Moda e Beleza

Foxy eyes: entenda por que a tendência é tão controversa

Nikki Makeup

Atualizado em 23.06.22

Se você é ligada nas tendências de beleza, já deve ter ouvido falar dos “foxy eyes”. Mas você sabe exatamente do que se trata? Recentemente, essa trend veio à tona e levantou diversas discussões nas redes sociais. Afinal, essa técnica é problemática? Veja o que são os foxy eyes e as opiniões de mulheres asiáticas amarelas sobre o assunto.

Índice do conteúdo:

O que é a tendência foxy eyes?

Foxy eyes ou “olhos de raposa” é o nome dado à tendência que busca levantar e alongar o olhar. O efeito é geralmente alcançado através da maquiagem, com um delineado esfumado e estendido, que deixa os olhos com a aparência de serem mais “puxados”. A técnica ganhou popularidade principalmente depois que influenciadoras e modelos como Kendall Jenner e Bella Hadid posaram com esse tipo de maquiagem.

Além da make, há atualmente clínicas estéticas que fazem um procedimento que torna os foxy eyes permanentes. Para isso, é feito um “lifting” na área da têmpora, com a implantação de alguns fios para puxarem os olhos.

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Foxy eyes são problemáticos?

Mas por que os foxy eyes, que pareciam apenas mais uma trend de beleza, são tão controversos? As técnicas que deixam os olhos alongados podem ser interpretadas como uma tentativa de simular traços característicos de pessoas amarelas de origem ou ascendência leste-asiática. Muito mais que um simples delineado ou procedimento estético, a questão é complexa e envolve padrões de beleza, processos de autoaceitação e apropriação.

Para garotas asiáticas, muitas das quais cresceram ouvindo piadas (leia-se: insultos) sobre seus fenótipos (do tipo “abre o olho!”) ou, ainda, vendo pessoas brancas puxando os olhos para imitá-las, é um tanto estranho ver essa tendência se tornar tão popular.

Para Tate Iizuka, que trabalha no mercado da moda e compartilha diversos looks artísticos em seu feed no Instagram, “é incômodo para algumas pessoas racializadas (não apenas amarelas), porque, se formos entender um pouco sobre cultura, globalização e supremacia branca, conseguimos ver alguns reflexos (em um assunto que parece meramente estético) de algo sistêmico.”

Para Tate, a make foxy eyes e o procedimento estético permanente são muito distintos, pois eles apresentam resultados e implicações diferentes. O uso das sombras e a técnica do delineado, por exemplo, surgiram no Egito há milhares de anos. “Se formos levar em conta toda a história, culturalmente falando, essa técnica é de propriedade árabe!”

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Tate comenta: “Eu não me incomodo com maquiagens em geral e suas técnicas porque acho que devemos observar o seguinte contexto: vivemos em 2020, onde a maquiagem é expressão artística, e não um símbolo que reflete numa hierarquização de raças. (Pode ser que uma garota árabe diga o contrário, que suas técnicas ancestrais possam ter a ver com o jeito que é tratada em sociedade.)”

Já a cirurgia de colocar fios para puxar os olhos é outra questão. Para Tate Iizuka, “a diferença está no sentido de que os nossos fenótipos são, sim, elementos que podem refletir no jeito que somos tratados em sociedade. Por exemplo, minha vivência que me diferencia de uma pessoa branca consiste em ser identificada como amarela a partir de características físicas, principalmente meus olhos.”

As opiniões sobre os foxy eyes são múltiplas, mesmo entre as pessoas asiáticas que se manifestaram sobre a tendência. A youtuber de maquiagem Joyce Kitamura, a título de exemplo, não viu a trend como ofensiva ou como uma apropriação. Em uma postagem no Instagram, ela compartilhou o que acha desse tipo de make e comentou o nome dado à tendência.

Dicas de Mulher

Já a atriz Ana Hikari publicou em seu Twitter uma reflexão interessante sobre foxy eyes e apropriação cultural.

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Essa discussão é válida não somente para pessoas amarelas, mas para outros grupos racializados, pois leva a questionar os padrões de beleza. Tate Iizuka comenta: “a vida toda o ideal era a beleza eurocêntrica. Sempre foi assim. Mas, de anos pra cá, isso começou a mudar. Produções culturais, globalização e economia trazem esses elementos pro mundo, as pessoas começam a enxergar outras culturas e dar valor à diversidade, antes ridicularizada.”

Podemos pegar o caso das asiáticas que viam a “dobrinha” ou o côncavo marcado como o ideal de beleza. Com a popularização de mídias asiáticas aqui, como os doramas e o kpop, outras estéticas começaram a ser aceitas e valorizadas. No entanto, isso não apaga o que as pessoas amarelas viveram por muito tempo, sendo estigmatizadas e sofrendo com o exotismo por causa do formato de seus olhos.

O problema não está necessariamente em fazer ou não um tipo de delineado, mas no que essa tendência pode gerar ou significar. Não é somente uma problematização do que você “pode ou não fazer”, mas uma questão complexa sobre maquiagem, padrões de beleza e apropriação.

É importante lembrar que as experiências de pessoas amarelas não são universais e cada uma tem seu ponto de vista sobre o assunto. Tate ressalta: “deixo claro também que eu não dito o que é ou não certo e errado, conto meu sentimento como amarela ao perceber essa mudança de padrões”.

Não é proibido fazer os foxy eyes, mas é importante entender que essa trend pode incomodar um grupo de pessoas que sempre tiveram seus traços ridicularizados e agora veem o formato de seus olhos se transformarem em “moda” por pessoas que nunca vivenciaram (e, por vezes, até contribuíram com) esse estigma.

Por fim, é legal pensar em como a maquiagem reflete nas mudanças culturais e sociais e como os foxy eyes não são apenas mais um delineado. É essencial valorizar belezas diversas, mas cuidar para que isso não se torne uma apropriação.

Seria mais interessante valorizar os traços de uma pessoa amarela do que tentar imitar esses fenótipos com maquiagem, não é mesmo? E para se inspirar a valorizar sua beleza natural, confira esses perfis de mulheres fora do padrão para seguir no Instagram.

Adora viajar, conhecer novos idiomas e culturas. Apaixonada por ícones da cultura pop, roupas extravagantes e narrativas de todo tipo. Comunicóloga, atualmente cursa Relações Internacionais.