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Sexismo: o que é, como reconhecer e combater esse preconceito

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Atualizado em 12.07.22
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O sexismo é um assunto que tem ganhado notoriedade em debates sociais, políticos e econômicos com o movimento feminista nos últimos anos e as redes sociais têm desempenhado um papel importante na abordagem dessa questão. Embora bastante debatido, seu conceito ainda é um pouco deturpado por aí. Confira nosso guia definitivo sobre sexismo, quais são as suas consequências e como combatê-lo.

O que é sexismo?

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O sexismo nada mais é do que a discriminação de gênero, ou seja, o preconceito que se tem por alguém simplesmente por conta de seu gênero. Em nossa sociedade, o machismo é o maior expoente do preconceito de gênero.

Na sociedade machista, por exemplo, a desigualdade entre os gêneros é visível desde a infância dos indivíduos, quando meninas são introduzidas à vida doméstica e materna por meio de brinquedos como bonecas e utensílios de cozinha, enquanto meninos são incentivados a serem jogadores de futebol, astronautas e cientistas.

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Com essa visível desigualdade entre os gêneros, o sexismo continua se apresentando em todas as esferas e fases da vida de uma pessoa, com reflexos diretos na sociedade.

Sociedade sexista

A sociedade em que vivemos é sexista e naturaliza atos de preconceito de gênero. Muitos desses atos são realizados de forma passiva, sem que a pessoa perceba o teor sexista presente nessa ação.

Alguns desses atos sexistas presentes em nossa sociedade podem ser percebidos ao colocarmos um olhar mais crítico sobre eles e, consequentemente, perceberemos que eles acontecem de forma rotineira e com pessoas bem próximas.

Um dos exemplos de que vivemos em uma sociedade sexista é quando falamos sobre a diferença salarial entre homens e mulheres. Talvez, você se pergunte se essa distinção é real, mas garantimos que sim!

Para confirmar essa informação, uma pesquisa realizada pela American Association of University Women (AAUW) demonstra que, em nenhum lugar do mundo as mulheres ganham mais que os homens, mesmo com formação acadêmica e experiência profissional superiores. Dessa maneira, ao refletirmos mais sobre esses dados, percebemos que o mercado de trabalho no qual estamos inseridas traz um sexismo institucionalizado.

Outro exemplo de sexismo presente na nossa sociedade é quando as instituições perpetuam estereótipos que ignoram as escolhas pessoais de cada um, como quando uma escola infantil solicita aos pais materiais de cor azul para uma criança do gênero masculino.

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As crenças sexistas são endossadas pela nossa sociedade há séculos e refletem em diversas situações que vão desde a criação de um filho até a empregabilidade feminina no mercado de trabalho. Nossa sociedade perpetua o sexismo por gerações.

Comportamentos sexistas

Os comportamentos sexistas são baseados na discriminação de gêneros. Eles são repetidos por homens e mulheres sem que essas pessoas percebam e contribuem para o reforço do sexismo na nossa sociedade.

Esses comportamentos podem ser identificados como machismo, femismo ou, até mesmo, transfobia e LGBTQfobia. Eles estão presentes em diversos âmbitos das nossas vidas, como no trabalho, em casa, com os amigos ou em relacionamentos. Ainda é possível identificar comportamentos sexistas em programas de TV, novelas, filmes e muito mais.

Alguns comportamentos sexistas são conhecidos como sexismo benevolente. Eles fazem parte dos nossos hábitos e são considerados naturais. Um exemplo desse comportamento sexista benevolente é quando o homem puxa a cadeira para a mulher se sentar em um restaurante ou paga a conta em um jantar. São hábitos considerados pela sociedade como inocentes e que beneficiam a mulher.

Porém, esses comportamentos são enraizados de preconceito de gênero. Ao pensarmos criticamente, observamos que o garçom, na maioria das vezes, entrega a conta diretamente ao homem, assumindo que ele se responsabilizará pelo pagamento dela.

São comportamentos considerados normais, mas que representam os estereótipos presentes em uma sociedade sexista.

Relações sexistas

O sexismo está presente também nas relações. Sejam elas amorosas ou não, é possível identificar discriminação de gênero em algumas dessas relações. Alguns hábitos se perpetuam e acabam por prejudicar a saúde delas.

Em um relacionamento amoroso baseado no sexismo, é possível identificar a imposição de um dos parceiros, sendo a pessoa que controla a relação. Um exemplo disso é quando o homem não realiza tarefas domésticas por acreditar que a mulher é melhor em realizar esse trabalho.

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Nas relações familiares, também é possível identificar atitudes sexistas como a diferenciação na criação dos filhos. Os meninos são criados de uma maneira e as meninas de outra. É comum identificar famílias que não ensinam os homens a contribuir com os afazeres domésticos, por exemplo, atribuindo essa tarefa para as mulheres, desde a infância.

Opiniões de quem entende do assunto

O sexismo tem sido uma pauta bastante comentada nas redes sociais. Influenciadoras estão trazendo cada vez mais esse assunto para torná-lo conhecido. Por isso, preparamos uma lista de vídeos de youtubers que explicam o que é sexismo e trouxeram diversas informações sobre o tema.

O que é sexismo? Conheça esse e outros termos:

Neste vídeo, Aline Paes, do canal “Não Me Poupe”, fala um pouco sobre os termos que têm gerado polêmica nos últimos anos. Ela explica de forma clara e concisa o que é sexismo, feminismo, misoginia e feminicídio. É um vídeo bastante didático e fácil de ser entendido. Vale muito a pena assistir!

Como não criar filhos machistas

Já neste vídeo, o assunto abordado é como criar o seu filho de forma não sexista. O canal Soltos, no YouTube, conta com a participação de Babi Thomaz para falar sobre como a sociedade incentiva a criação no modelo binário, na qual existem brinquedos rosas para meninas e azul para os meninos.

O sexismo contra as mulheres negras

O vídeo fala sobre como o índice de feminicídio contra mulheres negras aumentou nos últimos anos. Além disso, o vídeo explica um pouco sobre a ausência da mulher negra no mercado de trabalho e a falta de oportunidades oferecidas a elas. Ainda abordam a questão do preconceito contra as mulheres negras lésbicas e trans.

O sexismo presente em várias situações: até no cinema!

O cinema é considerado um meio bastante sexista. Nos últimos anos, atrizes como Meryl Streep utilizaram sua voz para criticar o machismo presente na indústria cinematográfica. Para deixar ainda mais claro, o vídeo acima aborda como o cinema pode ser sexista através de personagens, nomeações a prêmios e muito mais.

Essa seleção de vídeos vai fazer você ter uma visão bem clara sobre o que é o sexismo e onde ele pode ser notado.

13 situações sexistas que acontecem no nosso dia a dia

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Quase todas nós já vivenciamos situações sexistas em nossa rotina. Seja no trabalho, com os amigos, em casa ou na rua, é possível identificar algumas situações em que o preconceito de gênero esteja presente.

Para exemplificar, vamos ilustrar 13 situações sexistas que acontecem em nosso dia a dia. Algumas delas passam despercebidas e são consideradas naturais, como falamos acima. Confira:

Linguagem sexista

Dentro da nossa língua portuguesa, encontramos a presença do sexismo através de alguns detalhes. Ao nos referirmos a um termo geral, utilizamos o artigo masculino. Por exemplo, ao falarmos sobre uma mulher e um homem que trabalham com arquitetura, falamos “os arquitetos”. Mesmo que seja um grupo no qual a maioria das pessoas são mulheres, o artigo masculino é utilizado para se referir a todos e todas.

É nesse contexto que a linguagem pode ser considerada sexista, já que generaliza os gêneros em um só, o gênero masculino.

Educação e socialização sexistas

A educação é o ato de oferecer formação e desenvolvimento para o ser humano nos âmbitos físico, intelectual e moral. Já a socialização é a introdução do ser humano em um coletivo para que ele adquira hábitos e crenças comuns. Tanto a educação como a socialização podem ser consideradas sexistas, pois perpetuam alguns valores que excluem ou enaltecem determinado gênero.

Para exemplificar, vamos falar sobre a educação escolar. De forma sutil, a separação de atividades esportivas entre os gêneros traz uma carga sexista em si. Tornou-se natural separar as atividades entre meninos e meninas.

Já no caso da socialização sexista, os papéis sociais baseiam-se em uma dualidade entre os gêneros que foi estabelecida através de séculos. Nessa socialização sexista, é possível identificar algumas situações, como “mulher nasceu para ser mãe”, mesmo que não seja de sua vontade.

Licença Paternidade x Licença Maternidade

É claro que a mulher precisa de um tempo estendido após ter um bebê, já que na maioria das vezes ela precisa se recuperar do parto e também amamentar o bebê. Mas as diferenças param por aí (e se o bebê não mamar no peito, as diferenças acabam ainda antes). Já parou pra pensar nos porquês de a licença-paternidade não acompanhar a licença das mães? Por que será que, pra sociedade, os pais são provedores da família e não podem participar dos primeiros cuidados da criança?

Percebe-se o sexismo de forma mais latente quando pesquisas mostram que muitas mulheres deixam o seu trabalho para se dedicar exclusivamente à criação de seus filhos, enquanto os homens, em sua maioria, restringem-se a ajudar na criação ou apenas sustentar o lar.

Banheiros binários

Essa questão ainda é bastante delicada e divide opiniões. Os banheiros binários são os banheiros separados para os gêneros feminino e masculino, esquecendo a diversidade de gêneros que existe.

A polarização entre homem e mulher deixa implícito que outros gêneros não são bem-vindos, excluindo a possibilidade de escolha na hora de utilizar o banheiro.

Mercado de trabalho

O mercado de trabalho ainda é bastante sexista, principalmente machista. Traz em si uma gama de situações que corroboram para a desvalorização do trabalho da mulher.

As mulheres brasileiras recebem cerca de 30% a menos que os homens no mercado de trabalho. Mesmo com maior experiência e mais estudos, a mulher ainda não conquistou a equiparação salarial. Dessa maneira, percebe-se que ainda há uma grande presença da discriminação de gênero no mercado de trabalho.

Divisão do trabalho doméstico

A divisão do trabalho doméstico no Brasil ainda é muito desigual. Na maior parte dos lares, as mulheres são responsáveis pela maior parte dos cuidados da casa. Uma pesquisa do IBGE mostra que as mulheres realizam 10 horas a mais de trabalho doméstico do que os homens.

Porém, é importante ressaltar que essa sobrecarga de trabalho doméstico para a mulher é fruto de séculos de sexismo e que os homens acabam por refletir esse comportamento sem ter a ciência de que é prejudicial.

Mansplaining

As palavras em inglês “man” (homem) e “explaining” (explicando) juntas formam o termo mansplaining. Esse termo representa a forma como os homens tendem a explicar para as mulheres algo óbvio e que, muitas vezes, elas já têm conhecimento sobre.

Um exemplo dessa situação é quando um homem tenta explicar para você, mulher, sobre aborto ou menstruação, dois assuntos pertencentes ao universo feminino. Eles explicam como se você não soubesse do que se trata, dando uma pequena aula sobre o assunto.

Manterrupting

Manterrupting significa “homem interrompendo”. O termo é utilizado para situações onde o homem interrompe a fala de uma mulher. A mulher tem sua fala cortada para que um homem possa falar ou, às vezes, praticar o mansplaining.

Maternidade

Uma situação na qual encontramos grande presença do sexismo é quando falamos em maternidade. Existe uma pressão social para que a mulher, em algum momento da vida, se torne mãe. Essa pressão é fruto de uma sociedade patriarcal, baseada no sexismo que reforça a dualidade de gêneros, no qual a mulher é destinada a reproduzir.

Liberdade sexual

Uma situação sexista bastante comum diz respeito à liberdade sexual. A dualidade de gêneros tende a julgar alguns comportamentos como corretos ou não para cada gênero.

Para exemplificar, basta lembrar das vezes em que uma mulher é julgada por ter o mesmo comportamento sexual que um homem. A liberdade sexual que os homens têm é bem maior que a das mulheres.

Publicidade sexista

Você já viu uma propaganda de cerveja onde a mulher aparece mais do que a própria cerveja? Essas propagandas sempre tiveram o seu contexto voltado para o corpo das mulheres, muitas vezes, comparando o corpo delas a uma cerveja.

Esse é um exemplo de publicidade sexista que reforça estereótipos e crenças que enriquecem o sexismo em nossa sociedade.

Segurança

Sentir-se insegura em algum lugar ou situação é uma das grandes características da sociedade sexista. Muitas mulheres se sentem completamente ameaçados ao andar na rua simplesmente por serem mulheres.

Esse medo é reforçado pelos dados. O Brasil é o 5º país no ranking de mortes violentas de mulheres e o país onde mais se assassina homossexuais no mundo, demonstrando que o sexismo pode tomar proporções ameaçadoras.

Cultura do estupro

A cultura do estupro é fruto de uma sociedade sexista na qual o patriarcado tem bastante poder. Ao falarmos em cultura do estupro estamos nos referindo à socialização na qual os homens estão inseridos. Essa socialização é baseada na dominação do homem sobre a mulher. Nela, é possível identificar músicas, filmes, textos, vídeos e outros recursos que podem ter relações com o estupro.

Dentro dessa mesma socialização, encontra-se a culpabilização da vítima. Nossa sociedade em sua maioria, homens e mulheres, busca justificar o ato do estupro distribuindo julgamentos às vítimas. Ao tentar trazer a responsabilidade para a vítima por conta da sua roupa ou do seu comportamento, estamos refletindo e reforçando o comportamento sexista.

Caminhos para combater o sexismo

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Existem alguns caminhos para combater o sexismo. São atitudes que contribuem para um mundo mais igualitário e justo. Essas atitudes podem ser adotadas em casa, no trabalho e na rua, já outras devem ser tomadas por instituições, escolas e empresas.

Educação não sexista

Esse talvez seja o passo mais importante para alcançarmos uma sociedade não sexista. Educar nossas crianças em busca da igualdade é essencial.

Os pais e professores precisam estar cientes dos seus papéis na educação e socialização das crianças. É preciso ofertar uma educação que não seja baseada nos estereótipos e que valorize a individualidade do ser humano.

Assim, se continuarmos educando nossas crianças baseando-se na cultura sexista, não conseguiremos alcançar a igualdade entre os gêneros e perpetuaremos o preconceito e discriminação.

Democratização do mercado de trabalho

O caminho para combater o sexismo no meio profissional é buscar políticas salariais justas e igualitárias que respeitem a formação acadêmica e experiência profissional de cada colaborador. É oferecer oportunidades iguais à diversidade de gêneros, prezando sempre pelo respeito com colegas de trabalho e compreender a importância de cada um dentro da organização.

Promover liderança de mulheres em empresas

Um dos caminhos para alcançar uma sociedade livre de preconceito de gênero é dar maiores oportunidades para as mulheres. Muitas mulheres não conseguem chegar ao cargo de liderança por conta da cultura sexista que está presente em muitas empresas. Por isso, promover mulheres para a liderança é uma das grandes atitudes adotadas por empresas para desenvolver um mercado de trabalho mais igualitário e justo.

Repreender comportamentos sexistas

Essa atitude é bastante simples e pode ser adotada por qualquer pessoa em sua rotina. Repreender comportamentos sexistas consiste em corrigir algumas falas de amigos e conhecidos e chamar a atenção de alguém que esteja fazendo uma piada sexista, por exemplo.

É possível, também, repreender esses comportamentos de forma mais passiva, divulgando conteúdos, vídeos e perfis que falam sobre movimentos que buscam a igualdade de gêneros. Compartilhar conteúdos desse tipo pode ser uma ótima ferramenta para ajudar no despertar de muitas pessoas.

Como você viu, hábitos sexistas podem estar presentes em nosso dia a dia, na escola, no trabalho, na rua e até mesmo em casa.

Porém, é possível mudar a sociedade através de pequenos atos. Ao fazer sua parte, você poderá contribuir para uma sociedade menos sexista e mais justa.

Publicitária pela UFC, especialista em Propaganda e Marketing e em Produção de Conteúdo. Apaixonada por futebol, séries e pelo meu Nordeste!