Bem-estar

Endometriose: entenda a doença que atinge cerca de 10% das mulheres

Dicas de Mulher

Atualizado em 11.05.23

A endometriose é uma das doenças mais prevalentes entre as mulheres em idade reprodutiva (de 13 a 45 anos, mais ou menos). Estima-se que de 10% a 15% das pessoas do sexo feminino, dentro da faixa etária mencionada, são afetadas por essa afecção. Nas redes sociais, várias artistas se mobilizam para conscientizar sobre o assunto. Entre as famosas que apresentam o quadro, estão Anitta, Larissa Manoela, Patricia Poeta, Tatá Werneck, Wanessa Camargo e Giovana Ewback.

O principal aspecto, citado pela maior parte delas, é a dificuldade para diagnosticar o problema, como aconteceu com a Anitta. A cantora lançou uma thread no Twitter contado sua saga: a dor após as relações sexuais foi confundida com cistite (um tipo de infecção urinária), porém, na verdade, era endometriose.

Isso acontece porque os sintomas da endometriose são considerados corriqueiros pela paciente ou pela sua equipe de saúde. “Além disso, os exames de rotina não são capazes de identificar as lesões”, reforça a ginecologista Janaina Ribeiro, pós-graduada em Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia pela Fetus – SP. Abaixo, a especialista explica a causa, os sintomas, o diagnóstico, tratamentos e mais. Acompanhe!

O que é o endometriose

A endometriose ocorre quando há tecido endometrial, que normalmente reveste a cavidade interna do útero, em outras regiões do organismo. Geralmente os locais mais afetados são os ovários, parte externa do útero, trompas, septo reto-vaginal, parede da pelve, bexiga, intestinos, entre outros.

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Infográfico como é um útero afetado pela endometriose

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Mesmo fora do útero, o tecido endometrial é afetado pelo ciclo hormonal feminino, por isso, há sangramento nessa região durante o período menstrual. Isso provoca um quadro inflamatório, bastante dor e pode afetar a fertilidade.

Quais as causas da endometriose?

Não se sabe ao certo o que causa a endometriose, no entanto, existem diversas teorias. De acordo com Ribeiro, entre elas, está a menstruação retrógrada: “o sangue menstrual e o tecido endometrial são expelidos através das trompas em direção aos ovários e na cavidade abdominal”.

Outras possíveis causas são: o transporte das células endometriais pelos vasos sanguíneos ou linfáticos; e a transformação de células fora do útero em células endometriais. Além disso, acredita-se que há um fator hereditário na endometriose, já que ela é mais comum em mulheres que possuem parentes em primeiro grau com o quadro (mães, irmãs e filhas).

Fatores de risco

Alguns estudos apontam que o desenvolvimento da endometriose pode estar relacionado ao medicamento dietilestilbestrol. Assim, as mulheres cujas mães tomaram esse remédio durante a gravidez apresentam maior propensão à doença. Fora isso, os fatores de risco mais conhecidos e comuns são:

  • Aquelas nunca tiveram bebês ou foram mães após os 30 anos.
  • Começaram a menstruar mais cedo do que o normal ou pararam de menstruar mais tarde.
  • Possuem ciclos de menos de 27 dias (considerados curtos), mas com fluxo menstrual intenso e com duração de mais de oito dias.
  • Apresentam anomalias estruturais uterinas.

Ao perceber alguma mudança no seu ciclo menstrual, é importante buscar ajuda profissional. Nem sempre as alterações estarão relacionadas à endometriose, no entanto, elas dizem muito sobre sua saúde.

Fatores protetivos

Não há uma prevenção primária para remover o que poderia causar o desenvolvimento da doença. Entretanto, atualmente, já se fala em fatores que parecem ser protetivos:

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  • Múltiplas gestações.
  • Menstruação ter iniciado tardiamente.
  • Amamentação de longa duração.
  • Uso prolongado de anticoncepcionais orais de baixa dosagem.
  • Atividade física regular, principalmente começando antes dos 15 anos.

Por causa dos fatores apresentados acima, a endometriose é popularmente conhecida como “a doença da mulher moderna”. Cada vez mais, as mulheres optam por não engravidar ou esperam para ter filhos quando estiverem financeiramente estabilizadas.

Sintomas da endometriose

A endometriose afeta o dia a dia da mulher, tanto a vida pessoal quanto profissional, pois ela é uma doença muito dolorida, por vezes, se estende por vários dias e pode causar dificuldade para engravidar ou infertilidade. Entre os sintomas, no período da menstruação, as cólicas são intensas, além de haver sangramento intestinais e urinários.

Muitas mulheres relatam dores durante ou após as relações sexuais e inchaço abdominal (principalmente se o tecido endometrial estiver nos intestinos). Também é comum o surgimento de endometriomas, isto é, massas cheias de sangue, próximas aos ovários, que se roupem e causam dores súbitas.

Os sintomas são considerados inespecíficos (pode variar de pessoa para pessoa, com mais ou menos intensidade), o que dificulta o diagnóstico. Além disso, algumas mulheres, dependendo do tipo de endometriose, não apresentam sintomas.

Tipos de endometriose

Como já dito, muitas vezes, a mulher não sente dor e demora anos para descobrir a doença. Em entrevistas, Patrícia Poeta disse que só foi diagnostica com endometriose após 40 anos. O caso dela não é único. Além da falta de conscientização, há 3 tipos de endometriose, o que pode retardar o diagnóstico:

  • Superficial: com lesões que normalmente se encontram no peritônio (membrana que reveste o interior do abdômen) até o diafragma.
  • Ovariana: causa os já citados endometriomas.
  • Profunda: ocasiona lesões de mais de 5 mm na bexiga, intestino, apêndice e provocam dores maiores nas pacientes.

A depender do local e do tipo de endometriose, é mais fácil diagnosticar por ressonância magnética ou ultrassonografia. Além disso, varia o tipo de tratamento.

Diagnóstico da endometriose

No geral, há um espaço de 8 a 10 anos entre o início dos sintomas da endometriose e seu diagnóstico. Como já explicado, isso ocorre principalmente por uma desvalorização dos sintomas (entre eles, a cólica menstrual) por parte da paciente e da equipe de assistência à saúde. Entretanto, a demora também está relacionada à dificuldade de observar a endometriose em exames.

O padrão-ouro para a detecção da endometriose é a videolaparoscopia. O exame é bastante invasivo, um ou mais portais são abertos por incisão para inserção de uma cânula com uma câmera por onde o médico observará as lesões e poderá retirar amostras dos tecidos endometriais fora do útero para a análise (a chamada biópsia).

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No entanto, antes de partir para um procedimento cirúrgico como esse (que precisa ser feito em um hospital), o médico pode recorrer à ultrassonografia e à ressonância magnética, ambas feitas com preparo intestinal para facilitar a localização das lesões. Esses exames costumam ter mais resultado quando o médico que os realiza e/ou analisa teve um treinamento específico.

Tratamentos para a endometriose

Uma vez que a doença é diagnosticada, o médico precisa avaliar alguns fatores: sintomas, a fase e o tipo de endometriose, bem como se a mulher tem ou não planos de engravidar. A partir disso, ele determinará o melhor tratamento. As opções são:

infográfico de opções de tratamento para a endometriose

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Anticoncepcionais

“Os anticoncepcionais que suspendem a menstruação são uma opção de tratamento para pacientes que desejam contracepção”, explica Ribeiro. Normalmente, por alterarem o ciclo menstrual, eles evitam os sangramentos fora do útero, o que reduz sintomas, como as dores e inchaço abdominal.

Geralmente, são indicados anticoncepcionais que combinam estrogênio e progesterona. Porém, se a paciente não puder usar esse tipo de pílula, os médicos indicam progestinas (base hormonal do DIU, por exemplo) e agonistas de GnRH (que impedem a produção dos hormônios nos ovários).

Outros medicamentos e cirurgia por videolaparoscopia

O médico pode receitar anti-inflamatórios não esteroides (AINEs). Essa é uma via de tratamento para mulheres que não desejam engravidar e apresentam sintomas mais leves. Em alguns casos, é preciso realizar a cirurgia por videolaparoscopia. Segundo Ribeiro, o procedimento é indicado quando há dor sem melhora significativa com tratamento clínico, endometriose na bexiga, ureter e apêndice, além de endometriose com papilas vascularizadas.

Muitas vezes, durante a laparoscopia diagnóstica algumas lesões já podem ser removidas, cauterizadas ou destruídas com o uso de laser. Mulheres com endometriomas também precisam passar pela cirurgia, pois a remoção diminui as chances de reaparecimento.

Dúvidas sobre a endometriose

Por ser uma doença que atinge muitas mulheres e com as famosas trazendo o assunto para a esfera pública, é comum surgirem dúvidas sobre a endometriose. Em conversa com o Dicas de Mulheres, a ginecologista Janaína Ribeiro respondeu 5 delas:

Dicas de Mulher – Existe alguma forma de prevenir a endometriose?

Janaína Ribeiro – a forma de prevenir a endometriose ou de evitar que o problema se agrave é a mesma para a maioria das doenças: exercícios físicos, alimentação saudável, evitar situações estressantes e cuidar melhor da saúde mental. Além disso, é indicado evitar o consumo de bebidas alcoólicas, pois o álcool promove alterações hormonais.

Endometriose sempre causa dor?

A endometriose se manifesta de formas diferentes, podendo, inclusive, ser assintomática. Os sintomas variam de acordo com a localização e a gravidade das lesões. O principal é a cólica, mas algumas pacientes podem não apresentar dor.

O que pode acontecer se a endometriose não for tratada?

Uma das principais complicações da endometriose é a infertilidade. Como a doença também atinge mulheres jovens, em idade de engravidar, é possível que isso gere um grande prejuízo no planejamento de vida dessas pacientes. Por isso, é fundamental buscar o tratamento adequado o quanto antes.

Além da infertilidade, a endometriose oferece outros riscos à saúde, por exemplo, perda ou prejuízo de função renal por nódulos que podem prejudicar o trajeto da urina desde o rim até a bexiga, bem como quadros que simulam infecções urinárias, causando dores e urgência miccional.

A paciente pode sofrer com diarreia, constipação intestinal, dores ao defecar e obstruções parciais ou totais dos intestinos, dor pélvica crônica causada por acometimento de nervos da pelve (pernas, glúteos, dentre outros), além de dores nos ombros ou tosse com sangue quando a endometriose tem origem no diafragma. É importante destacar que a doença tende a comprometer a saúde mental, seja pelos sintomas, possibilidade de infertilidade ou outras complicações.

Quem tem endometriose pode engravidar?

A endometriose, apesar de ser uma das principais causas de infertilidade feminina, nem sempre causa dificuldade para engravidar. Quando ela é a causa da infertilidade, existem tratamentos para a doença que podem melhorar as taxas e, assim, possibilitar a gestação.

Endometriose pode engordar?

A verdade é que não há uma ligação direta entre a doença e o aumento de peso. Isso significa que a endometriose propriamente dita não favorece que a mulher engorde.

Falar sobre endometriose é colocar em pauta a saúde íntima feminina. Outra doença que afeta mulheres em idades reprodutivas é a síndrome do ovário policístico, que também causa infertilidade e problemas no ciclo menstrual. Cuide-se e compartilhe a informação!

As informações contidas nesta página têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.