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A extraordinária habilidade de Bia Haddad em dar a volta por cima

Beatriz Haddad Maia

Atualizado em 11.05.23

Filha e neta de tenistas, Beatriz Haddad Maia despontou como um dos talentos do esporte brasileiro aos 15 anos. Com grandes resultados no juvenil, a carreira profissional foi marcada por lesões e doping, até chegar na maior colocação individual de uma brasileira no ranking. Aos 26 anos, ela atingiu top 25 do ranking mundial e não vai parar por aí. Conheça história de superação de Bia Haddad!

Filha de tenista, tenista é

Beatriz Haddad Maia nasceu em 30 de maio de 1996, em São Paulo. De família descendente de libaneses, sua mãe e avó foram tenistas profissionais e a influenciaram a praticar o esporte desde cedo. Aos 5 anos, Beatriz escolheu treinar, se destacando por ser canhota e usar as duas mãos para se defender, no chamado backhand.

Começou a carreira na categoria juvenil e ganhou seu primeiro título aos 14 anos, fazendo dupla com Flávia Guimarães Bueno em um torneio em Mogi das Cruzes. Aos 15, foi campeã do torneio de Goiânia, dessa vez disputando sozinha. Foi duas vezes finalista de Roland Garros, em 2012 e 2013, fazendo dupla com a paraguaia Montserrat González e com a equatoriana Doménica González, respectivamente. Também chegou nas semifinais de Wimbledon ao lado da russa Mayya Katsitadze, em 2011.

Tenista profissional

Em 2014, Beatriz atingiu a maioridade e competiu no circuito profissional, se tornando a segunda melhor brasileira do ranking na época. Fez sua estreia no WTA de Florianópolis em 2015 e venceu a taiwanesa Hsu Chieh-yu na primeira rodada. Também iniciou sua carreira nas duplas ao lado de Carla Forte. Elas, porém, foram eliminadas nas quartas de final pelas alemãs Kristina Barrois e Tatjana Maria.

Em 2015, após participar de diversos campeonatos pela América, como Rio Open e Family Circle Cup, Haddad conquistou seu primeiro título nas duplas ao lado da compatriota Paula Cristina Gonçalves na Copa Colsanitas, em Bogotá. Três meses depois, sofreu uma lesão e foi eliminada na primeira rodada dos Jogos Pan-Americano de Toronto. Encerrou a temporada após operar o ombro, terminando na 198ª colocação do ranking mundial.

Retorna às quadras em 2016, no ITF de Guarujá. Em janeiro, ela faturou o título de duplas ao lado de Paula Gonçalves. Participou de diversos torneios, incluindo o qualifying de Roland Garros, até conquistar o ITF de Scottsdale e, na semana seguinte, o ITF de Waco. Ela terminou este ano como a número 170 do mundo. Infelizmente, nesse mesmo ano, Beatriz sofreu um acidente doméstico às vésperas do Natal.

Em 2017, conquistou quatro títulos importantes: o ITF de Clare nas duplas e no simples; WTA de Bogotá nas duplas e o ITF de Cagnes-sur-Mer no simples. Também entrou pela primeira vez na chave principal de Grand Slams como US Open, Wimbledon e Roland Garros. Seus ótimos resultados a levaram à 58ª colocação do ranking. No ano seguinte, em 2018, participou do Australian Open, sendo derrotada na segunda rodada de simples por Karolína Plíšková e nas duplas.

Doping e retorno às quadras

O ano de 2019 marcou a carreira da tenista paulistana após ela testar positivo no controle de antidoping para dois anabolizantes sintéticos. Em fevereiro de 2020, foi condenada a uma suspensão de dez meses, contando o tempo que já cumpria desde julho de 2019. Voltaria a competir apenas em maio de 2020, mas a temporada foi paralisada por conta da pandemia de Covid-19. Em setembro, Beatriz voltou a competir em torneios de Portugal e conquistou os quatro que disputou. Em dezembro, ela sofreu ainda outra lesão, na mão, e precisou passar por uma cirurgia, encerrando sua temporada.

Bia Haddad teve um retorno incrível e voltou ao top 100 em 2021, após ter despencado para o 1342° lugar por inatividade em 2019 e 2020. Venceu cinco torneios de ITF e fez uma ótima campanha em Indian Wells, derrotada somente na quarta rodada por Anett Kontaveit. Fora dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Beatriz foi comentarista nos canais SporTV.

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Começou o ano de 2022 em uma final de Australian Open nas duplas junto a Anna Danilina, do Cazaquistão, após as duas vencerem o WTA 500 de Sydney. Engatou uma sequência de vitórias no WTA 125 de Saint Malo no simples e WTA 125 de Paris nas duplas. Em junho, conquistou seu maior título de simples, o WTA de Nottingham, tornando-se a primeira brasileira a vencer um torneio em quadras de grama desde Maria Esther Bueno.

Ela ainda venceu a final de duplas ao lado de Zhang Shuai. A chinesa seria a adversária na final do torneio seguinte, o WTA de Birmingham, porém desistiu por conta de uma lesão. Assim, Bia Haddad ganhou o segundo título de simples da WTA. Os resultados a colocaram na 25ª colocação do ranking mundial, o melhor resultado individual de uma mulher brasileira na história do tênis.

Efeito Beatriz Haddad no tênis brasileiro

O tênis feminino brasileiro vive uma grande fase com a presença de Bia Haddad, Luisa Stefani, Laura Pigossi e Carol Meligeni nos torneios ao redor do mundo. Elas passam quase 9 meses fora de casa e se orgulham em levar o país para os pódios, tanto pelas conquistas individuais quanto em duplas. Em entrevista à Gazeta Esportiva, Bia Haddad contou como é para ela ser uma influência para as meninas que sonham em ser tenistas profissionais:

“Eu acho que tudo isso é algo muito positivo para a gente ver cada vez mais meninas acreditando e olhando para a gente, se inspirando. Acho que esse é o ponto principal, quando uma começa a puxar a outra, fazer a outra acreditar também.” – Bia Haddad

Para além do feito de conquistar uma colocação mais alta que Maria Esther Bueno, ela busca se aproximar ainda mais das novas gerações, deixando o ambiente mais natural. Mesmo longe de casa, ela gosta de poder comer, treinar e dividir experiências com jovens atletas, para que elas se sintam mais confortáveis e confiantes para enfrentar atletas de peso. Beatriz tem um papel fundamental na modalidade e deseja criar mais visibilidade para as novas atletas para a modalidade.

10 curiosidades para se inspirar na carreira da tenista

Após diversas jornadas marcadas por altos e baixos, Bia Haddad ensina que a chave da superação começa com insistência e vontade. Assim, confira algumas curiosidades da atleta:

1. Primeiro título do Brasil em um torneio de grama desde 1968

Maria Esther Bueno, lenda do tênis feminino, foi a última brasileira a conquistar um título na grama, em 1968. Beatriz quebrou o jejum de 54 anos ao vencer o maior título de sua carreira, o WTA 250 de Nottingham. Ela disputou a final contra a norte-americana Alison Riske por 6/4, 1/6 e 6/3, em 2h18min de partida. No dia seguinte, ela foi campeã nas duplas com a chinesa Shuai Zhang.

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2. Ela não é parente de Fernando Haddad

Por mais que o sobrenome seja o mesmo, o ex-candidato à presidência Fernando Haddad e Beatriz Haddad não são parentes. De origem árabe, o sobrenome é bem comum na região de São Paulo, devido ao grande número de imigrantes.

3. Melhor colocação de uma brasileira no ranking da WTA

Após ser semifinalista do WTA 500 de Eastbourne, na Inglaterra, Bia Haddad chegou no 28º lugar, superando o 29º de Maria Esther Bueno, em 1976. Considerada a bailarina do tênis, Bueno teve seu auge nas décadas de 50/60, quando ainda não havia um ranking oficial. Ela chegou a ser eleita a melhor tenista do mundo após vencer o Torneio de Wimbledon três vezes.

4. Invicta por 12 jogos

Ainda no WTA de Eastbourne, Beatriz foi eliminada pela tcheca Petra Kvitová e perdeu uma invencibilidade de 12 jogos. Ela vinha de dois títulos seguidos, os WTA 250 de Nottingham e Birmingham e foi cabeça-de-chave em Wimbledon.

5. “Desde que eu ganhei meu primeiro título no saibro, não leio coisas sobre mim”

Bia recebeu a imprensa em São Paulo, após retornar de uma temporada de torneios na Inglaterra. Repleta de perguntas sobre como estava lidando com a repercussão de seus feitos e sua eliminação na primeira rodada de Wimbledon, ela contou com muita calma e serenidade que não lê as coisas que escrevem sobre ela. “Eu não procuro por aceitação, elogio ou crítica. Não procuro essa badalação de fora. Fico feliz em dar essa alegria ao brasileiro, mas já passei momentos muito duros na minha carreira e esses são difíceis de aguentar”, revelou a tenista.

6. Dedicou o título a Luisa Stefani

Em 10 de setembro de 2021, a tenista Luisa Stefani disputava a semifinal por duplas no US Open quando sofre uma lesão e rompeu o ligamento do joelho. No dia 12, Bia Haddad venceu o W60 de Montreux e dedicou o título à amiga e parceira de seleção brasileira nas suas redes sociais:

“Sei que não era esse título que você queria para essa semana, mas nunca sabemos o dia do amanhã. Estamos sujeitos a qualquer coisa e a qualquer momento. A vida é uma caixinha de surpresas, e às vezes vamos do céu ao inferno em menos de um minuto. O que você passou nessas últimas horas só me fez relembrar dos valores mais simples da vida: a saúde. A oportunidade de fazer o que amo e de poder aproveitar cada momento com as pessoas que amo. Sua forma de lidar e enxergar a vida farão você passar por essa pedrinha no caminho com um sorriso no rosto. Se cuida, Luisa Stefani, o Brasil inteiro está muito orgulhoso de te ver brilhar e dar show, igual você faz.” – Bia Haddad

7. Possui veia artística também

O tio de Beatriz, Rolando Boldrin, é um cantor famoso e apresentador do Sr. Brasil na TV Cultura. No tempo livre, fora das quadras, ela se arrisca no violão, com inspiração no tio, e se arrisca nos desenhos para explorar a criatividade.

8. Tem 1,85 m de altura

Em 2016, um levantamento feito pela Folha mostrou que as tenistas de alto nível estão crescendo cerca de três centímetros a cada cinco anos. Naquele ano, a estatura média estava em 1,78 m. A ex-tenista Pam Shriver comentou: “A média das dez melhores do mundo deve passar do 1,80 m em mais cinco anos, no máximo”. Entre as 25 melhores do ranking, Beatriz é somente um centímetro mais baixa que a checa Karolína Plíšková. E dessas 25, somente 9 possuem mais de 1,80 m.

9. Hábito de leitura

O hábito de leitura vem se tornando uma ótima estratégia para atletas de alto nível. A judoca Mayra Aguiar contou que ler biografias é algo que a ajuda muito a fugir da ansiedade às vésperas de torneios. Beatriz compartilhou que estava lendo ‘Tudo é rio’, de Carla Madeira, assim que voltou ao Brasil depois de uma temporada na Europa. A tenista ainda agradeceu a sugestão e pediu outras.

10. Aproveita o tempo livre para se arriscar no surfe

Bia Haddad se aventura no surfe, esporte que ela afirma ser de autoconhecimento, necessário para manter os pés no chão. “Eu nunca entendia o vício que um surfista tinha em todos os dias madrugar para pegar uma onda perfeita. Ou viajar o mundo para isso. Que loucura. É uma mistura de autoconhecimento, treino, respeito, humildade, superação. E tudo isso em conexão com a natureza. É uma lição de vida”.

Bia Haddad está construindo seu legado no tênis brasileiro com muita garra e resiliência. Outra atleta que superou diversos obstáculos até conquistar seu grande sonho é a líbero Camila Brait. Que tal ler sobre a medalhista olímpica e ídola de Osasco?