Bem-estar

“Pornôs estão com um olhar cuidadoso com a mulher” diz diretora da PlayBoy

Cinthia Fajardo / Divulgação

Para Fajardo, houve avanços significativos na indústria pornográfica no Brasil, sobretudo em relação ao respeito à mulher, seu prazer e suas decisões

Atualizado em 06.09.23
push pixel

Durante muito tempo, o filme pornô foi tido exclusivamente como um produto destinado ao público masculino. No entanto, essa visão está mudando e as mulheres estão mais interessadas em consumir esse tipo de conteúdo, em busca de entender o próprio prazer ou até mesmo de apimentar a relação.

Com essa alteração do público, a indústria pornográfica precisou se adaptar e trazer conteúdos mais condizentes com o que elas buscam. A ideia é focar em algo menos explícito e com mais narrativas, além de atender também ao grupo LGBTQIA+. O Dicas de Mulher conversou com Cinthia Fajardo, diretora-geral da Playboy no Brasil, que trouxe mais detalhes sobre o assunto. Confira a entrevista abaixo!

Dicas de Mulher — Conte um pouco da sua trajetória profissional nessa área. Como foi para você chegar ao cargo em que se encontra na Playboy?

Cinthia Fajardo — Construí minha carreira na área de marketing e passei por diversos mercados (Banco, Telecom, Editora, Entretenimento – TV por Assinatura). Trabalho no Grupo Globo há cerca de 15 anos. Há 10 anos, entrei para a Playboy do Brasil como gerente de Marketing e de Produtos Digitais e, no início de 2020, assumi essa posição de diretora-geral. Eu vejo como um desafio, uma oportunidade. Uma mulher na direção de uma empresa de canais e streaming adultos enfatiza o olhar feminino nos conteúdos produzidos. E, além das mulheres, tenho o desafio de atrair os espectadores LGBTQIA+, sem deixar de atender as particularidades do público masculino. Com a valorização crescente do prazer feminino e a disponibilização de produções calcadas na pluralidade, minha missão é entregar conteúdos que gerem identificação e prazer.

Como vocês perceberam o maior interesse do público feminino em filmes pornôs?

Publicidade

Sabemos, por pesquisas, que existem muitas mulheres que falam sobre sexo e que gostam de pornô, então estamos trabalhando para atender também essa demanda de mercado. Muitos casais, incentivados pelas mulheres, usam o pornô para apimentar a vida sexual do casal. Há muito tempo, a pornografia não pode ser mais considerada só ‘coisa de homem’. Além de mulheres também consumirem material adulto, elas já estão saindo na frente em alguns quesitos. No início deste ano, uma nova pesquisa realizada pelo Sexy Hot, em parceria com a empresa Toluna, apontou que, apesar dos assinantes ainda serem majoritariamente masculinos, o número de mulheres vem crescendo ao longo dos últimos anos. Elas representam, atualmente, 44% da base da marca. Isso aponta que os investimentos que o canal tem feito, diversificando e aprimorando o conteúdo com foco na diversidade e na inclusão, trazem efeitos positivos.

Como foi o desafio de moldar os filmes para esse público, atendendo seus gostos?

O ponto de vista feminino é um dos exemplos conceituais que a marca já desenvolve no Sexy Hot Produções (selo de originais e exclusivos): filmes feitos por mulheres, desde o roteiro até a direção, possibilitando histórias mais voltadas para o prazer feminino. A marca pretende continuar contribuindo para uma maior representatividade, que é tão importante e da qual o público está cada vez mais consciente. Para as mulheres, em especial, é uma oportunidade de reflexão sobre autoestima e prazer, de forma aberta e natural.

Você acredita que o acesso ao filme pornô voltado ao público feminino é algo positivo para as mulheres? Por quê?

Sabemos que a indústria tem um histórico e um conceito bastante machista que poderia não favorecer o prazer feminino. No entanto, por que vetar às mulheres a possibilidade de se divertir e se beneficiar com um conteúdo que pode ser estimulante, se ela se imaginar ali em situações estimulantes e eróticas? Através do selo Sexy Hot Produções, nós avançamos bastante nos últimos tempos, nesse sentido. As nossas produções pornôs já estão com um olhar mais cuidadoso com a mulher, começando por não aceitarmos mais a objetificação feminina. Não conseguimos controlar toda a indústria, mandamos na nossa cadeia produtiva específica, mas tentamos influenciar da melhor maneira todo o entorno. E isso reflete no conteúdo do nosso selo, da nossa relação com o elenco, produtoras e assim adiante.

Como o feminismo está presente nesse tipo de conteúdo?

Todas as respostas acima já apontam um caminho evidente de priorização, respeito à mulher e suas escolhas, ampliação de opções para o prazer feminino. Nós, no Sexy Hot, partimos do princípio de que a mulher deve e pode escolher em tudo, inclusive no que a estimula eroticamente. O pornô não deve ser vetado por ser originalmente masculino. Estamos adaptando o mundo às mulheres independentes, e não tem nada mais feminista do que criar mais condições para que o público feminino escolha por si.

Publicidade

Há diversidade LGBTQIA+? Como isso é trabalhado?

Muitas mulheres e representantes da comunidade LGBTQIA+ falam sobre sexo e gostam de pornô, então estamos trabalhando para atender também essa demanda de mercado. Há muitas formas de consumir pornografia e existe espaço para todos os grupos. Constantemente, a grade do canal e a home do streaming é reformulada. Para este ano, o objetivo do Sexy Hot é também investir em diversidade, ou seja, em produções representantes da comunidade LGBTQIA+, sempre dentro do nosso padrão de qualidade. O público quer histórias mais contemporâneas e situações do cotidiano daqui. Ele quer opções, até porque, na hora do sexo, se for consensual, acreditamos que tudo é permitido. No início deste ano, fizemos uma pesquisa com internautas, que citei acima, em todo o país, e ela nos revelou o perfil e os principais interesses dos consumidores de conteúdo pornô e dos assinantes do Sexy Hot. Um dado novo e relevante é justamente o público LGBTQIA+, que se destaca com a maior audiência diária, um total de 23%. Esses dados, somados à busca no nosso próprio site, só reforçam o compromisso que temos com a diversidade e mais inclusão de gêneros.

Esses filmes apresentam uma mudança na forma como o sexo é apresentado ao público feminino?

Sim, porque, em consonância com o que eu disse anteriormente, muitas mulheres têm um ponto de vista que é diferente do masculino, não apenas em função do orgasmo masculino. O caminho que se percorre no sexo, o envolvimento, as preliminares, tudo isso, quando levado em conta, torna as produções mais agradáveis para as mulheres. Temos produções para todos os gostos, com diversidade de corpos e de enredos. Investimos em filmes com um conteúdo voltado também para uma visão feminina do sexo.

Você acredita que o conteúdo adulto ajuda a empoderar as mulheres e eliminar tabus? Por quê?

Sim. Fazemos muitos movimentos para que as nossas plataformas acompanhem o que acontece na sociedade de maneira geral. No Grupo Playboy do Brasil, por exemplo, somos uma maioria de mulheres e ficamos muito felizes em participar dessa corrente que trabalha para que as mulheres ocupem todo o espaço a que têm direito e que, antes, era tão prejudicado por uma indústria exclusivamente focada no homem.

Há mais mudanças sendo buscadas pela indústria pornográfica no Brasil?

Produzir filmes com enredos criativos, que fujam do clichê do pornô – inclusive no biotipo das atrizes e atores -, busquem a originalidade e um sexo mais real, é o objetivo da marca. Não é só sobre sexo, o propósito da nossa marca é sobre vida e prazer. Defendemos uma nova era para o pornô, acessível a todos, democrático e cada vez mais possível.

Publicidade

Escritora com 8 livros publicados e apresentadora de um programa de rádio sobre literatura nacional, o Capivaras Leitoras. Ama ler, viajar e passar um tempo com a Buffy, sua cachorrinha vira-lata.