COLUNA

Unhas nuas: nem vem que não tem, esmalte!

Dicas de Mulher

Minhas unhas nunca foram esmaltadas, sempre ficaram nuas, e eu te conto o motivo! Mas, antes, alguns esclarecimentos são necessários.

Não se trata das “virgin nails” criadas em Kiev, na Ucrânia, antes da capital ser destruída pelos russos. Lá, a técnica consiste em criar sobre as unhas naturais desenhos geométricos minimalistas. Ou seja, essas unhas não são sempre nuas; elas recebem algum tipo de pintura.

Também não me refiro ao ocorrido em 2020, durante a pandemia da covid-19, quando os salões de beleza ficaram fechados por vários meses, obrigando muitas mulheres a trocaram as unhas coloridas semanalmente pelas ‘naked nails’, unhas nuas. Essa opção foi circunstancial e, não é esse o meu caso.

Podem até dizer por aí que quero imitar a duquesa Kate Middleton (casada com o Príncipe William da Inglaterra), que raramente pinta as unhas e, quando o faz, é com cor nude. Não é isso o que ocorre comigo. E essas unhas também não são naturais.

Bem como não é uma tentativa de imitar a famosa ativista ambiental Fê Cortez, idealizadora do Menos 1 Lixo, movimento de educação ambiental. Ela afirma que parou de pintar as unhas para se libertar dos padrões impostos pela sociedade patriarcal, porque pintar as unhas não condiz com a rotina do dia a dia e porque os esmaltes são tóxicos, prejudicando a saúde e o meio ambiente. Concordo com todas as razões elencadas pela ativista, entretanto também não é esse o principal motivo que me fez optar pelas unhas nuas.

Difícil acreditar, né? Mas é verdade. Repito: minhas unhas nunca foram esmaltadas. E olha que minha mãe teve salão de beleza por décadas, e ela sempre insistia para que eu pintasse as unhas, desde criança. Foi difícil resistir às investidas da matriarca.

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De fato, não fui contagiada pela epidemia do uso dos esmaltes, essa verdadeira “compulsão esmaltística” que tomou conta do Brasil e do mundo. Nosso país é o segundo na classificação dos que mais consomem esse produto no mundo. Crescimento que talvez se deva ao fato de que, perante outros produtos de beleza da moda, os esmaltes são mais baratos.

Então, seria um caso de absoluta falta de vaidade? Realmente, não sou muito vaidosa. Porém, igualmente não é isso que justifica eu não pintar as unhas.

A cultura do esmalte é muito forte no Brasil. Inclusive, num passado não muito distante, esmaltar as unhas funcionava como um rito de passagem, marcando o início da fase adulta. Simbolicamente, representava “agora você é mulher”. Atualmente, muitas crianças pintam as unhas e, esse rito perdeu significado. Com essa constatação não desejo afirmar que o feminino se defina por padrões estéticos, como pintar as unhas. Longe disso. Não sou muito ligada a esses padrões.

Repentinamente lembrei do refrão da música ‘Tudo ok’, que exalta padrões, entre outros, o da unha esmaltada: “É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez. Cabelo ok, marquinha ok, sobrancelha ok, a unha tá ok. Brota no bailão pro desespero do seu ex” (Thiaguinho MT).

Dias desses, fiquei perplexa diante de uma cena protagonizada pelo Procurador geral da República, Augusto Aras. No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, numa bizarra tentativa de homenageá-las, Aras afirmou que as mulheres têm “principalmente o prazer de escolher a cor da unha que vai pintar”. Ele poderia realçar a competência feminina nas suas carreiras profissionais mas preferiu apenas reforçar estereótipos ligados ao gênero feminino.

Bem, estou muito dispersa. Volto ao meu foco, minhas unhas eternamente nuas.

Tenho certeza que meus companheiros de magistério podem estar se perguntando se acaso eu não pinto as unhas porque me cansei de ver alunas praticando manicure durante as aulas. Pasmem, isso ocorre sim! Embora essas ocorrências tenham me chateado muito e me obrigado a rever procedimentos pedagógicos, elas não são a causa da opção pelas unhas nuas.

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Obviamente sempre pesou o fato de eu ser muito preguiçosa e de achar um desperdício gastar tempo pintando as unhas, sendo que o esmalte logo estragaria. Entretanto, meu principal motivo é bem banal. Talvez vocês fiquem até aborrecidos. Assumo sim que todos os motivos elencados no decorrer desse texto podem ter contribuído um pouco para eu não pintar minhas unhas.

Porém, a principal razão reside no fato de que sou algodãofobica! Fobia que se desenvolve por causa da textura do algodão. Sou terrivelmente “algodãofóbica”. Sabe quando os frascos dos remédios vêm com algodão dentro? Só de lembrar disso meus dentes rangem. Sei que é para absorver a umidade e evitar que estraguem, porém meu pavor não diminui.

Quando eu era criança, ficava no salão de beleza da minha mãe e observava que, para pintar as unhas, era necessário usar algodão para retirar o esmalte velho e os excessos do novo, eu tinha aversão àquilo, mas ainda não sabia o motivo. Naquela época a algodãofobia já se manifestava. Eu sentia arrepios, meu corpo contraia e uma descarga de adrenalina invadia meu sangue. E ainda tem os cotonetes e o uso do algodão para curativos.

Recentemente, fraturei meu braço e tive que passar por cirurgia e engessamento. Antes de passar a faixa com gesso, o médico cobre o braço com uma faixa grossa de algodão. Esse algodão ficou vários dias colado ao meu corpo. Foi horrível. Sinceramente, tenho dúvidas se o que mais me incomodou foi a dor da fratura e da cirurgia ou a aversão ao algodão.

Essa minha “gastura” com algodão é a banal causa de eu não pintar as unhas. Só de imaginar que para pintá-las terei que enfrentar o inimigo algodão, eu desisto.

Os cientistas classificam a aflição com o algodão como um distúrbio chamado “defensividade tátil”. Trata-se de uma resposta negativa ou aversiva a alguns tipos de experiência tátil que a maioria das pessoas não considera desagradável ou dolorosa, uma aversão a certas texturas, por exemplo do algodão.

Enfim, a aversão ao algodão é o grande motivo de deixar minhas unhas eternamente nuas. Ah, esqueci, também tenho ojeriza de acetona. Mas isso já é outra história.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Doutora em História, mestra em Educação e graduada em Pedagogia. Professora aposentada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mantém-se na luta cotidiana pela educação de qualidade, democrática e para todos.