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Quem planeja uma gravidez deseja que tudo ocorra perfeitamente. Mas, infelizmente, alguns desvios podem acontecer. É o caso da gravidez ectópica, que é quando a gestação ocorre no lugar errado. O óvulo fertilizado é implantado fora do útero.
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A ginecologista e obstetra Isabel Correa explica que, na gestação ectópica, a implantação do saco gestacional ocorre em outro local que não o endométrio da cavidade uterina — nas tubas uterinas, nos cornos uterinos, na cervice, no ovário ou na cavidade pélvica ou abdominal. “As gestações ectópicas não podem chegar até o termo e eventualmente se rompem ou involuem.”
Causas

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A taxa de ocorrência de uma gravidez ectópica é de 1 a 2%. Na maioria delas, 95% dos casos, são classificadas como gravidez tubária, pois ocorre nas tubas uterinas. O restante ocorre em outros locais, como no ovário, colo do útero ou na cavidade abdominal.
A principal causa para ocorrer uma gravidez ectópica, segundo Isabel, é a existência de um dano tubário prévio.
Esse dano pode ser devido a:
- Tabagismo ou alcoolismo
- Doença inflamatória pélvica, que pode ocorrer em função de infecções por gonorreia ou clamídia
- Inflamação ou cicatrizes nas trompas
- Condições que afetam o formato e a condição das trompas e dos órgãos reprodutivos
- DIU (dispositivo intrauterino)
- Tratamentos para infertilidade
- Cirurgias tubárias
- Laqueadura
- Endometriose
- Malformação das trompas
- Fatores hormonais
- Anomalias genéticas
- Defeitos congênitos
Fatores de risco

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Qualquer mulher sexualmente ativa corre o risco de ter uma gravidez ectópica. Porém, alguns fatores podem aumentar a probabilidade desse tipo de gravidez.
- Gestação ectópica prévia (10 a 25% de risco de recorrência)
- Cirurgia abdominal prévia ou, em particular, cirurgia tubária, incluindo ligadura tubária
- Utilização de DIU
- Infertilidade
- Múltiplos parceiros sexuais
- Tabagismo
- Exposição a dietilestilbestrol
- Aborto prévio induzido
Sintomas

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O início de uma gravidez ectópica apresenta os mesmos sintomas que uma gravidez comum pode trazer: atraso na menstruação, náuseas, fadiga, seios sensíveis e inchados, entre outros menos comuns.
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No entanto, mais ou menos entre a sexta e a oitava semanas de gestação, surgem os sinais de que algo não vai bem. “Os sinais e sintomas precoces incluem dor pélvica, sangramento vaginal e dor à mobilização cervical”, cita Isabel. Outros sintomas são:
- Hemorragia vaginal
- Dor abdominal ou pélvica
- Dor durante relação sexual ou exame pélvico
- Tonturas, vertigens ou desmaios devido à hemorragia interna
- Dores que irradiam pela região abdominal e para o ombro
- Choque hemorrágico, se houver grande perda de sangue
Diagnóstico

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Sempre que há suspeita de gravidez ectópica, deve-se procurar atendimento médico imediatamente. Caso ocorra a ruptura da trompa, a dor pode ser intensa e pode agravar-se para peritonite, inflamação do peritônio, membrana que reveste órgãos abdominais. Nesse caso, o sangramento é volumoso e a paciente pode entrar em choque circulatório.
Isabel frisa que o profissional que pode diagnosticar a gravidez ectópica é o obstetra. “Suspeita-se de gestação ectópica em qualquer mulher em idade reprodutiva com dor pélvica, sangramento vaginal ou inexplicada síncope ou choque hemorrágico, independentemente da história sexual, contraceptiva e menstrual.”
O diagnóstico pode ter feito através de exame de nível sérico quantitativo de beta—gonadotrofina coriônica humana (beta-HCG), ultrassonografia pélvica e, em alguns casos, laparoscopia.
Tratamento

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O tratamento da gravidez ectópica irá depender do quão avançada está a gestação. Os tratamentos mais comuns são o medicamentoso, com o uso do Metotrexato para algumas gestações ectópicas pequenas e sem rompimento; e a ressecção cirúrgica, que é a mais frequente.
Tratamento medicamentoso
O Metotrexato é injetado na paciente com o objetivo de que o embrião seja reabsorvido pelo organismo ou expelido junto com a menstruação. É indicado se a gestação tubária íntegra tiver menos de 3 cm de diâmetro, nenhuma atividade cardíaca fetal é detectada e se o nível de beta-HCG idealmente for inferior a 5.000 mUI/mL, mas até 15.000 mUI/mL. As mulheres podem receber uma única dose de Metotrexato 50 mg/m2 IM. “A aferição de beta-HCG é repetida em aproximadamente 4 e 7 dias. Se os níveis séricos de beta-HCG não caírem para 15%, necessita-se de uma segunda dose de Metotrexato ou cirurgia”, explica Isabel. O nível de beta-HCG é aferido semanalmente até ser indetectável. As taxas de sucesso com o Metotrexato aproximam-se de 87%.
Tratamento cirúrgico
É indicado quando a gestação está avançada e/ou há sangramento intenso. Normalmente é feita cirurgia por laparoscopia. “Apenas a parte irreversivelmente danificada da tuba uterina é removida, maximizando a possibilidade de reparação das tubas, e com isso a restauração da fertilidade. A tuba uterina pode, ou não, ser reparada. Depois de uma gestação nos cornos uterinos, a tuba e o ovário envolvido podem ser recuperados, mas ocasionalmente a reparação é impossível, tornando necessária a histerectomia.
Mesmo que uma das trompas tenha sofrido lesões e precisar ser retirada, a mulher ainda pode engravidar, se a outra trompa estiver saudável. Cerca de 65% das mulheres engravidam de novo após gestação ectópica. “Se não houver complicações cirúrgicas, normalmente se libera para engravidar de 2-3 ciclos menstruais após a gravidez ectópica”, explica Isabel.
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Complicações

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As principais complicações podem surgir se a paciente não procurar ajuda médica assim que perceber os sinais e sintomas. Um sangramento intenso pode levar a uma hemorragia com risco de óbito.
Quanto mais tarde for detectada a gravidez ectópica, mais provável que a trompa se rompa, o que aumentam os riscos em uma nova gravidez. As complicações envolvem:
- Choque hemorrágico: pode levar a óbito, se a perda de sangue for muito intensa e não houver intervenção médica a tempo.
- Perda das trompas, podendo dificultar ou até inviabilizar uma nova gravidez.
Apoio psicológico

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Além de complicações para a saúde física da mulher, uma gravidez ectópica também pode causar impacto emocional, afinal, trata-se da perda de um bebê. Esse impacto pode ser maior se a gestação já estava avançada e também se foi uma gravidez planejada e muito desejada pela mulher.
É perfeitamente natural, assim, que a mulher passe por um período de luto. É normal sentir-se triste, cansada, com falta de apetite e insônia, por exemplo.
É preciso ter cuidado, contudo, quando a mulher apresenta sentimentos como raiva ou culpa. Em alguns casos, além do apoio do companheiro, da família e dos amigos, pode ser necessário o acompanhamento de um profissional da área da saúde.