Bem-estar

Filhos transgêneros merecem aceitação, respeito e amor

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Atualizado em 01.09.22

Quando falamos de gênero muitas dúvidas podem surgir e é comum que alguns termos sejam interpretados de maneira errada. Ao lidar com a transgeneridade dos filhos, por exemplo, muitos pais se sentem despreparados para a situação, na maioria das vezes por pura falta de informação. Mas e você, sabe o que é uma pessoa trans?

Uma pessoa trans é quem não se identifica com seu gênero biológico e todos os significados que são atribuídos a esse gênero, tais como: tipos de roupas, cores, atividades e comportamentos que são socialmente construídos e vistos como típicos do gênero feminino ou masculino. Uma pessoa trans é, portanto, uma pessoa que transita de seu gênero biológico para o gênero com o qual se identifica.

Quanto à identificação de uma pessoa trans no ramo da saúde mental, existem diversos embates e embora alguns profissionais ainda vejam a situação como uma patologia, muitos outros profissionais da área lutam para acabar com essa concepção preconceituosa e garantir que cada pessoa agencie seu próprio gênero. “Uma identidade decorre do protagonismo de cada pessoa, não decorre de procedimentos cirúrgicos ou adequações a estereótipos e preconceitos”, explica a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus.

Alguns termos e nomenclaturas são utilizados em conversas sobre gênero e a compreensão dos mesmos é importante para entender e esclarecer algumas coisas.
Confira abaixo explicações sobre alguns termos para entender melhor os debates sobre gênero:

Gêneros cis e trans: Pessoas cis (cisgêneras) são pessoas que se identificam com o gênero designado a elas pela biologia. Pessoas trans (transgêneras) são pessoas que não se identificam com o gênero designado a elas pela biologia e transitam para o gênero oposto. “Quando falamos de pessoas trans, estamos tratando que uma questão de gênero, expressão e identidade de gênero, esse debate não tem nada a ver com sexualidade ou orientação sexual”, ressalta a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus.

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Gênero biológico: O gênero biológico é designado pelos cromossomos XX para mulher, XY para homem ou alguma combinação diferente para pessoas intersexo. A partir dessa classificação existem arranjos sociais que diferenciam homem e mulher e pessoas que se identificam com seu gênero biológico são chamadas de cisgêneras.

Orientação sexual: A orientação sexual não está em nada ligada à identidade de gênero e pode apresentar variações distintas de combinações entre gênero e sexualidade. Basicamente, a orientação sexual é “a forma como a pessoa vivencia atração afetivo-sexual por alguém”, comenta Jaqueline.

Identidade de gênero: É o gênero com o qual a pessoa se identifica. Pessoas podem se identificar com seus gêneros biológicos (cis), podem transitar de um para outro, podem ser não binárias (não se identificar com gênero masculino ou feminino) ou ainda não se identificarem com nenhum gênero. “É o reconhecimento profundamente pessoal, e aparentemente paradoxal, de se sentir parte de um grupo e de, ao mesmo tempo, ser alguém único e diferente das outras pessoas”, comenta Jaqueline.

Expressão de gênero: A expressão de gênero é uma expansão da identidade de gênero, é a forma como as pessoas demonstrarão suas feminilidades ou masculinidades. ”Cada pessoa expressa sua maneira de viver como uma pessoa deste ou daquele gênero, em conformidade ou não com os padrões culturais”, explica Jaqueline.

É importante ressaltar que ao se tratar de seres humanos, essas classificações e termos existem apenas para organizar de maneira subjetiva, o que significa que não é necessário que uma pessoa se encaixe em uma categoria ou outra. O gênero, por exemplo, não precisa ser binário, ou seja: muitas pessoas podem não se identificar com o masculino ou feminino ou ainda se identificar com os dois.

É possível identificar sinais de que meu filho é transgênero?

Foto: Getty Images

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As manifestações de identidade de gênero podem ocorrer em qualquer idade. “Desde crianças crescemos nos reconhecendo ou não nos padrões culturais valorizados para este ou aquele gênero”, comenta Jaqueline. Portanto, uma pessoa ainda na infância pode se identificar com o gênero biológico e todas as construções sociais impostas a esse gênero ou então se identificar com o gênero oposto.

No entanto, negar padrões estabelecidos para um gênero, não significa necessariamente que a criança ou adolescente é uma pessoa trans. “Todas as pessoas crescem sendo estimuladas ou reprimidas a agirem de acordo com o gênero ao qual são designadas socialmente, e quando temos crianças e adolescentes não conformes a esse apartheid de gênero, elas costumam ser muito reprimidas e sofrerem grande estresse”, explica a psicóloga.

Os sinais podem aparecer, mas como dito anteriormente, eles podem não significar que a criança ou adolescente é uma pessoa trans. “Os pais podem saber, basicamente, se seus filhos agem conforme os comportamentos reconhecidos para este ou aquele gênero, e nem por isso podem ser apontadas como crianças trans”, explica Jaqueline. O reconhecimento da transgeneridade ocorre, portanto, a partir da identificação individual de cada pessoa.

9 maneiras de conviver de maneira respeitosa com pessoas trans

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Todos merecem respeito, essa afirmação deve ser levada em conta na convivência com qualquer pessoa. No entanto, sabemos que alguns grupos tendem a sofrer preconceitos em diversos ambientes sociais e muitas vezes, dentro do ambiente familiar. Abaixo, com a ajuda de Izabela Fournier, mulher trans, e da pscicóloga Jaqueline, listamos maneiras de conviver de maneira respeitosa com as pessoas trans. Confira:

  1. Busque criar um ambiente seguro para seu/sua filho/a dentro de casa;
  2. Tenha empatia pela situação, coloque-se no lugar dessa pessoa;
  3. Não reprima a identidade de gênero da criança ou adolescente;
  4. Tenha em mente que seu/sua filho/a não tem problema algum e o que o problema está na maneira com que a sociedade lida com as questões de gênero;
  5. Busque informar-se com leituras que permitam aprendizados sobre as questões de gênero;
  6. Busque apoio na escola para que a pessoa trans não sofra repressão nesse ambiente;
  7. Procure apoio com profissionais da saúde mental bem informados que valorizem diversas formas de vivenciar os gêneros;
  8. Faça contato com outros pais que estão na mesma situação, para que aprendam e se fortaleçam juntos;
  9. Lembre diariamente ao seu/sua filho/a o quanto ele/a é amado/a.

Depoimentos de transgêneros e familiares

Qualquer convivência entre seres humanos requer respeito, aceitação e muitas vezes algumas mudanças na maneira de pensar, para que o relacionamento aconteça de forma satisfatória entre todas as partes. É importante lembrar que diferenças existem e precisamos aprender a conviver da melhor forma possível com elas. Confira abaixo relatos incríveis de amor, aceitação e respeito entre pessoas transgêneras e suas famílias:

Filhos transgêneros

Nesse vídeo são mostrados depoimentos de diversos pais e mães, que falam sobre o quanto amam seus filhos e suas famílias apesar das diferenças. O vídeo também mostra algumas estatísticas sobre pessoas trans no Brasil.

Transgêneros, transexuais e direitos humanos

O vídeo acompanha relatos de 3 mulheres transgêneras e aborda assuntos como aceitação, sexualidade, relacionamentos afetivos e com a família. Um dos pontos principais do vídeo e mostrar como o apoio de pais e mães é importante para a felicidade de qualquer pessoa.

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Nossa família

O vídeo mostra familiares e amigos de dois homens transgêneros: Nathan e Bernardo. Familiares e amigos contam sobre seus relacionamentos e vivências com os dois e falam sobre a importância de acolher, amar e respeitar pessoas trans.

Basta uma busca rápida na internet para constatar que pessoas transgêneras são vítimas de muitos casos de violência motivada pelo preconceito diariamente. Se o seu filho ou filha é uma pessoa trans, lembre-se de que ao menos o espaço familiar deveria ser um ambiente seguro e respeitoso para essa pessoa. Procure informar-se sobre o assunto e garantir ao seu filho ou filha um ambiente familiar confortável, receptivo e amoroso.

Comunicóloga em multimeios e mestra em Ciências Sociais. Sagitariana com ascendente em aquário, aventureira e em constante expansão. Vegana, ama cores quentes, dias frios e só usa cintura alta.