Bem-estar

Frustração: como lidar com a quebra de expectativas?

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Atualizado em 29.09.23

Sabe a chateação e o desânimo que aparecem quando algo não sai como você esperava? O nome dessa combinação de sentimentos é frustração e, apesar de ser comum, ela pode atrabalhar muito a vida de uma pessoa. O Dicas de Mulher conversou com a doutora em psicologia, formada pela Universidade Federal Fluminense, Maria Clara Fernandes, para entender o assunto!

O que é o sentimento de frustração?

De acordo com Maria Clara, a frustração é um sentimento natural e emerge “como uma resposta emocional a uma expectativa criada que não foi atendida”. Também engloba outros sentimentos, como impotência, revolta e insatisfação. Ainda, possui dois aspectos distintos: interno e externo. “A frustração interna é aquela que desenvolvemos a partir das nossas ambições pessoais não cumpridas”. Já a frustração externa surge de “situações que não dependem de nós, mas que, ainda assim, desejamos ou acreditamos ter algum controle”.

A psicóloga explica que a frustração pode ser confundida com um quadro permanente de tristeza. No primeiro caso, a pessoa pode, sim, ficar triste, sentir raiva, desânimo, impotência, ansiedade, insônia e falta de apetite. No segundo caso, “a pessoa produz pensamentos e imagens negativas sobre si, consequentemente, desenvolve um transtorno depressivo”.

Por que ficamos frustrados?

Maria Clara afirma que “a frustração parte do sentimento de incerteza e insegurança que experimentamos ao longo da vida”. Quando uma pessoa anseia por algo, ela cria expectativas, idealizações e cenários para concretizar seu desejo. No entanto, “nada que fazemos possui um selo de garantia de que dará certo imediatamente. Desse modo, a partir do nosso desejo de controle das situações, experienciamos a frustração”.

Sob o ponto de vista teórico da psicanálise, o sentimento de frustração está relacionado às vivências do narcisismo primário na infância – “a criança acredita que o mundo gira ao seu redor”. Claramente, esse pensamento é deixado de lado com o amadurecimento, porém, “é comum que, em alguns momentos, a partir das fragilidades que possamos estar vivenciando, a gente recorra a esse território infantil”, ou seja, não consiga lidar com a quebra de expectativa e se frustre.

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Consequências do sentimento de frustração

O sentimento de frustração pode afetar diretamente as mais diversas áreas da vida, justamente devido ao sofrimento emocional ocasionado pelos sentimentos secundários de fracasso, desânimo, tristeza, raiva etc. Abaixo, a especialista lista as principais consequências:

  • Excesso de controle: sabendo que a frustração é ocasionada quando as coisas não saem como o esperado, as pessoas que a vivenciam intensamente podem desenvolver um comportamento inflexível em relação ao controle da situação. Por exemplo, se “afastam de situações, que não foram calculadas ou pensadas por elas, para não terem que lidar com a frustração e com a falta de controle”.
  • Comportamentos evitativos: por conta do medo do sentimento de frustração e do sofrimento emocional causado por ele, algumas pessoas desenvolvem comportamentos evitativos, ou seja, “se negam a experienciar uma situação por medo da decepção”. Tal comportamento pode afetar suas relações pessoais e profissionais, além de suas conquistas individuais.
  • Comportamentos compensatórios: ocorrem na tentativa de sanar a dor emocional causada pelo sentimento de frustração. “É quando a pessoa, com o intuito de suprir a frustração de algo que não ocorreu como ela queria, começa a compensar o sentimento de tristeza com algo, por exemplo, comprar em excesso”.
  • Sentimento recorrente de impotência: devido à falta de controle em situações frustrantes, a pessoa pode desenvolver um sentimento frequente de impotência, consequentemente, ela se enxerga como incapaz de alcançar os próprios objetivos e sente que “não terá êxito em suas investidas”. Isso impacta diretamente em sua autoestima e autoconfiança.

Embora essas sejam as consequências mais comuns, a psicóloga ressalta que é necessário levar em consideração a subjetividade do ser, uma vez que “cada pessoa desenvolve maneiras diferentes de lidar com a frustração, o que dependerá da história de vida de cada um”, inclusive como aprendeu a lidar com as emoções.

Como lidar com a frustração

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O sentimento de frustração, de fato, incomoda muito. Segundo a especialista, ele “pode te levar para um caminho de crenças limitadoras sobre si”, mas, ainda assim, é um sentimento que precisa ser sentido, compreendido e validado. Portanto, acompanhe as orientações para enfrentar a frustração com inteligencia emocional:

  • Não se culpe: a culpa é inerente de várias vivências humanas, e a quebra de expectativas é algo que pode despertá-la. Nesse caso, ela surge “como um recurso para justificar o que aconteceu diante de algo que não transcorreu como o pensado”. Além disso, a profissional ressalta que o sentimento de culpa pode incluir tristeza, auto-ódio e autopiedade, “no entanto, é preciso lembrar que situações fogem do nosso controle”.
  • Não se conforme com a situação: a frustração faz a pessoa sentir que não é capaz de conquistar o que almeja. Por isso, Maria Clara explica que é preciso se dar um tempo “para elaborar o ocorrido e sentir suas tristezas, mas tente não formar um pensamento cristalizado sobre isso”.
  • Não se isole: quando algo frustrante acontece, é comum a pessoa querer se isolar. Apesar de ser necessário ter um tempo sozinha para refletir sobre o ocorrido, a profissional ressalta que “é imprescindível estar ao redor de pessoas que te lembrem do seu potencial e de pessoas que efetivamente te ajudem a pensar em estratégias”.
  • Faça uma autoanálise: “a autoanálise é crucial depois de uma situação frustrante experimentada”. Isso porque, uma compreensão profunda do que aconteceu pode te fazer refletir sobre o sentimento. Pense “se o contexto era favorável para tanta idealização, se deveria ter pedido ajuda etc”.
  • Acolha a frustração: é importantíssimo permitir que o sentimento de frustração seja validado para, então, elaborá-lo e deixá-lo ir. “Acolha as suas emoções, não tente sufocar ou reprimir os sentimentos advindos da frustração. Quando fingimos que nada aconteceu, o sentimento ruim continua”. Sem resolver o sentimento, a tendência é continuar repetindo-o e causando ainda mais sofrimento emocional.
  • Ressignifique o sentimento: “ressignificar corresponde a dar outras interpretações para o ocorrido, que saiam do campo da culpabilização de si e do outro, enxergando-o como um aprendizado sobre si, limites e inventividade”. Apenas assim, é possível combater o sentimento de incapacidade e a ideia de fracasso gerados por uma quebra de expectativas.
  • Busque ajuda profissional: caso você sinta extrema dificuldade em lidar com situações frustrantes e perceba que isso tem impactado negativamente suas emoções e vivências, é importante buscar a ajuda de um “profissional de psicologia capacitado, que te ajude a entender um pouco mais sobre como esse processo se desenvolve em você”.

Em sua observação final, a psicóloga chama a atenção para um cenário moderno em que as pessoas estão deixando de criar expectativas. “Os discursos atuais remetem a uma sociedade que vem encontrando dificuldade de lidar com a frustração e, por isso, tenta se poupar de viver”.

Lidar com as frustrações é difícil, porém, necessário. Por isso, confira também a matéria sobre maturidade emocional, uma peça fundamental para lidar com o estresse e o cansaço mental que surgem diante da quebra de expectativa!

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As informações contidas nesta página têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.

Psicóloga apaixonada por literatura e psicanálise. Acredita que as palavras, escritas ou faladas, têm o poder de transformar.