Sociedade

Como saber se eu sou uma mulher feminista?

Dicas de Mulher

A socióloga Gabriela Caruso e a cientista política Beatriz Sanchez explicam as reivindicações do movimento e te ajudam a identificar se você faz parte

Atualizado em 23.03.23
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Pesquisa recente do Instituto Ipsos mostra que 51% das brasileiras entre 16 e 74 anos se consideram feministas. Esse dado é simbólico: significa dizer que mais mulheres se identificam com a luta feminista e apoiam e anseiam por igualdade entre homens e mulheres e por mais direitos femininos, celebra Beatriz Sanchez, feminista e doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP).

Gabriela de Brito Caruso, doutora em Sociologia e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina (NETSAL), também comemora: “isso é importante, pois só reconhecemos uma violência quando podemos nomeá-la, e o feminismo nos dá essa lente pra enxergar essas discriminações, mas mais que isso, nos dá um horizonte para lutar contra elas, e pelos nossos direitos”, afirma.

Na percepção de Beatriz, o dado também demonstra que as representações estereotipadas e radicais de “mulheres que queimam sutiãs, não se depilam, não gostam de homens”, como lembra a cientista política, são substituídas pelo maior conhecimento dos pilares do feminismo e de suas vertentes.

Já para a socióloga, “você ganha mais liberdade para ser o que é, com menos amarras. A sociedade ganha, pois se torna mais igualitária, mais democrática, mais justa. É um processo longo e não linear, pode haver retrocessos, mas há uma tendência difícil de reverter”, afirma. Meninas e mulheres também ganham “porque têm mais recursos para se defender e lutar contra o machismo”.

“Essa conscientização política é benéfica para a sociedade brasileira porque demonstra que a violência contra as mulheres e outras formas de desigualdade de gênero como a desigualdade salarial entre homens e mulheres, a negação dos direitos reprodutivos da população feminina, a subrepresentação política nos espaços de poder, nenhuma delas serão mais aceitas”, afirma Beatriz Sanches.

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Exemplos desses benefícios são vistos na política, aonde o movimento feminista vem atuando para garantir direitos, principalmente após os anos 2000 com a institucionalização dos movimentos sociais pelo Poder Legislativo, conta Beatriz.

“Como fruto deste processo no âmbito Legislativo tivemos a aprovação de uma série de legislações voltadas para a garantia dos direitos das mulheres, como a Lei Maria da Penha e a PEC das Domésticas”, afirma a socióloga. Apesar da relação entre os movimentos sociais e o Estado estarem enfraquecidas no momento, é importante lembrar que há pessoas trabalhando contra retrocessos, muitas delas feministas.

Como saber se sou feminista?

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O feminismo é um movimento plural e busca atender a todas em suas singularidades, interesses e necessidades. Gabriela Caruso acredita que o mais importante e o maior desafio do movimento hoje é justamente incluir todas essas dimensões de luta por justiça social, para torná-lo inclusivo de fato.

Apesar disso, Caruso e Beatriz concordam que é possível pensar em características fundamentais para se reconhecer feminista. Veja a seguir quais são elas:

Igualdade entre homens e mulheres

“A principal característica que torna uma pessoa feminista é a defesa da igualdade entre homens e mulheres em todos os âmbitos da vida, seja econômico, cultural ou político”, afirma Beatriz Sanches.

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No âmbito econômico, a cientista política aponta a defesa da redistribuição igualitária dos recursos materiais da sociedade e a redistribuição das tarefas domésticas e de cuidado. Já no âmbito da política, ser feminista é defender formas igualitárias de representação nos espaços de poder.

Já âmbito cultural, a valorização, de forma igualitária, dos papéis de gênero associados a homens e mulheres. “Mais do que isso, reconhecer outras formas de expressão do gênero que não se adequam a binarismos, indo além da ideia de que existem ‘coisas de menino’ e ‘coisas de menina’”, pontua.

Compreender que mulheres são seres humanos complexos

Todos têm desejos, paixões, raivas, qualidades, defeitos, inclusive mulheres. “Nem tudo o que uma mulher faz gira em torno de um homem, nem todas as mulheres pensam igual, agem igual. Cada um de nós é um ser humano complexo tal qual são os homens. Não há nenhuma natureza intrínseca a nós”, afirma Caruso.

Reconhecer que mulheres são sujeitos de direitos

Assim como todo ser humano, mulheres também têm direitos. Eles são fundamentais em sociedade e precisam ser reconhecidos e respeitados. Atualmente, muitos deles têm sido ameaçados. “Apesar disso, temos parlamentares feministas eleitas que estão atuando no Congresso Nacional para evitar retrocessos em relação aos direitos conquistados”, afirma a cientista política.

Admitir que mulheres sofrem discriminação baseada em gênero

“Ser feminista é também reconhecer as diversas formas de opressão que atravessam o grupo ‘mulheres’, como o racismo, as desigualdades de classe e a heterossexualidade compulsória”, diz Beatriz.

Anos de opressão, machismo e patriarcado sobre as mulheres não resultam em igualdade entre os gêneros quando o status quo é ameaçado. Mulheres ainda são desestimuladas a permanecer no ambiente de trabalho e na política, ganhando menos para exercer as mesmas funções masculinas e sendo sobrecarregadas com atividades domésticas generificadas.

Leis como a do feminicídio vêm para protegê-las e são mais que necessárias. Só em 2021, 1.341 mulheres sofreram feminicídio; 2.028 delas foram tentativas, de acordo com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022 .

Acreditar que mulheres são capazes

Para Gabriela Caruso, ir além das expectativas e papeis sociais impostos pela sociedade exige força. E toda mulher a possui, só é preciso abraçá-la e acreditar ser capaz de “ousar sermos nós mesmas”, afirma.

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Apoiar a luta e se juntar à ela

A união de todos é necessária para que o feminismo possa construir um mundo mais saudável e igualitário para homens e mulheres. Elas, no entanto, têm papel fundamental nessa mudança, isto é, “fazer nossa parte para avançar nos direitos das mulheres, para somar a luta organizada, apoiar nossas meninas e mulheres, para mudar a nós mesmas e a nossa sociedade”, conclui Gabriela Caruso.

Comunicadora, voluntária e empreendedora. Apaixonada por moda, leitura e horóscopos. Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela PUC-Rio, com domínio adicional em empreendedorismo.