Dinheiro e Carreira

Empreendedoras que estão fazendo história na área da tecnologia no Brasil

Dicas de Mulher

Conheça os desafios e o que dizem mulheres que atuam nessa área ainda é predominantemente masculina

Atualizado em 11.10.23

Nos últimos anos, há muitas conquistas femininas no campo mercadológico, mesmo em setores historicamente mais masculinos, como na área de tecnologia. Segundo dados dos Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a presença da mulher nesse mercado cresceu 60% nos últimos cinco anos. Além disso, em 2021, o Banco Nacional de Empregos (BNE) identificou mais de 12,7 mil candidaturas de mulheres para vagas de tecnologia, enquanto no anterior esse número era de 10.375.

Apesar disso, ainda existe algumas barreiras a serem enfrentadas. A área de tecnologia é a que possui maior desigualdade salarial entre os gêneros, de acordo com a Pesquisa de Remuneração Total realizada pela consultoria Mercer e divulgada pela Forbes. O estudo foi realizado em cenário mundial, com 30 mil empresas avaliadas, sendo 759 do Brasil, e constatou uma diferença que chega a 36% nos cargos executivos liderados por mulheres.

O setor de tecnologia é um dos que mais cresce, chegando a 60% em 2021 em relação a 2020, de acordo com pesquisa realizada pela Cortex, plataforma de inteligência de vendas. No entanto, apenas 4,7% das empresas de base tecnológica são fundadas apenas por mulheres, percentual que não cresceu muito na última década, sendo que 10 anos atrás eram 4,4%, de acordo com estudo do Female Founders Report (2021), elaborado pela empresa Distrito em parceria com a Endeavor e a B2Mamy.

Diante desse cenário, o Dicas de Mulher te apresenta, como fonte de inspiração e garra, mulheres que decidiram empreender no setor tecnológico e fazem trabalhos admiráveis. Além disso, essas empresárias dão declarações exclusivas sobre desafios enfrentados e superados. Confira!

10 mulheres empreendedoras na área da tecnologia

Ainda que existam barreiras para a presença feminina no setor, essa é uma área de muitas possibilidades, que só ganham quando mulheres contribuem profissionalmente e desconstroem estereótipos de gênero. Conheça algumas delas!

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Aline Catiusce

Vencedora do prêmio Finep Mulheres Inovadoras em 2021 e listada pela ForbesAgro entre 20 Mulheres Inovadoras nas Agtechs – empresas de tecnologia no cenário agrícola, Aline Catiusce é uma das fundadoras e atual COO da Softsul Sistemas. A startup foi formada junto com seu esposo, Andrei Nazi, assim ela comenta que:

“Mesmo trabalhando muito, a visão era sempre de que eu era a esposa e não a Founder. Assim como muitas mulheres tive que provar a minha capacidade e com isto ganhar a confiança. […] O ponto principal da minha carreira é o fato de não desistir, ser persistente apesar das dificuldades. Quero fazer a diferença e ser a diferença para muitas mulheres e trazer cada vez mais e mais Mulheres para este mundo e este maravilhoso mundo da Tecnologia, Inovação e o Agronegócio.” – Aline Catiusce

Ana Carolina Peuker e Sibele Faller

Andrea Graiz

As fundadoras da startup de saúde mental Bee Touch. Criada em 2012, a iniciativa tem como objetivo desenvolver soluções para a promoção da saúde e de qualidade de vida. Entre as produções realizadas estão a criação de softwares, aplicativos móveis e redes sociais customizadas para o setor da saúde.

Ambas vieram da área acadêmica após muita dedicação ao estudo sobre comportamento humano e como os dados podem ser utilizados para compreendê-lo.Tendo percorrido esse caminho, Sibele Faller conta:

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“Se ser mulher no ambiente acadêmico não é fácil, no empreendedorismo é mais complicado ainda – sabe-se que receber investimentos, por exemplo, é mais difícil quando se é mulher. Fora isso, especificamente na psicologia, não há muita difusão da cultura de uma prática baseada em dados e, historicamente, há pouca abertura para inovação.” – Sibele Faller

Ana Carolina Peuker, por sua vez, relata que:

“Enquanto empreendedoras, somos testadas o tempo todo a demonstrar nosso valor, somos avaliadas por pessoas que não tem conhecimento da área, somos julgadas por sermos mulheres. Além disso, a área da saúde mental ganhou evidência com a pandemia e com isso, surgiram muitos aventureiros, com soluções paliativas para um problema complexo, que requer muito conhecimento técnico.” – Ana Carolina Peuker

Apesar dos grandes desafios, Peuker se alegra com os resultados: “Eu e minha sócia sofremos com tantas incertezas e responsabilidade, mas também nos divertimos a cada obstáculo vencido, a cada conquista e sentimos satisfação ao olhar para trás e ver tudo o que conquistamos até aqui. Construímos uma marca respeitada e reconhecida pela qualidade de suas entregas, trabalhamos produzindo impacto social, em prol de um propósito incrível”.

Faller também encara de forma positiva o caminho percorrido e os resultados alcançados “A AVAX Psi, plataforma desenvolvida por nós, a primeira do mundo no que se refere a avaliações psicológicas, é mais do que um produto, é uma convergência de inovação, boas práticas e muito estudo”.

Karine Oliveira

(Ronald Santos Cruz)

Karine Oliveira, de Salvador, é a criadora da Wakanda Educação Empreendedora, startup com impacto social que traduz conteúdos técnicos sobre empreendedorismo para uma linguagem acessível e informal com objetivo de alcançar a população periférica e pessoas que se tornam empreendedoras por necessidade. Em declaração exclusiva, relembra:

“Eu não cheguei aqui sozinha. Os desafios foram muitos desde quando comecei, mas um bem importante foi a criação da Wakanda. Como assim criar uma metodologia para tornar o conhecimento sobre empreendedorismo acessível? Isso foi feito e validado a duras penas para que acreditassem que era possível e hoje já ultrapassamos o número mil em microempreendimentos atendidos. Deu certo, o que é uma das nossas maiores conquistas, incluindo a minha participação no Shark Tank e a capa da Forbes, que levaram a empresa para o Brasil.” – Karine Oliveira

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Gabriela Chaves

Gabriela Chaves é a criadora da startup NoFront que tem como objetivo empoderar economicamente a população negra e periférica por meio da educação e planejamento financeiro. Assuntos como padrões de consumo, quitação de dívidas e formas de investimento são ensinadas no NoFront por meio do rap. Ela foi listada entre 13 mulheres fundadoras de edutechs pela Forbes. A respeito de sua trajetória profissional, conta:

“Acredito que o maior desafio está relacionado a ser mulher negra é a remuneração, já que durante grande parte da minha vida eu ganhei menos do que homens brancos no mesmo cargo, e isso foi um desafio muito grande para mim do ponto de vista profissional. A maior conquista da minha carreira é estar empreendendo nesses últimos 4 anos com a NoFront – Empoderamento financeiro, edutech de multitecnologias, com olhar interseccional sobre questões raciais, de gênero e classe. É um sonho que está virando realidade, acredito que isso é uma conquista muito grande, conseguir executar algo tão desejado”. – Gabriela Chaves

Ana Paula Pisaneschi

Enfrentando as barreiras de gênero na área da tecnologia e do sistema financeiro, Ana Paula Pisaneschi criou a Uffa, que é uma plataforma de renegociação de dívidas e concessão de créditos que busca humanizar o atendimento. A empresa desenvolveu a primeira inteligência artificial do mercado financeiro que possui reconhecimento emocional interativo.

Listada pela Forbes Tech, como uma das 7 empreendedoras que quebram barreiras de gênero no sistema financeiro, ela disse em entrevista ao EQL que já passou por situação de desigualdade salarial por causa do seu gênero no trabalho:

“Eu trabalhava com áreas de planejamento estratégico, tinha acesso a todos os números da empresa e percebi que eu recebia mais responsabilidades, mas o dinheiro não vinha. Eu estava sendo eficiente até porque ninguém dá responsabilidades a uma pessoa se ela não está apresentando resultados. Mas eu não tinha compensação. No começo de carreira, o meu intuito era mostrar crescimento, crescimento e crescimento. Eu entendia que o resultado em dinheiro viria mais a médio e longo prazos. Um belo dia, eu fui questionar o VP – vice-presidente – da companhia após uma recente promoção de cargo sem aumento de remuneração. “Eu sou a gestora que menos recebe”, comentei. Eu estava no cargo de gerência geral e tinha coordenador que recebia muito mais do que eu e não tinha nem um terço do tamanho do meu time, muito menos minhas responsabilidades. Minha área era responsável pelo faturamento da empresa. O comentário que ouvi do VP foi o seguinte: “Ana Paula, se eu equiparar o seu salário, eu vou te satisfazer, mas eu vou arranjar problema com todo mundo”. Foi naquela hora, naquele momento, que eu percebi o que estava acontecendo”. – Ana Paula Pisaneschi

Tatiana Fiuza

Listada como uma entre 20 mulheres inovadoras nas AgTechs pela Forbes Agro, Tatiana Fiuza é a criadora da Vlinder Inovação, uma agência de inovação privada, e Head de Inovação do Hub Concriago. Acerca de sua carreira nos conta:

“Ao longo da minha carreira, aprendi muitas coisas novas. E essa sempre foi a minha paixão. A inovação traz isso: traz todo esse aprendizado. Em 2018, eu resolvi empreender e abrir a Vlinder. É claro, tive muito medo. Mulher, mais velha, tinha 39 anos, com dois filhos, já com uma carreira estruturada… Pensei “será que cabe o empreendedorismo aqui?”. Mas, ainda bem, tive todo o apoio do meu marido e amigos, e fui com medo mesmo. Em toda essa caminhada, aprendi que a gente tem que ter calma no processo de um empreendedor e que é um passo de cada vez. A vida do empreendedor é acordar, muitas vezes, querendo desistir. Mas, ao mesmo, é encontrar muita força vindo de clientes e amigos. Assim eu aprendi a ter paciência com o processo. É um caminho. A jovem Tatiana era uma pessoa que sempre sonhou em ser executiva de uma grande empresa. Agora, por incrível que pareça, eu coordeno e ajudo no caminho da inovação de várias delas, mas com meu próprio negócio”. – Tatiana Fiuza

Jihan Zoghbi

Jihan Zoghbi é a fundadora da healthtech Dr. TIS, que usa a tecnologia para o setor da saúde, desenvolvendo sistemas, tecnologia on cloud para telemedicina, além de gerenciamento de procedimentos e de diagnóstico por imagem. Sobre a motivação para a idealização do projeto, ela disse em entrevista ao blog Distrito que:

“Eu vi muitas empresas estrangeiras com sistemas de diagnóstico de imagem e poucas iniciativas nacionais e estava ciente dos avançados estudos e da quantidade de gente talentosa e capaz no Brasil. Isso despertou o desejo de fazer algo disruptivo que alcançasse também o mercado internacional”. – Jihan Zoghbi

Itala Herta

Itála Herta é a fundadora da startup Diver.SSA, que tem como objetivo fomentar o empreendedorismo feminino de impacto social nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Além disso, a empreendedora e ativista é cofundadora da primeira aceleradora de negócios com foco em diversidade do Norderste, a Vale do Dendê, e cocriadora do portal e festival Ocupação Afro.Futurista. Ela nos conta sobre os desafios que enfrentou em sua carreira:

“Desafios são sempre muitos, para uma mulher, sobretudo uma mulher que empreende, […] quando a gente pensa em intersecções que são outros marcadores sociais, marcadores que envolvem raça, sexualidade esses desafios só se multiplicam, mas, ao mesmo tempo, a gente tem que falar de oportunidades também. [..] Quando eu fiz uma transição de carreira em 2017, eu saí do modelo CLT pra voltar a empreender, e cp-fundar uma aceleradora em Salvador? Claro que deu medo, bate insegurança, mas eu resolvi muito investir nesses três pilares, que são os pilares da metodologia da Adversa, que foram muito aplicados em mim e em outras mulheres […] que é autoconfiança, o autoconhecimento e a autogestão. Eu acho que esses três pilares mudaram a minha vida, eu entendi que investir em autoconhecimento extrapola uma questão de luxo, claro que é muito caro às vezes, mas existem muitas formas e ferramentas disponíveis”. – Itála Herta

Ana Fontes

Referência em empreendedorismo feminino no Brasil, Ana Fontes é a fundadora da Rede Mulher Empreendedora, a primeira rede de apoio a mulheres que querem empreender no país. Além isso ela é dona do espaço de coworking Natheia. A respeito de seus desafios, relembra alguns momentos:

“Meus maiores desafios como empreendedora na área da tecnologia foram: primeiro, a área de tecnologia não é uma área reconhecidamente, ainda, como uma área feminina. E quando eu comecei, há 15 anos, isso era menos ainda. Então tinha que mostrar que eu entendia muito mais, exatamente para poder provar nesse universo extremamente masculino que eu sim estava ali construindo, entendendo, fazendo e criando coisas muito interessantes em relação à tecnologia. Um dos meus primeiros negócios, foi uma plataforma digital, então acho que esse é um grande desafio. O segundo grande desafio é você se manter atualizada, as tecnologias estão sempre mudando, estão sempre criando coisas novas, então se manter atualizada é absolutamente fundamental. E o terceiro desafio é não se perder na vontade de fazer absolutamente tudo, porque tecnologia tem muito essa questão, a gente quer fazer todas as coisas, todos os assuntos, a gente quer estar sempre atento e conectado ao que está acontecendo naquele momento, mas a gente também tem que ter prioridade e foco.” – Ana Fontes

Jornalista e produtora de conteúdo. Fã de cultura POP com interesse em Estudos Culturais, tentando acumular o maior número possível de hobbies nas horas vagas.