COLUNA

Pia Sundhage é a primeira mulher a comandar Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo

Dicas de Mulher

Emily Lima, primeira treinadora mulher da equipe, não chegou a disputar o Mundial.

Pia Sundhage encantou muitos brasileiros e brasileiras ao interpretar Anunciação de Alceu Valença em um vídeo, em 2020. Ela contou que, quando ouviu todo mundo cantando, inclusive sua assistente sueca, sabia que “essa era uma música para nós”. Mas quem acha que o talento musical da treinadora começou ali, se engana. Em 1971, aos 11 anos, Pia foi notícia em um jornal sueco por ser “uma das sensações da noite”, em um concurso musical.

Contudo, as habilidades da treinadora, obviamente, vão muito além da música. Aos 15 anos, ela já jogava na seleção principal da Suécia e chega para a Copa do Mundo de 2023, aos 63 anos, como um dos grandes nomes do futebol feminino.

A carreira de jogadora

Assim como muitas mulheres, o início da carreira de Pia não foi nada fácil. Sem muitos times femininos na época, ela contou em entrevista para a Fifa TV, que chegou a se disfarçar de menino para conseguir atuar.

Apesar das dificuldades, deu tudo muito certo: em 1984 ela foi campeã e artilheira da primeira Euro feminina, além de terceira colocada em 1989 e segundo lugar em 1987 e 1995. Ainda hoje, é uma das maiores jogadoras da equipe, com 146 partidas disputadas e 71 gols marcados.

Pia encerrou a carreira como jogadora em 1996, mas não ficou muito tempo distante do futebol.

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Como treinadora

Em 1998, começou como assistente técnica de um clube da Suécia. Depois, treinou alguns clubes no país e nos Estados Unidos. Em 2007, já era treinadora da seleção estadunidense, uma das mais fortes do mundo no futebol feminino, onde conquistou duas medalhas de ouro nas Olimpíadas e foi vice-campeã da Copa. Por conta desse trabalho à frente da seleção dos EUA, foi eleita a melhor técnica do mundo em 2012.

Contudo, para nós, brasileiras e brasileiros, o talento de Pia enquanto treinadora nem sempre foi motivo de comemoração. Em jogos contra o Brasil, as equipes da sueca levaram a melhor nas Olimpíadas de Pequim, na Copa do Mundo de 2011 e nas Olimpíadas de 2016. Nesta última, o Brasil jogava em casa, com o Maracanã lotado.

Desde 2019, porém, temos a sorte de contar com Pia a nosso favor. Com a Seleção Brasileira, a técnica conquistou a Copa América de 2022 e disputou a “Finalíssima” feminina, perdida nos pênaltis para a Inglaterra, mas com um ótimo e disputado jogo, o que animou e trouxe esperança para muitos torcedoras e torcedores com relação à Copa do Mundo.

Desafios e críticas

Um dos maiores desafios de Pia na Seleção é a renovação da equipe e a busca por protagonismo no futebol feminino, já que as brasileiras ainda não ganharam a principal competição do esporte. Com jogadoras como Formiga deixando o time, Marta jogando a última Copa e Cristiane não sendo convocada, novos talentos vão entrando em campo. Muitas jogadoras vão disputar o Mundial pela primeira vez.

Contudo, de última hora, nomes como a goleira Bárbara e a zagueira Mônica Hickmann apareceram na lista de convocadas e geraram muitas críticas à treinadora. Mônica não vinha sequer sendo convocada e a própria jogadora revelou que não esperava fazer parte da lista. Bárbara, apesar de muita experiência, não vinha fazendo um grande trabalho em campo.

Torcedores e torcedoras também reclamaram da falta de Cristiane na disputa. Jogando muito bem pelo Santos, muitos ainda tinham esperança de ver a jogadora em campo.

O estilo de jogo trazido por Pia também não é unanimidade. Mas o fato é que, sob o comando dela, a seleção tem evoluído em diversos aspectos, dentro e fora de campo. E, de certa forma, podemos dizer que as críticas em si já são um avanço. Isso mostra que há mais gente preocupada com a modalidade, discutindo aspectos de jogo e contestando escolhas.

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Avanço para as mulheres

Para além das questões de jogo, é motivo de comemoração que uma mulher esteja na direção da Seleção. Mesmo no futebol de mulheres, os homens em cargos de comando sempre foram maioria. As brasileiras só foram comandadas por uma mulher uma vez antes de Pia, com a treinadora Emily Lima, que só ficou 10 meses no cargo. Assim, Pia será a primeira a disputar uma Copa do Mundo.

Além disso, 17 das 31 pessoas que fazem parte da delegação são mulheres, algo inédito até então. E não para por aí: pela primeira vez a seleção feminina contou com traje oficial de viagem e voo fretado para chegar ao Mundial. Para se ter ideia, em 2016 não havia mulheres na comissão técnica e na Copa de 2019, após exigências da Fifa, apenas duas estiveram presentes. As mudanças também aconteceram nos bastidores, com mulheres como Aline Pellegrino e Ana Lorena Marche, responsáveis pela modalidade na CBF, algo que antes, muitas vezes, ficava a cargo de homens com pouca ou nenhuma ligação com o futebol feminino.

Mas vale lembrar que esse movimento de ocupação de espaço ainda não é realidade no campeonato nacional. Embora haja certa evolução, poucas são as treinadoras que comandam equipes femininas e o número de mulheres nas comissões técnicas e direções ainda é muito baixo.

Expectativas

Conquistar um título de Copa do Mundo já em 2023 não será tarefa fácil para Pia Sundhage. Com todas as mudanças, jogadoras jovens chegando e tentativa de consolidação recente do futebol de mulheres no Brasil, o título é mais aguardado para 2027. Mas quando se trata de futebol, nada é impossível.

Com uma treinadora experiente e vitoriosa no comando, a conquista da primeira Copa para as mulheres está no imaginário de muitos brasileiras e brasileiros. Por isso, esperamos mesmo que Anunciação seja uma canção para nós. Vem, título de Copa do Mundo! Já estamos escutando os teus sinais!

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Jornalista, professora, especialista em Jornalismo Esportivo e mestre em Sociedade e Desenvolvimento pesquisando futebol e torcidas.