
Sociedade
Alaíde Costa / Foto: Enio Cesar
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Depois de quase 70 anos dedicados a cantar, Alaíde Costa viu seu talento ser reconhecido por todo o país há cerca de três anos. A intérprete ligada à Bossa Nova, durante muito tempo teve o seu dom “escondido” do grande público, muito por causa do preconceito e por não aceitar as concessões em relação à sua arte.
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“Pois é minha filha, aos 86 anos é como se Deus tivesse recomeçado minha carreira, esse reconhecimento é algo pelo qual sempre batalhei e paguei um preço alto por seguir no meu caminho. Agora estou trabalhando com a garotada e vejo que tudo valeu a pena”, diz Alaíde em entrevista ao Dicas de Mulher.
A “garotada” citada pela cantora é o rapper Emicida, 36 anos, e Marcus Preto, 49 anos, responsáveis pela produção musical do álbum “O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim”, lançado em maio de 2022, o primeiro trabalho da carioca dedicado a ela. Das oito canções gravadas, sete foram escritas especialmente para este projeto por compositores de diversas gerações, entre eles, Erasmo Carlos, Tim Bernardes, Fátima Guedes, Guilherme Arantes, João Bosco e Nando Reis.
Emicida, Alaíde Costa e Marcus Preto / Foto: Enio Cesar
“Fiquei surpresa quando o Preto me procurou dizendo que ele e o Emicida estavam querendo fazer esse trabalho comigo. Aceitei e foi muito legal porque muita gente mandou músicas e trouxe uma experiência nova, já que nesse disco eu canto músicas no mesmo estilo do que sempre fiz, mas de uma forma mais contemporânea”, diz a artista carioca.
Uma de suas características mais reconhecidas sempre foi a calma. O falar (e cantar) manso e o jeito ingênuo, que fica ainda mais evidente quando se tem a oportunidade de conversar com Alaíde, tornaram-se motivos pelo qual não reconheceu a discriminação que ela e seu trabalho sofreram no início da carreira.
Alaíde Costa / Foto: Enio Cesar
Alaíde não só está atenta às transformações sociais quanto exalta o movimento feminista negro que vem ganhando força ao longo do tempo. “Eu vejo [esse movimento negro] como algo fantástico, positivo e maravilhoso. Na época em que comecei era tudo velado. Eu mesmo, na minha inocência, não percebia o preconceito claramente, mas hoje está bem diferente”, relata. Além disso, manda, ainda, um recado às mulheres: “Coloquem o amor sempre em primeiro plano.”
Cheia de planos para o futuro, a cantora quer seguir em frente com o projeto musical, que em três anos rendeu quatro discos: “Esse é meu momento, todos os trabalhos são bonitos e agora com Emicida e Marcus Preto é uma grande satisfação.” Mas em tempos tão difíceis no mundo, é claro que quisemos saber como a artista mantém o otimismo. “O meu refúgio é a música, sempre ela. Me traz paz, alegria, é como o ar que eu respiro.”
Jornalista há quase 20 anos com experiência em comunicação estratégica, reportagens, social media, e sempre interessada em contar histórias reais e inspiradoras.