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O envelhecimento humano é incontestável, contudo, alguns mitos sobre a terceira idade causam impactos negativos na vida das pessoas mais velhas. Para compreender melhor o etarismo, os “pré” conceitos relacionados ao idoso e como desconstruí-los, as psicólogas Rebeka Nascimento dos Santos (CRP 05/58097) e Lillian Furlan de Melo (CRP 08/28301) explicam sobre esse tema tão relevante. Confira!
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Etarismo, ageísmo ou idadismo são traduções para o termo em inglês “ageism”, criado pelo médico psiquiatra Robert Neil Butler para definir o preconceito baseado na idade. Ou seja, trata-se da discriminação etária contra pessoas ou grupos.
Segundo a psicóloga Rebeka, etarismo diz respeito “à imagem estereotipada dos idosos e discriminação contra as pessoas mais velhas”. A profissional explica que o conceito abrange todas as formas de preconceitos que envolvem o envelhecimento, a visão equivocada que há em torno da terceira idade.
Por sua vez, a psicóloga Lilian afirma que “se pode entender por etarismo ações negativas relacionadas à idade de uma forma geral, no entanto a prática mais comum evidenciada é contra a pessoa idosa”.
Rebeka conta ainda que “existe uma visão discriminatória em relação ao idoso, que o enxerga como um indivíduo de cabelos brancos, dificuldade para caminhar, problemas de saúde e capacidade produtiva reduzida”. Consequentemente, esse estereótipo acaba segregando a população idosa das demais pessoas.
Outra questão relevante a ser colocada em pauta são impactos causados a mulheres pela discriminação etária. “Obviamente o etarismo atinge homens e mulheres, mas, infelizmente, por questões já conhecidas em relação a gênero e a padrões de beleza, o peso do preconceito para o público feminino parecer ser ainda maior, segundo pesquisas”, afirma a psicóloga Rebeka.
Ambas as profissionais ressaltam a necessidade de quebrar esse estereótipo, reforçando sua desconstrução, visto que “gênero, raça, religião, cultura, classe social ou idade não definem um indivíduo”, como afirma Rebeka.
O preconceito etário acontece de diversas formas. Afinal, como dito anteriormente pelas psicólogas, existe uma crença deturpada em relação ao envelhecimento que segrega e limita as pessoas mais velhas. Os casos de discriminação a seguir exemplificam como o etarismo pode acontecer e levantam reflexões importantes acerca do tema.
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Apesar de ambos os casos serem de pessoas famosas, não se engane. O etarismo acontece constantemente no cotidiano de pessoas comuns: em casa, no mercado de trabalho ou em locais públicos. No vídeo abaixo, Gilda, Sonia e Helena, do canal “Avós da Razão”, comentam sobre episódios em que sofreram com esse tipo de preconceito. Confira:
A discriminação etária gera impactos relevantes na vida das pessoas mais velhas. Agora que você já sabe o que é etarismo e como ele se manifesta na prática, entenda melhor sobre as causas e as consequências desse preconceito no próximo tópico.
Como se sabe, qualquer tipo de preconceito gera impactos na vida das vítimas e, com o etarismo, não é diferente. Veja, a seguir, o que as psicólogas pontuaram sobre as causas e as consequências relacionadas ao preconceito etário.
A forma como é vista a existência humana e como experienciamos a vida, além dos avanços diários das diversas áreas de conhecimento, contaminam os conceitos relacionados ao envelhecimento. Lilian e Rebeka explicam isso, ressaltando algumas das principais causas do etarismo. Veja abaixo:
Como se sabe, toda causa tem uma consequência. Os impactos gerados na vida das pessoas mais velhas, por conta do preconceito, resultam em consequências que também foram abordadas pelas psicólogas. Confira:
Ambas as profissionais pontuam que é preciso haver uma transformação na forma como a sociedade enxerga o envelhecimento. “Quando falamos de diversidade, não estamos falando apenas para esta ou aquela minoria. Estamos falando sobre todos aqueles que vivem o preconceito diariamente e são afetados por ele, e isso inclui os idosos”, afirma Rebeka.
Segundo diversas pesquisas, o crescimento da população idosa no Brasil aumenta mais rapidamente a cada dia. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, afirma que, em cerca de alguns anos, o Brasil será o sexto país com maior número de pessoas acima dos 60 anos. Contudo, ao passo que a população idosa aumenta, os investimentos sociais para essa população parecem estagnar.
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De acordo com Lilian, “no Brasil, não ocorre investimento em nenhum campo considerável para se construir uma sociedade em que a maioria será envelhecida”. A psicóloga aponta ainda outra pesquisa, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que afirma que, em 2060, cerca de 25% da população brasileira será composta por idosos.
A psicóloga Rebeka também ressalta que, apesar das leis prescritas no Estatuto do Idoso, a população geral parece desconhecer seus direitos e deveres em relação ao assunto, o que acaba reforçando ainda mais o preconceito etário.
“Faz-se necessária a disseminação de informação sobre o envelhecimento, métodos de inclusão para essa população, uma desconstrução social dos estigmas da velhice e, com certeza, mais fiscalização e punição diante de atos preconceituosos”, afirma a profissional.
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Ambas as profissionais afirmam que a discriminação contra o idoso é crime e possui punição. Conforme o artigo 96 do Estatuto do Idoso, prescrito sob a lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, a discriminação mediante a idade, com atos de humilhação, desdém, menosprezo, intimidação ou impedimento e dificultação do acesso a operações bancárias, meio de transporte, entre outras coisas, constitui-se como crime com pena de reclusão de 6 meses a 1 ano e multa.
Rebeka ressalta ainda que, “para denunciar, a vítima ou demais pessoas que presenciarem os atos discriminatórios podem entrar em contato com os conselhos municipais do idoso de cada município ou realizar um boletim de ocorrência”. Além disso, para mais informações e esclarecimentos de dúvidas, também é válido entrar em contato com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da região onde você se encontra.
É possível que, no dia a dia, você já tenha usado alguma das frases a seguir sem perceber o conteúdo discriminatório e estereotipado que elas carregam. Confira e fique atenta para não continuar reproduzindo discursos etaristas:
É preciso compreender que o envelhecimento não é um estigma ou uma doutrina. Envelhecer não significa perder seu propósito de vida ou ter que deixar de ser quem você sempre foi. É um acontecimento natural e merece ser vivido da melhor forma, desconstruindo tabus. Para isso, que tal dar um “chega pra lá” na autoestima baixa e fortalecer sua autoconfiança e seu amor-próprio?
Psicóloga apaixonada por literatura e psicanálise. Acredita que as palavras, escritas ou faladas, têm o poder de transformar.