka afirma que a autoconsciência é o caminho para enxergar onde e como você está depositando o seu apego.

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Questione-se sobre o sentimento de apego

Com o autoconhecimento, possivelmente, questionamentos aparecerão. Na verdade, eles são necessários para você “refletir sobre os impactos positivos e negativos que o apego tem em sua vida”. Assim, vale se perguntar: qual o significado do apego para mim? O que ele acrescenta em minhas vivências? Como eu me sinto em relação ao desapego?

Trabalhe suas emoções

O apego está diretamente atrelado às emoções, portanto é fundamental trabalhar o emocional para desconstruí-lo. De acordo com a psicóloga, “entender as próprias emoções, em um processo de desapego, é necessário para saber como manter o equilíbrio emocional”. Exatamente por isso, o autoconhecimento e os questionamentos precisam ser praticados: “quando eu sei como eu me sinto, quais as minhas emoções, em relação a algo que sou apegada, consigo pensar com mais clareza em como me desvencilhar disso”.

Procure acompanhamento psicoterapêutico

“A psicoterapia tem um papel importante no processo de desapego, pois fará a pessoa compreender quem ela pode ser sem esse sentimento de aprisionamento”, afirma Rebeka. O processo terapêutico tem o objetivo de desenvolver o autoconhecimento e trabalhar a individualidade, fortalecendo o sentimento de autoconfiança, independência e autossuficiência, consequentemente, ajudará a pessoa a olhar para suas relações, situações e coisas.

Simplifique suas vivências

O apego pode trazer complicações para as relações pessoais. Segundo a especialista, é de extrema importância começar a simplificar as vivências e despressurizar as emoções. “Simplificar as vivências é, primeiro, entender o apego e suas demandas para agir com menos intensidade, permitindo que tudo aconteça com mais naturalidade e liberdade”.

O desapego é um processo transformador, um convite para abrir novos espaços e se reconhecer como alguém que se ama e se sente livre com a passagem de cada ciclo. Porém, para colocá-lo em prática, é preciso muita maturidade emocional, bem como olhar para si e para as relações com carinho.

Psicóloga apaixonada por literatura e psicanálise. Acredita que as palavras, escritas ou faladas, têm o poder de transformar.