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Lugar de mulher é no ringue: a trajetória olímpica de Beatriz Ferreira

Beatriz Ferreira

Atualizado em 04.12.23

A primeira brasileira a disputar uma final olímpica no boxe e a conquistar um campeonato mundial, Beatriz Ferreira é uma das maiores pugilistas da história do esporte brasileiro. Conheça a história da lutadora que herdou o talento do pai e levou o tradicional boxe da Bahia para o mundo do esporte feminino.

Índice do conteúdo:

Beatriz Ferreira e seu laço sanguíneo com o boxe: onde tudo começou

Baiana de Salvador, Beatriz Iasmin Soares Ferreira nasceu em 9 de dezembro de 1992. Filha de pai boxeador e bicampeão brasileiro, Raimundo Oliveira Ferreira, teve contato com o esporte desde pequena. A garagem de casa foi transformada pelo pai em uma academia e atraía diversos interessados no esporte, incluindo a filha aos 4 anos de idade. Foi ai que tudo começou.

Trajetória de uma mulher em um esporte dominado por homens

Aos 13, Beatriz Ferreira já lutava com os meninos que frequentavam a academia do pai e permaneceu assim durante nove anos. As poucas oportunidades e a falta de competições femininas impediram que a lutadora prodígio pudesse mostrar ao mundo seu potencial. Sua primeira competição oficial foi aos 21 anos no Campeonato Brasileiro em 2014, porém, após vencer a primeira luta, foi desclassificada.

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A organização regulamentadora do boxe amado (AIBA) havia declarado que os atletas eram proibidos de praticar outra arte marcial, exigindo exclusividade no boxe e, pouco antes de competir, Bia havia participado de competições de Muay Thai, devido à falta de competições de boxe. A atleta foi suspensa durante dois anos e acabou não podendo disputar uma vaga nos Jogos Olímpicos de 2016.

A volta por cima

O apoio da família, e principalmente do pai, apelidado de Sergipe, foi fundamental para que ela não desistisse. Passou a lutar em competições do interior, que não eram regulamentadas pela AIBA, e contava com a presença de grandes lutadores. Beatriz se destacou e venceu por dois anos seguidos (2014 e 2015). Seu reconhecimento chegou na seleção brasileira e ela teve a chance de treinar na amarelinha e fez parte do projeto “Vivência Olímpica”, idealizado pelo Comitê Olímpico Brasileiro desde 2012.

O programa visa tirar a pressão de atletas promissores ao conhecer de perto a realidade e magnitude da maior competição esportiva do mundo, além de terem a oportunidade de entrar em contato com atletas medalhistas. A boxeadora teve a chance de duelar com Adriana Araújo, a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha em Jogos Olímpicos, bronze em Londres-2012.

A partir de 2017, Beatriz Ferreira passou a participar de competições (inter)nacionais, colecionando títulos e reconhecimento. Em 2020, ela já havia disputado mais de 100 lutas. Em suas entrevistas, a atleta sempre agradece ao pai pelo apoio e se desculpa a ele quando o resultado não é esperado. Já ele, fez uma tatuagem representando as Olimpíadas de Tóquio após prometer que a filha passaria das quartas de final e garantiria pelo menos a medalha de bronze. Ela ainda conta com o apoio da namorada, Ana Azevedo, velocista do atletismo brasileiro. Ana é cinco vezes campeã brasileira nos 200 m rasos e eleita a melhor atleta feminina pela Confederação Brasileira de Atletismo em 2020.

Títulos e Olimpíadas

As primeiras medalhas de ouro da boxeadora vieram em 2017, nos Torneios de Belgrado e Continental, duas das principais competições da modalidade e da sua categoria (60 kg). No mesmo ano ela ainda venceu o Torneio de Sófia e o Campeonato Brasileiro de Boxe. Repetiu o feito do Brasileiro em 2018, foi campeã sul-americana e vice no tradicional Torneio de Strandja. Seu grande ano foi 2019, em que ela se consagrou campeã mundial pela primeira vez e campeã pan-americana. Todos esses títulos levaram Beatriz Ferreira ao maior feito do boxe feminino ao conquistar a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio 2020.

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Representatividade e visibilidade: o impacto de Beatriz Ferreira no esporte brasileiro

Assim como Adriana Araújo abriu o caminho para a jovem Beatriz, ao conquistar a primeira medalha para o boxe feminino brasileiro, Ferreira treina e se dedica integralmente ao esporte para inspirar mais meninas.

Em entrevista, a atleta diz saber que chegará o momento dela parar e dar lugar para novos talentos. A paixão claramente continuará, mas ela deseja estimular ainda mais a nova geração de meninas, e deixando o processo mais fácil do que foi para ela em questão de oportunidades. Outro desejo de Beatriz Ferreira é igualar a quantidade de categorias do feminino com o masculino, de 3 para 5. Isso permitirá que outras meninas possam competir e que novos exemplos sejam dados.

A atleta também contou que o esporte foi uma grande ferramenta para o amadurecimento dela como mulher. Após ganhar a tão sonhada e merecida medalha olímpica, Bia postou em seu Instagram: “Sempre treinei, lutei, buscando dar mais força, buscando ter mais mulheres no esporte, e espero que essa conquista motive várias mulheres a entrarem no esporte, a se tornarem uma boxeadora”.

10 curiosidades inspiradoras sobre a pugilista

Descubra mais sobre essa lutadora imbatível e que marcou a história do boxe feminino no Brasil:

1. Melhor resultado no boxe feminino em Olimpíadas

Beatriz Ferreira conquistou a primeira medalha de prata e o melhor resultado para o boxe feminino brasileiro em Jogos Olímpicos. Antes dela, o posto era de Adriana Araújo quando faturou a medalha de bronze nos Jogos de Londres-2012.

2. Foi professora de boxe

A atleta começou a dar aulas de boxe aos 15 anos para ajudar a família com as despesas de casa. Também era uma forma dela ter contato com o esporte, já que não havia competições femininas. Durante a suspensão, ela chegou também a competir em campeonatos amadores e não desanimava nunca.

3. Vencedora do Prêmio Brasil Olímpico

Beatriz Ferreira

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Duas vezes ganhadora do Prêmio Brasil Olímpico, em 2017 como atleta destaque do boxe e em 2019 como melhor atleta, vencendo a nadadora Ana Marcela Cunha e a esgrimista Natalie Moellhausen.

4. Faz dancinhas famosas do Tiktok antes de entrar no ringue

As entradas no ringue de Bia deram o que falar nas Olimpíadas de Tóquio. Ao som de músicas como “Bipolar” dos MCs Davi, Don Juan e Pedro, “Não, não vou” de Mari Fernandez e “Favela chegou” de Ludmilla e Anitta, a boxeadora ainda fez as dancinhas que viralizaram no aplicativo TikTok.

5. Primeiro lugar do ranking mundial

Beatriz Ferreira foi a primeira atleta da história do boxe feminino brasileiro a conquistar a primeira posição do Ranking Mundial da AIBA, na categoria leve (60 kg), em julho de 2020. No Campeonato Mundial na Rússia em 2019, foi a primeira brasileira a ser eleita a melhor atleta de um Campeonato Mundial de Boxe.

6. Tem duas irmãs mais novas

Além de Bia, seu pai tem outras duas filhas mais novas, Samira e Maria Antônia. Enquanto a irmã do meio, Samira, é apaixonada por teatro e dança, a mais nova, Maria, adora acompanhar o pai e Beatriz nos treinos. Uma história curiosa que a lutadora contou em entrevista é que seu pai tinha uma luta no dia em que a irmã Samira nasceu. Ele foi até o hospital acompanhar o parto, depois foi para casa buscar Bia e a levou para a luta.

7. É atleta militar

Assim como outros atletas de alto nível, Bia Ferreira é Terceiro-Sargento do Exército e compete em torneios ao nível militar. Ela ganhou a medalha de ouro nos Jogos Mundiais Militares de Moscou em 2021 na categoria até 60 quilos.

8. Vai competir nas Olimpíadas de 2024

O sonho da medalha olímpica foi realizado nos Jogos de Tóquio, mas estimulou ainda mais a atleta a continuar treinando, competindo e repetir o feito de subir no pódio em Paris-2024, dessa vez no lugar mais alto. Após a cerimônia de medalhas, Bia deu entrevistas agradecendo a família e treinadores e sobre seu futuro: “E ai, Paris? Vou conversar com meu treinador ali e vamos ver. Por mim sim. Quero mudar a cor desta medalha.”

9. Seus familiares são seus maiores fãs

Além da tatuagem feita pelo pai durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, as irmãs e a mãe estão sempre registrando a torcida pela lutadora. Em publicação no Instagram, ela mostrou que eles mandaram fazer camisas e bandeira com o rosto da atleta! Esse apoio é fundamental para que Bia pise no ringue e dê o melhor de si.

10. Invicta por 23 lutas seguidas até perder a final olímpica

Até perder a final olímpica contra a irlandesa Kellie Anne Harrington, Beatriz Ferreira estava invicta desde abril de 2019, celebrando o feito de 23 vitórias seguidas. Após o segundo lugar no Campeonato Mundial na Turquia em 2022, Beatriz soma 135 lutas, com 127 vitórias e apenas 8 derrotas. Ela foi campeã mundial militar em 2021 e vice-campeã mundial em 2022.

Conquistar o mundo é pouco para Beatriz Ferreira. Ela ainda quer conquistar o maior alto título esportivo e super no Monte Olimpo. Enquanto isso, conheça a história de Mayra Aguiar, a atleta que elevou o patamar do judô feminino ao conquistar três medalhas olímpicas.