Sociedade

Capacitismo: evite o preconceito e promova a inclusão

Dicas de Mulher

Atualizado em 04.10.23
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O empoderamento feminino é para quem? Em teoria, para todas as mulheres. No entanto, a verdade é quem nem sempre ele sai de uma bolha cercada pelo capacitismo e preconceito estrutural. A socióloga Emilly Menezes Franco fala sobre as dificuldades e violências sofridas por pessoas com deficiência nos mais diversos espaços sociais. Acompanhe a matéria!

O que é o capacitismo?

De acordo com Emilly, “capacitismo é toda e qualquer forma de discriminação direcionada às pessoas com deficiência (PCDs), suas condições ou características”, generalizando-as como incapazes ou inferiores. Ele pode se apresentar de maneira “institucional e estrutural, nos ambientes onde não existem alternativas de acessibilidade”.

A maioria dos espaços sociais é pensado para um corpo sem deficiência. Assim, a exclusão está presente desde a infância, na escola, nos estabelecimentos públicos, até a vida adulta, por exemplo, na dificuldade de conseguir um emprego. Segundo a socióloga, a falta de debate sobre capacitismo perpetua discriminações conscientes e inconscientes.

Por que combater o capacitismo é importante?

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Para Emilly, “o ponto central do debate é que possuir qualquer tipo de deficiência não deveria ser motivo de exclusão ou discriminação”. Cada existência é única e diferente, portanto, “deveríamos nos preocupar em acatar a diversidade ao pensar na convivência em comunidade”.

No entanto, não adianta ter um discurso inclusivo se você não o coloca em prática. Os espaços públicos e privados precisam de adaptações para atender pessoas com diversas condições físicas, motoras e intelectuais. A acessibilidade linguística é um ponto importante em teatros, apresentações, palestras etc. Como pontua a socióloga, “estamos apenas evidenciando que a vida precisa ser pensada a partir da coletividade e da diferença, ou seja, para todos e por todos”.

Preconceito estrutural e capacitismo

Embora, a inclusão esteja longe de ser uma realidade para todos, o debate sobre capacitismo está cada vez mais em evidência. De acordo com a socióloga, com a popularização das redes sociais, as demandas das pessoas com deficiência físicas, bem como assuntos relacionados à neurodiversidade chegaram aos grandes públicos.

Nas palavras da especialista: “tanto as pautas são impulsionadas com mais rapidez, por conta do fenômeno “viral” que a internet potencializou, quanto as pessoas se dispuseram a falar sobre o assunto, pois, diferentemente de outros meios tradicionais de comunicação, como a televisão e o rádio, a internet é muito mais democrática”.

6 expressões capacitistas para excluir do seu vocabulário

O cotidiano está repleto de capacitismo, entretanto nem sempre ele é percebido como tal. Em conversas informais, rodas de amigos e ambiente de trabalho, o preconceito se manifesta, principalmente (mas não só), por meio da linguagem. Abaixo, confira expressões que devem sair do seu vocabulário!

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Frase capacitista: deixa de ser retardado.

Substituir por: deixa de ser ignorante.

A palavra retardado é um adjetivo que significa ‘demorado’ ou ‘vagaroso’. O vocabulário foi muito usado por uma concepção médica ultrapassada para caracterizar pessoas com Síndrome de Down ou deficiência intelectual. No senso comum, ganhou uma conotação negativa que reforça esteriótipos falsos e preconceituosos.

Frase capacitista: não temos braço para isso.

Frase correta: não temos pessoas suficientes na equipe.

O capacitismo presume, erroneamente, que uma pessoa com deficiência é limitada. Na expressão “falta um braço”, está subentendido que é preciso ter os dois membros para ser um indivíduo completo ou suficiente.

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Frase capacitista: dar uma mancada.

Frase correta: faltar com o compromisso.

Ao usar a expressão “dar uma mancada” para se referir a alguém que faltou com compromisso é equiparar a deficiência ao erro. Por esse motivo, diga que a pessoa pisou na bola, errou feio etc.

Frase capacitista: está cego/surdo?

Frase correta: você prestou atenção no que eu disse?

Dizer que alguém está cego/surdo é capacitismo porque usa a deficiência como sinônimo de falta de atenção, demostrando desprezo pelas pessoas com deficiência.

Frase capacitista: dar uma de João sem braço.

Frase correta: fugir da responsabilidade.

A deficiência está longe de ser um comportamento ou caráter. Dizer que alguém é um João sem braço, pois se fez de desentendido, é um juízo de valor, ou seja, preconceito.

Além das frases acima, muitas pessoas usam expressões preconceituosas como se fossem elogios, por exemplo, “Nossa, você nem parece PcD”. Esse comentário é capacitistas, sim, pois reforça um estereótipo físico e comportamental da pessoa com deficiência.

10 influenciadoras com deficiência para seguir no Instagram

Influenciadoras trazem à tona discussões sobre capacitismo e preconceito. Além de fortalecerem um ambiente virtual de reconhecimento e identificação, militam pela inclusão digital (por exemplo, a importância dos vídeos legendados), e produzem conteúdos informativos para todos os públicos. Conheça 10 mulheres com deficiência para seguir nas redes sociais:

1. Jess Fontoura

Jess tem baixa visão e é formada em cinema. Em seu Instagram, compartilha um pouco do seu dia a dia. O início de 2022 marcou o começo de um grande sonho – fazer intercâmbio sozinha. Ela relata em um post: “hoje eu embarco para os 3 meses mais desafiadores e aguardados desde meus 13 anos. Hoje eu embarco pra mostrar como uma pessoa com deficiência visual pode sim ser independente, estar sozinha em outro país se profissionalizando e sonhando cada vez mais pra conquistar tudo que quiser!!!”

2. Fernanda Binato

Fernanda compartilha seu estilo de vida nas redes sociais, além de falar sobre sua trajetória na luta contra o câncer e resiliência após a amputação. Ela quer mostrar às pessoas com deficiência e aos pacientes com câncer, ou que venceram o câncer, como viver com mais naturalidade.

3. Zannandra Fernandez

Zannandra é estudante, modelo, criadora de conteúdo e ativista PCD. No Instagram, ela fala sobre seu processo de autoconhecimento e aceitação da sua deficiência. Sobre a sua primeira tatuagem, que traz a palavra “CADEIRANTE”, a influenciadora conta: “essa foi a minha primeira tatuagem e tinha que ser sobre algo que fosse simbólico e importante pra mim. Ser uma mulher cadeirante me fez ser a Zannandra que sou hoje. E tenho orgulho de ser ela. Sempre que tenho uma oportunidade, reafirmo, cadeira de rodas é LIBERDADE”.

4. Edênia Garcia

Edênia é nadadora tetracampeã mundial de natação paralímpica. Além de treinar e competir, ministra palestras sobre diversidade, inclusão, empoderamento feminino, capacitismo, motivação e ativismo LGBTQIA+.

5. Kellen Ferreira

Kellen foi uma das vítimas da tragédia da Boate Kiss. Ela teve 18% do corpo queimado e o pé direito amputado. Atualmente, trabalha como terapeuta ocupacional e compartilha conteúdo informativo em seu Instagram, além de contar sua história de vida.

6. Vanessa de Oliveira

Vanessa é criadora de conteúdo e ativista em prol de pessoas com deficiência e LGBTQIA+. Em uma de suas postagens, apresenta fotos de quando era criança e sofria com a exclusão no ambiente escolar. Na legenda, ela escreve: “às vezes, a gente transforma a dor em conteúdo para que as pessoas não reproduzam mais esse tipo de absurdo”.

7. Marina Melo

Marina tem fraqueza muscular (AME II). Nas redes sociais, ela compartilha sua trajetória e tutoriais de maquiagem. Em um vídeo, ela aparece pintando uma tela e conta: “todos os médicos e fisioterapeutas sempre me falaram que eu tinha que tá me exercitando, mas achava que era ficar sempre fazendo fisioterapia, com o tempo, arrumei uma forma de movimentar, desafiar meu corpo e me divertir!”

8. Lelê Martins

Lelê é blogueira e PCD. Ela usa uma prótese na perna esquerda. Em seu Instagram, compartilha conteúdo sobre moda e reflexões, tudo com muito humor.

9. Bianca

Nas redes sociais, Bianca compartilha seu dia a dia e conteúdo sobre sua profissão. Em um post, ela relata: “eu não sou SÓ autista, mas a internet acha que sim. E eu me afastei e parei de me expor e dar minha cara a tapa por isso, perdi e sugaram minha identidade total, virei a menina autista. Mas eu sou a Bianca filha, a Bianca amiga, a Bianca irmã, a Bianca namorada, a Bianca rabugenta, a Bianca feliz, a Bianca espontânea, e o autismo tá, sim, comigo em todas elas, mas não é só sobre isso, não é tudo em torno disso. E a internet faz parecer que sim, me resumir a isso. E não sou, não é só sobre isso”.

10. Paula Antonini

Paola é atriz e influenciadora. No Instagram, ela compartilha sua vida e sua recente atuação na série “Todo dia a mesma noite”, da Netflix. Também é criadora de uma ação social que arrecada fundos para ajudar na reabilitação de pessoas com deficiência física.

Inclusão social não deveria ser pauta, deveria ser realidade. Entretanto, enquanto essa luta caminha de pouquinho e pouquinho, faça a sua parte. Entenda como políticas públicas, feminismo e mulheres PCDS são assuntos interligados em busca de uma sociedade menos capacitista.

Professora de Língua Portuguesa por formação e redatora apaixonada pela arte de se expressar a partir das palavras. Encontra na escrita a possibilidade de aprender sobre diferentes assuntos ao escrever para seus leitores.