Ser transgênero: a identidade vai além do sexo biológico

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Estar por dentro da pluralidade das existências diz respeito à informação sobre indivíduos dignos de espaço e lugar de fala. Assim, compreender o que é uma pessoa transgênero vai muito além de se identificar como uma. Para entender sobre o assunto, veja o que as especialistas Nath Suel e Lívia Rodrigues compartilham.

O que significa ser transgênero?

De acordo com Lívia Rodrigues, pesquisadora em gênero e graduada em Gestão de Políticas Públicas, “uma pessoa transgênero não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer”. Para entender sobre isso, é importante assumir que há diferenças entre o gênero e o sexo, pois a sociedade espera papéis a partir da genitália. Por exemplo, as pessoas cobram que alguém performe feminilidade quando possui uma vagina.

“Assim, o cisgênero se identifica com o gênero e sexo que nasceu, já o transgênero não”, informa. Por esse motivo, uma pessoa transgênero existe em resistência a esse modelo de existência, transcendendo o sexo que lhe é denominado biologicamente e se identificando com o gênero que faz jus a sua identidade.

A bandeira transgênero

Em 1999, a bandeira transgênero foi confeccionada pela artista transexual norte-americana Monica Helms e exibiu essa arte política pela primeira vez em 2000. Nas suas cores, a bandeira carrega o azul, o rosa-claro e uma faixa branca. O azul é a cor tradicionalmente designada para meninos, enquanto o rosa é designado para meninas. Já o branco simboliza a transição, incluindo o intersexo, gênero neutro ou indefinido.

Diferença entre cisgênero e transgênero

Basicamente, se trata de uma questão de identidade de gênero. Os cisgêneros se identificam com o gênero designado pelo seu sexo biológico. Enquanto isso, os transgênero não se identificam com o gênero atribuído por sua genitália. A palavra ‘trans’ significa ‘além de, para além de’, pois essas pessoas vão além de sexo biológico.

É válido destacar que a identidade de gênero não se limita apenas a isso, pois existe também pessoas não-binárias. Nath Suel, estudante de psicologia e pessoa transgênero, relata que “precisou ir além da binaridade para se entender na transexualidade”.

Por que ser transgênero não significa ser drag queen?

Drag queen se trata de uma performance temporária, conectada a uma atuação artística que não necessariamente tem ligação com a orientação sexual. Se trata de incorporar traços associados à feminilidade para uma interpretação. Assim, uma drag queen pode se identificar como homem e ser cisgênero. Ser transgênero vai além da performance, pois é mais voltada para a identificação.

Como se identificar como transgênero?

Para responder isso, Nath Suel traz sua vivência como uma transgênero no processo de autoidentificação. A princípio, a estudante estabelece que este foi o seu trajeto pessoal, mas que cada indivíduo é único e possui jornadas diferentes.

“Nem sempre eu entendi dessa forma, mas eu sempre fui”, inicia. Suel relata que foi necessário passar pelo processo de psicoterapia para compreender sua identidade, pois nunca se encaixou em categorias binárias de gênero. Assim, o primeiro passo é se libertar da ideia de ter que pertencer às categorias ‘feminino ou masculino’.

A partir desse ponto, é interessante estudar esses conceitos, pois mais do que nomenclaturas, “têm a ver com pertencimento”. Diante disso, é importante ter uma dose de autoconhecimento e saiba reconhecer para além dos padrões pré-estabelecidos pela sociedade.

Existe forma certa de se referir a uma pessoa transgênero?

Sim, existe o pronome certo para cada pessoa, mas isso é determinado por cada indivíduo. Para isso, Suel indica que “pergunte ‘como você gostaria de ser chamado?’ ou ‘quais os seus pronomes?’, pois só cabe ao próprio indivíduo responder isso. Suel vivencia diariamente essa questão, “gosto de me apresentar dizendo quais são os meus pronomes e também pergunto o seus pronome das outras pessoas. Dessa forma, conseguimos desnaturalizar que as pessoas são cis e tem os pronomes correspondentes aos que designaram a ela”.

A sociedade costuma carregar um preconceito estrutural, na qual é comum associar características a gêneros. “Não é porque você ‘parece mulher’ que necessariamente é. Não existe isso de ‘parecer mulher’, existe um padrão de feminilidade e beleza e as pessoas utilizam isso como parâmetro”, explica Suel.

Rodrigues também contribui, “é importante lembrar que a pessoa transgênero deve ser chamada pelo nome que escolheu usar, e não pelo nome anterior que tinha. Além disso, evite perguntar o nome anterior”. Não é fácil se desvincular do preconceito estrutural, mas a especialista também sugere “se desculpar, se você cometer algum erro quanto ao tratamento do pronome ou do gênero. Depois disso, se corrija e procure formas para que isso não aconteça de novo”.

Famosas transgênero para conhecer e admirar

Diversos famosos dão voz à resistência contra a cisnormatividade a partir de sua própria vivência e identidade de gênero. Conheça alguns deles:

Liniker

Liniker é a primeira artista transgênero brasileira a vencer um Grammy Latino. Além de cantora, a artista também é atriz e participou da série ‘Manhãs de Setembro’. Seu processo de transição começou aos 19 anos e também foi complexa, pois ela enfrentou preconceito enquanto ganhava espaço na carreira musical. Atualmente, a artista usa sua influência para falar sobre o assunto e inspirar seus diversos seguidores.

Elliot Page

Elliot atuou em ‘The Umbrella Academy’, no qual seu personagem também transicionou. O ator assumiu sua identidade de gênero recentemente e abre portas para essa discussão na indústria cinematográfica. Além disso, foi o primeiro trans a aparecer na capa da revista Time, em março de 2021. Com muito orgulho, Page anunciou que daqui para frente irá lutar por uma sociedade mais amorosa e igualitária, pois estava sofrendo fisicamente por não assumir sua verdadeira identidade.

Laura Jane Grace

A cantora de rock assumiu sua transição de gênero em 2012. De lá para cá, lançou músicas ao lado de Miley Cyrus e de Joan Jett para arrecadar fundos em apoio a LGBTQIA+. Ainda, fez um álbum com sua banda ‘Against Me!’, chamado ‘Transgender dysphoria blues’. Em 2019, fez uma cirurgia de feminilização facial, visando deixar os traços mais delicados. Ela relata que transicionar é uma jornada muito louca, mas maravilhosa.

Benjamin Damini

Ex-ator da Malhação, Benjamin comemorou a conquista do novo RG em junho de 2022, sendo um grande passo rumo ao reconhecimento social. Damini relata a vontade de transicionar desde a primeira infância, aos 3 anos. Assim, seus pais não se surpreenderam quando resolveu aceitar quem era aos 21 anos. Benjamin se identificou com o termo assim que descobriu, assistindo ao filme ‘Boys don’t cry’ aos 16 anos.

Caitlyn Jenner

Madrasta das Kardashians e mãe das Jenners, em 2015 enfrentou preconceito no mundo das influencers com Kris e Caitlyn. Atualmente, se diz muito feliz por assumir sua verdadeira identidade e arrecada milhares de dólares em doações para instituições em prol da causa. Em 2017, a ex-atleta realizou sua cirurgia de redesignação de sexo e relata que treinou 12 anos para suas competições, mas 65 anos para se assumir mulher.

Glamour Garcia

Atriz da novela ‘A dona do pedaço’, Glamour Garcia se sente orgulhosa em vivenciar uma personagem trans sendo uma mulher trans. Além disso, relata que já se reconhecia gay, mas que o teatro lhe concedeu o autoconhecimento necessário para se entender como mulher trans. Assim, começou a usar hormônios aos 20 e hoje é reconhecida pelas suas vivências.

Vale lembrar que as mídias precisam continuar dando espaço para outras identidades, pois isso gera identificação e conforto em pessoas que estão passando pelo mesmo.

Vídeos e relatos sobre a vivência transgênero

Para fechar com chave de ouro, ouça outras pessoas falando sobre transexualidade, atribuindo o devido protagonismo a quem viveu a complexidade de assumir sua verdadeira identidade para a sociedade:

As diferentes existências trans

A vivência trans pode ser diferentemente experienciada. Por isso, confira esse vídeo, que aborda a diferença entre transgênero, transexual ou travesti. Os apresentadores também relembram a importância da autodeterminação de desconstruir à normalidade socialmente estabelecida. Ainda, o vídeo aborda a patologização dessas identidades.

A vivência e a problemática da transfobia

É necessário falar sobre preconceito para combater. Por isso, ouça o relato de Sam Barbosa e suas experiências enfrentando a transfobia. Sam precisou se libertar dos preconceitos para expressar seu verdadeiro eu e convida os telespectadores a quebrar esses padrões também.

Conheça a história de luta dessa mulher trans brasileira

Conheça a história da Doria, uma baiana de muita garra, que sofreu muito preconceito e precisou enfrentar a sociedade para se libertar. Da Bahia a São Paulo, contou com aliados e com sua espiritualidade. Essa pequena rede de apoio transformou sua vida e deram espaço para ela assumir sua identidade.

Entenda os seus direitos enquanto pessoa trans

Ter direitos significa fortalecer a existência enquanto transgênero, além de ser uma forma de garantir segurança na sociedade. Assim, conheça os conceitos principais do movimento transgênero e o que está garantido por lei para esses indivíduos.

Reconhecer as diversas formas de existência é um dos principais jeitos de combater o preconceito. Assim, conheça também o movimento LGBTQIA+ e aprimore os seus conceitos.