COLUNA

Como saber se sofri um abuso ou assédio sexual?

Dicas de Mulher

Muitos abusos ocorrem de forma sutil, fazendo com que as mulheres sequer compreendam que foram vítimas

O número de mulheres que são vítimas de abuso sexual é muito alto no Brasil. Uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública relata que, apenas no último ano, 46,7% das mulheres brasileiras de 16 anos ou mais sofreram alguma forma de assédio sexual. Abuso e assédio são coisas diferentes, podem ser definidas da seguinte maneira:

Assédio sexual significa qualquer avanço sexual indesejado, conduta verbal ou física de natureza sexual, pedido de favor sexual ou outro comportamento considerado uma ofensa, ou humilhação contra alguém. O abuso em si é a intrusão física (real ou em ameaça) de natureza sexual, pela via da força ou de condições desiguais e coercitivas.

Isso quer dizer que o abuso está mais ligado a situações em que o contato físico de cunho sexual está em jogo, ainda que seja de forma ameaçadora; enquanto o assédio inclui também apelos, falas e situações constrangedoras.

Ao contrário do que muitos pensam…

Como podemos ver, ao contrário do que muitos pensam, abuso e assédio sexual ocorrem não só quando há uma violação direta do corpo da mulher, mas de outras formas que podem ser sutis e passarem desapercebidas. Também, ao contrário do que a maioria acredita, os assediadores são pessoas íntimas da vítima, da própria família, do círculo social, do trabalho e até de profissionais que eventualmente prestam serviços à vítima. Nesses casos, o assédio fica pode ficar “camuflado” e a vítima demora a perceber que foi desrespeitada, uma vez que acredita conhecer bem o agressor.

A sensação pós-assédio

O que vítimas de assédio e abuso sexual relatam é uma sensação de confusão após o ocorrido. Muitas acabam “congelando” diante da ação do abusador, não conseguem fugir, falar ou reagir, por se tratar de um momento traumático. Após o fato, é comum que as memórias fiquem insistindo em voltar, além de questionamentos sobre o que ocorreu. Nesse momento, é importante que a vítima compreenda que a culpa nunca é dela, que mesmo que ela tenha “travado” diante do fato, isso não faz com que ela carregue qualquer responsabilidade sobre o que aconteceu.

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Comentários inoportunos, toques sem autorização, solicitações para que a vítima aja de forma desconfortável, pedidos e ações que expõem o corpo e a intimidade de alguém… tudo isso é assédio! A educação sexual é importante para que nós saibamos sobre nossos limites, para podermos entrar em contato com nós mesmas e percebamos que algo ali não está certo.

Denunciar é indispensável

A pesquisa citada também estima que cerca de 45% das mulheres vítimas de qualquer tipo de agressão não denunciaram seu agressor. Dentre os motivos listados, estão: medo de represálias, a crença de que aquilo não era importante, ou de que a polícia não pudesse oferecer solução para o problema. A maioria das vítimas de violência sexual não encontra justiça para os casos. A dor de ter sido tocada sem autorização ou humilhada por um agressor é uma marca que não se apagará da memória da vítima.

Ainda sim, é possível fazer algo a respeito, porém, também temos avanços consideráveis nesse campo que garantem o amparo jurídico e psicológico às vítimas. As muitas denúncias que aparecem dia após dias nas delegacias de todo país contribuem para que as estatísticas gritem por políticas públicas mais firmes e leis mais rígidas que nos protejam. Da mesma forma, denunciar um abusador é elaborar em nossa mente que não ficaremos caladas, que podemos falar sobre isso e ajudar outras vítimas. A compreensão do trauma por meio da fala, da denúncia e do compartilhamento de histórias é fundamental para nos curarmos daquilo que nos feriu, ainda que haja tanta batalha pela frente.

Um caso de abuso não define a sua história. Mas a denúncia pode ser a força necessária para que a sua vivência não se resuma a isso.

Uma mulher que sofreu qualquer tipo de assédio sexual ou abuso pode procurar a delegacia mais próxima para abrir um boletim de ocorrência. Se houver uma delegacia da mulher disponível, ela sempre deverá ser procurada primeiro. Lá, os profissionais poderão ouvir a denúncia e orientar sobre formas de proteção e questões legais.

Se você passou por alguma situação na qual se sentiu exposta sexualmente, humilhada, se foi tocada de uma maneira invasiva – ou mesmo “estranha” – por um conhecido ou desconhecido, se recebeu solicitações para agir de maneiras que exponham sua intimidade, você pode ter sido vítima de abuso e assédio sexual. Procure a delegacia da mulher e denuncie. Cuide de você e das outras mulheres que podem estar passando pelo mesmo.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Psicanalista e Palestrante, graduada em Psicologia e em Letras, com Mestrado e Doutorado em Linguística e Pós-Graduada em Sexualidade Humana. Dedica sua carreira ao desenvolvimento de mulheres líderes no trabalho, nos relacionamentos e na vida. É autora do livro "A linguagem da loucura" e empresária, ama comunicação, esportes, viagens e celebrações.