COLUNA

Você já tentou vencer a síndrome da impostora?

A autossabotagem e a ideia de precisar dar conta de tudo sozinhas afetam tanto as mulheres que, muitas vezes, pensam em desistir de tudo

A síndrome da impostora ou do impostor atinge a todos, mas principalmente as mulheres. Não sabe do que se trata? Talvez só não saiba de nome, porque já deve ter andado de mãos dadas com ela algumas vezes. Isso se ela não estiver aí ao seu lado agorinha, tão grande que já puxou uma cadeira para se sentar ao lado.

Segundo o Instituto de Pesquisa da USP, trata-se de uma série de pensamentos que alimentam a falta de confiança e mesmo a sensação de que algo conquistado não foi merecido. Rolou uma identificação aí?

Além disso, um estudo recente do KPMG mostra que muitas mulheres, principalmente em cargos de liderança, temem que as pessoas ao redor não acreditem que elas são capazes de fazer um bom trabalho. Janine Goulart, sócia da instituição, assegura que sofremos ainda mais com a síndrome da impostora quando somos a única ou primeira mulher a desempenhar determinada função.

Não ter referências femininas, ainda mais em uma empresa com mais homens, e ser a pioneira em determinado papel traz consigo o peso da responsabilidade. Isso acaba gerando dois dos principais sintomas dessa síndrome: a autossabotagem e a ansiedade. Ao ser tomada por esses dois problemas, a tendência é de julgar não merecer estar em determinado lugar e pensar em desistir. E agora, mais identificação? Pois é…

Mas é claro que cada mulher lida com essa síndrome à sua maneira. Eu, por exemplo, com receio de não dar conta de tudo (e de fato eu nem preciso fazer isso, mas esse é meu lado racional falando) e me mostrar uma má profissional, tendo a buscar formas de resolver conflitos sozinha e sigo mais perfeccionista. Nisso, há grandes chances de parecer egoísta e ambiciosa, quando, na verdade, só estou tentando lidar com a impostora dentro de mim.

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Aposto que essa entidade, se assim podemos chamá-la, tende a te fazer pensar que: não é qualificada suficiente, precisa buscar mais formação, não é a pessoa ideal para determinado cargo, talvez seja jovem demais, faz repensar sua postura, se sorri demais, ou se é séria demais, ou mesmo se sua roupa é ou não adequada. Acertei, né?

Você tem ideia de quantas vezes teve esse tipo de pensamento ao longo da sua carreira? No meu caso, centenas de vezes. Aprendi, inclusive, que me sentir assim é dolorido, mas essa identificação é o primeiro passo para driblar a tal impostora, mandá-la embora.

E por que eu e você acabamos nos sabotando? Ser mulher em um mundo corporativo é difícil. Mesmo que sejamos altamente qualificadas para tais cargos, há um imperativo implícito de que os homens sempre são mais, mesmo que não tenham nossa formação ou experiência. Prova disso é que há áreas nas quais sofremos para entrar e, mesmo estando nelas, nem sempre temos voz.

Diante disso, abraçar bem apertado o autoconhecimento e cultivá-lo é muito importante. Saber que você realmente não é perfeita e vai errar, que não precisa dar conta de tudo, independentemente das ferramentas disponíveis. Afinal, essa ideia veio muito da visão de que uma mulher consegue fazer inúmeras coisas ao mesmo tempo de modo impecável, como cuidar de sua carreira, casa, família, bichos de estimação, ter hobbies, exercitar-se etc.

Para vencer a síndrome da impostora precisamos entender quem somos, o quanto somos qualificadas e que não chegamos a determinada posição por acaso, um descuido do destino. Sermos menos duras com nós mesmas e olharmos para nossos processos com carinho e gentileza são formas de interromper o ciclo autodepreciativo.

Isso fez toda diferença na minha vida, porque me fez acreditar em mim e no meu trabalho, mesmo em momentos difíceis. Relembrei anos de estudo, horas de dedicação, leituras, palestras, cursos, sem falar nas minhas vivências.

É importante não nos sentirmos imaturas por causa da autossabotagem. Entendermos como e por que isso ocorre e procurar caminhos de superação são sinônimos de maturidade emocional. Além disso, estarmos em um ambiente que valoriza as mulheres faz toda a diferença, é uma forma de suporte.

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Liderar de modo solidário também é fundamental (e bonito!), por meio de colaboração e senso de comunidade. Talvez essa seja a parte mais difícil porque é o momento no qual eu e você dizemos à nossa impostora: não precisamos fazer tudo sozinha para provar que somos capazes.

Todos os dias lutamos contra nossa impostora, mesmo quando não estamos atentas a ela. Não desqualifiquemos nenhuma mulher que esteja passando por momentos complexos ou novos na carreira. Estejamos juntas e juntos. Logo vai ficar tudo bem!

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Fez Letras, mas se encontrou na área de Comunicação. Mediadora do clube de leitura #LeiaMulheres e autora do livro de poemas 'O rio seco que vive em mim'. Gosta de planta, de bicho e de gente, mas mais ainda de histórias.