Bem-estar

Alimentação na gravidez: o que comer em cada trimestre?

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Com colaboração da ginecologista e obstetra Dra. Karen Rocha de Pauw

Em 11.09.23

A alimentação na gravidez é essencial para o desenvolvimento do feto e para a saúde da mulher. Nesse período, os pratos saudáveis, com vitaminas, proteínas e nutrientes, precisam atender às necessidades da idade gestacional. A ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana, Dra. Karen Rocha De Pauw, e a endocrinologista, especialista em metabologia, Dra. Maria Fernanda Barca, conversaram com o Dicas de Mulher para esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto.

Conheça a especialista

Dra. Karen Rocha de Pauw é médica ginecologista e obstetra, com especialização em reprodução humana e ênfase em endocrinologia da menopausa. Ela dedica sua carreira à prática da medicina empática e à disseminação de informações sobre saúde.

Por que a alimentação na gravidez é importante?

Uma gravidez dura em torno de nove meses, ou, basicamente, até 41 semanas (para os bebês que aproveitam os recursos da estadia até o mais tardar). Ao longo desse período, geralmente, dividido em três trimestres, ocorre o desenvolvimento do útero, da placenta e do bebê. Assim, uma alimentação equilibrada “fornece os nutrientes necessários para sustentar o crescimento do feto, manter a saúde materna e preparar o corpo para o parto e a recuperação pós-parto”, explica a Dra. Maria Fernanda Barca.

Um prato saúdavel não diz respeito à quantidade de um grupo de alimentos ou outro. É preciso considerar as peculiaridades da fase da gestação para seguir uma dieta equilibrada. Em 2021, o Ministério da Saúde disponibilizou um guia alimentar para gestantes, com orientações sobre itens de importância destácavel, adaptações de quantidade, restrições e dicas de variação.

No pré-natal, o acompanhamento nutricional é importante para detectar inadequações dietéticas, elaborar uma rotina de alimentação saudável, avaliar as necessidades da gestante, bem como prevenir o surgimento de agravos, entre eles, ganho de peso excessivo, pressão alta na gravidez, anemia e diabetes gestacional. As consultas podem começar desde o primeiro trimestre da gravidez.

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Como se alimentar de forma saudável na gravidez

Toda gestante precisa de uma dieta rica em nutrientes específicos, incluindo “ácido fólico, ferro, cálcio, vitamina D, ômega-3 e proteínas de alta qualidade. Os requisitos nutricionais podem variar ao longo da gestação, com um aumento gradual das necessidades calóricas e de nutrientes”, destaca a Dra. Maria Fernanda. Abaixo, as especialistas explicam como se alimentar de forma saudável em cada trimestre da gravidez.

Primeiro trimestre

Nos primeiros três meses, o corpo passa por uma grande carga de estresse, pois, além do feto, a placenta, responsável para transportar alimento ao bebê, está em desenvolvimento. Segundo a Dra. Karen, é preciso focar em uma alimentação que reforce a imunidade da gestante. Para tanto, a orientação médica é consumir:

  • Ácido fólico: o ácido fólico na gravidez previne defeitos do tubo neural no feto. Ele é encontrado em vegetais de folhas verdes-escuras, leguminosas e cereais fortificados.
  • Ferro: ajuda a prevenir a anemia na gravidez. Carnes magras, leguminosas, vegetais de folhas verdes e grãos integrais são boas fontes.
  • Vitamina B6: ajuda a aliviar as náuseas. Presente em aves, peixes, bananas e batatas.
  • Vitamina C: auxilia na absorção de ferro. Frutas cítricas, morangos e vegetais crucíferos são ricos em vitamina C.

De acordo com a Dra. Maria Fernanda, nesse primeiro estágio, “é fundamental se concentrar na formação dos órgãos e no desenvolvimento inicial do feto. As náuseas matinais podem ser um desafio”, por isso, escolha alimentos leves e de fácil digestão.

Segundo trimestre

No segundo trimestre, do quarto ao sexto mês de gestação, a barriga começa a dar sinal e o bebê já tem orgãos e a estrutura musculoesquelética em formação. A grávida precisa consumir mais “proteína, cálcio, vitamina D, magnésio e ferro”, destaca Dra. Karen. Ainda, devido ao crescimento rápido do bebê, a necessidade calórica aumenta, então, a indicação alimentar é:

  • Cálcio: importante para a formação dos ossos e dentes do bebê. Laticínios, vegetais de folhas verdes e alimentos fortificados são fontes.
  • Proteína: essencial para o crescimento e desenvolvimento do feto. Carnes magras, aves, peixes, leguminosas, ovos e produtos lácteos são boas fontes.
  • Ômega-3: contribui para o desenvolvimento cerebral e ocular do bebê. Peixes de água fria, como salmão e sardinha, são ricos em ômega-3.
  • Fibras: auxiliam na digestão e na prevenção da constipação. Frutas, vegetais, grãos integrais e leguminosas são fontes de fibras.

Esse é o momento de focar “na obtenção de nutrientes essenciais para o desenvolvimento fetal”, explica a Dra. Maria Fernanda. Por isso, gestantes com dietas muito restritivas, como é o caso de pacientes veganas ou com intolerância à lactose precisam de um aporte maior. Um nutricionista conseguirá auxiliar essas futuras mamães para evitar a deficiência nutricional.

Terceiro trimestre

No último trimestre da gravidez, há um ganho maior de peso. A Dra. Maria Fernanda explica que “o foco da alimentação está na energia e nos nutrientes que sustentam o crescimento do feto, bem como preparam o corpo para o parto”. Consuma alimentos com uma boa quantidade de:

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  • Ferro: aumente a ingestão para lidar com o aumento do volume sanguíneo e prevenir a anemia.
  • Vitamina D: ajuda na absorção de cálcio. Exponha-se ao sol e consuma alimentos fortificados.
  • Magnésio: importante para a saúde muscular e nervosa. Presente em grãos integrais, nozes e sementes.
  • Vitamina K: ajuda na coagulação sanguínea. É encontrada em vegetais de folhas verdes e óleos vegetais.

A endocrinologista destaca que, para além de uma dieta rica em vitaminas e nutrientes, é preciso se atentar à hidratação adequada. Beber bastante água “é fundamental em todos os trimestres”.

O que evitar na alimentação durante a gravidez

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Para a Dra. Karen, durante a gestação, o mais importante é evitar exageros. Ela acredita que “mesmo café, chá de canela, carne de porco… tudo isso pode, não tem problema”, desde que seja em pequenas quantidades diárias. Em sua opinião, é preciso focar em uma alimentação balanceada, considerando o gasto calórico da gestante, que dividirá os nutrientes consumidos com o bebê.

Entretanto, alguns alimentos exigem uma atenção maior da gestante. A Dra. Maria Fernanda explica que o consumo excessivo de cafeína está associado a riscos potenciais para o feto. Os alimentos não pasteurizados, como queijos macios e carnes cruas, podem causar infecções alimentares. Ainda, peixes com alto teor de mercúrio, como tubarão, peixe-espada e cavala, devem ser consumidos com moderação. Já álcool e tabaco devem ser completamente evitados, pois estão associados a sérios riscos para o desenvolvimento fetal.

Sintomas da má alimentação durante a gestação

A alimentação adotada durante a gestação influenciará no pós-parto. A Dra. Karen explica que, normalmente, o corpo da mulher prioriza o bebê, então, se não tiver nutrientes suficientes para os dois, posteriormente, a mãe ficará com deficiência, por exemplo: “ela termina a gravidez com osteoporose, pois todo seu cálcio foi para o bebê”. Abaixo, conheça os principais sintomas e consequências de uma má alimentação:

  • Deficiências nutricionais: uma dieta inadequada pode resultar em deficiências de vitaminas, minerais e outros nutrientes essenciais para o desenvolvimento fetal, aumentando o risco de malformações e atrasos no crescimento.
  • Ganho de peso excessivo ou insuficiente: uma alimentação desequilibrada pode levar a um ganho de peso excessivo ou insuficiente durante a gravidez, aumentando o risco de complicações durante o parto e pós-parto.
  • Complicações de saúde: a má alimentação pode contribuir para o desenvolvimento de doenças gestacionais, como diabetes e pré-eclâmpsia, que apresentam riscos tanto para a mãe quanto para o bebê.
  • Desenvolvimento cognitivo e neurocomportamental: alguns nutrientes, como ácido fólico, ômega-3 e ferro são essenciais para o desenvolvimento adequado do sistema nervoso e cognitivo do bebê. A falta desses nutrientes pode afetar a função cerebral e o desenvolvimento neurocomportamental da criança.

A Dra. Maria Fernanda também destaca que a alimentação saudável influencia na qualidade e na composição do leite materno, desempenhando “um papel crucial na nutrição e no desenvolvimento do bebê durante esse período”. Mesmo que a mulher não tenha interesse ou não possa amamentar, no puerpério, uma dieta balanceada é essencial para a sua recuperação.

Dúvidas frequentes sobre a alimentação saudável durante a gestação

Abaixo, as especialistas esclarecem outras questões importantes sobre alimentação na gravidez. Lembre-se que cada gestação é única, por isso, além das informações gerais presentes nessa matéria, converse com seu médico.

Dicas de Mulher – Quais os principais sintomas e riscos de uma alimentação desequilibrada durante a gestação?

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Karen Rocha (KR)- Algumas pacientes ficam desnutridas, com falta de aminoácidos, pois a alimentação está ruim. Também podem faltar vitaminas do complexo e, principalmente, a vitamina D, desencadeando uma hipovitaminose.

Algum alimento precisa de um preparo específico para ser consumido durante a gestação?

KR – Não. Na verdade, a gente tem que saber a procedência dos nossos alimentos. Então, é importante lavar muito bem verduras, legumes e frutas. No sentido das carnes cruas, a gente pede, sim, para evitar, principalmente, carne de porco e vísceras de galinha – isso a gente fala para quase todo mundo. Os miúdos de galinha precisam ser bem cozidos, pois possuem uma maior chance de ter uma toxoplasmose ou algum parasita.

Qual o impacto da alimentação saudável durante e após a gravidez?

KR – A alimentação é importante para evitar problemas durante a gravidez, no pós-parto, na recuperação da mãe e no pós-parto amamentação. Para amamentar, a mulher precisa de uma alimentação com aporte maior de energia, proteínas, água e outros líquidos. O leite materno rico em nutrientes é essencial para a imunidade da criança. Ainda, uma introdução alimentar diversificada para o bebê diminui as chances de alergias.

Há relação entre diabetes gestacional e má alimentação durante a gravidez?

KR – A diabetes gestacional é uma predisposição da paciente. Então, o que acontece? Ela exagera, o corpo, que já está estressado, não dá conta de permanecer normal, desencadeando, assim, diabetes gestacional. A predisposição tem a ver com a idade e a genética. Tem a ver muito pouco com o que come, entretanto o problema é a quantidade que come.

Você tem algum caso, seja positivo ou negativo, que queira citar para salientar a importância de uma alimentação saudável durante a gravidez?

KR – Uma paciente intolerante à lactose. Ela não comia derivados de leite, portanto não tinha um aporte de cálcio. Quando já estava amamentando, a paciente caiu e quebrou o fêmur. Ela estava toda osteoporótica. O bebê não tinha nada, mas a mãe estava com uma massa óssea típica de uma senhora de 70 anos.

Tem algum caso em que, por conta da alimentação desbalanceada, houve complicações na gestação?

KR – Sim, uma paciente que tinha desnutrição. Ela não era magra, mas tinha desnutrição no sentido proteico. O útero não conseguiu crescer o suficiente e ela acabou tendo, por falta de proteína, um parto prematuro.

Manter uma alimentação saudável durante a gravidez exige um investimento financeiro muito caro?

Maria Fernanda Barca (MFB) – É um equívoco pensar que uma alimentação saudável sempre resulta em custos elevados. Uma dieta equilibrada pode ser alcançada com escolhas inteligentes e planejamento adequado. O foco deve ser em alimentos nutritivos, como frutas, vegetais, proteínas magras, grãos integrais e fontes de cálcio. Escolha alimentos da safra, pois isso diminui o custo. O básico na alimentação é o que mais funciona.

A alimentação influência no parto?

MFB – A alimentação saudável durante a gravidez aumenta as chances de um parto saudável, um desenvolvimento fetal adequado e uma recuperação mais tranquila para a mãe. Por outro lado, uma alimentação descuidada pode desencadear complicações gestacionais, impactando tanto a mãe quanto o bebê.

Em resumo, uma alimentação saudável e equilibrada é fundamental para o desenvolvimento fetal, a saúde materna, o parto seguro e a recuperação pós-parto. O acompanhamento com um nutricionista é altamente recomendado para garantir que as necessidades nutricionais sejam atendidas em cada fase da gestação, proporcionando os melhores resultados para a mãe e o bebê. Confira também a matéria sobre gravidez semana a semana, assim, você conseguirá entender melhor as mudanças corporais pelas quais a gestante passa, bem como o desenvolvimento do feto.

Formada em Jornalismo, é apaixonada por livros e boas histórias (ficcionais ou não). Trabalha com conteúdo e fotografia, e nas horas vagas gosta de ler, escrever e pedalar.