COLUNA

Quero criar coragem para viajar sozinha. Me ajuda?

Dicas de Mulher

O medo de desbravar o mundo pode ir além da questão da segurança, temos que lidar com impeditivos econômicos e, os mais desafiadores, emocionais

É totalmente compreensível que nós, mulheres, tenhamos medo de viajar sozinhas. A gente sabe que muitas violências de gênero são universais. E se nos sentimos vulneráveis para voltar do bar para casa com um motorista de aplicativo, imagina estando distante dos nossos pontos de referência?

Para que eu me sinta mais confiante, a primeira coisa que eu costumo fazer é estudar o local para onde irei. Isso quer dizer entender não só quais são os bairros com melhor estrutura, onde ficam os restaurantes mais instagramáveis e quais pontos turísticos não deixar de fora. A dica aqui está ligada ao que você precisa saber sobre o contexto social do seu destino. Para isso, um truque certeiro é ler as notícias sobre esse lugar por meio da Internet.

Dessa forma você fica sabendo coisas simples como a previsão do tempo para aquela época do ano, até se o entorno está passando por conflitos regionais. Parece exagero. Mas imagina se hospedar em um lugar que passou por um desastre natural ou bolar um roteiro inteiro baseado em um ponto turístico que está desativado? Pior ainda é escolher, digamos, um destino no exterior e chegar em meio a protestos políticos, como os que acontecem com frequência em países latinos (incluindo o nosso).

Sei que se manter alerta não combina com a vibe “deixa a vida me levar” que a gente deseja adotar nas férias. No entanto, é importante se preparar. Não é só porque você decidiu ir para uma cidade praiana ou para um país com baixo índice de criminalidade que você vai, por exemplo, se esquecer dos riscos de passear sozinha, à noite, pelas ruas.

Veja que não estou sugerindo que você, necessariamente, só ande acompanhada ou que não vá. A sugestão é que você use sua intuição e algumas medidas básicas como: dar preferência para áreas com maior movimento, avisar seus contatos em casa (e o pessoal do hotel) onde você está indo e a que horas pretende voltar. Ah, e não se esqueça de se informar sobre como funciona a oferta de transporte à noite.

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Quando eu viajei sozinha para a Alemanha em 2010 precisei aprender a duras penas que transporte por aplicativo não existia por lá, que os ônibus têm um horário rígido de saída e chegada e que não é comum encontrar ponto de táxi. Nessa ocasião eu estava viajando porque havia recebido uma bolsa para trabalhar e receber capacitação na Deutsche Welle, um canal de comunicação alemão. Essa é uma ótima solução para quem quer se arriscar no exterior e não tem meios financeiros para isso. Existem diferentes tipos de bolsas, com propostas distintas. A minha exigia alemão intermediário e formação em jornalismo. Você pode tentar procurar incentivos para estudantes/viajantes dentro da sua área e ver o que encontra.

Antes dessa aventura também viajei para o Canadá, quando era recém-formada. Na ocasião, só consegui custear a viagem porque negociei com meu antigo chefe um acordo bacana, depois de quatro anos de empresa. Também me propus a trabalhar lá desde o primeiro fim de semana conseguindo, com isso, me manter por oito meses.

Caso nada disso tenha feito sentido para você, vou tentar outra abordagem sobre o que pode ser o ingrediente que falta para que sinta coragem de viajar. Será que não tem uma voz na sua cabeça questionando se você dá conta? Se não te julgarão? E como você lida com a sua própria companhia? Nem todos se sentem à vontade desacompanhada porque o silêncio, muitas vezes, nos obriga a olharmos para ninguém mais além de nós.

Esse exercício de autoconhecimento, de se permitir saber nossos gostos e vontades além da opinião e influência dos outros é algo que surge naturalmente quando você está só. E é maravilhoso. Ao viajar ou até mesmo sair para ir ao cinema e jantar sozinha você tem a chance de observar o mundo de um jeito único, tendo como mediador simplesmente seus desejos, interesses e personalidade. E eu te garanto, isso basta para te acompanhar onde quer que você vá.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Monique dos Anjos é jornalista, consultora antirracista e escritora de contos eróticos para mulheres. Com 20 anos de experiência na escrita de reportagens sobre o universo feminino, hoje estuda gênero e raça enquanto educa três crianças incríveis que a motivam a reconhecer a felicidade todos os dias e em todas as coisas.