Bem-estar

A importância do parto com doula para apoiar e acolher mulheres

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Compreenda o papel da doula em um parto e veja relatos de mulheres que optaram pelo suporte e amparo dessa profissional

Atualizado em 19.10.23

A chegada de um bebê é um momento muito especial para muitas mulheres e, muitas delas, se sentem vulneráveis no processo gestacional. Então, a humanização no parto tem sido assunto recorrente entre as gestantes e profissionais de saúde. Assim, cada vez mais mulheres estão realizando o parto com doula para tornar essa experiência única e acolhedora.

O apoio oferecido por uma doula, principalmente quando se é mãe solo, é fundamental para deixar as mulheres mães seguras. Afinal, essa profissional dá apoio físico e emocional para lidar com os desconfortos sentidos no momento do parto.

Para falar sobre o assunto, o Dicas de Mulher conversou com Antônia Edileusa de Sousa, que atua como doula e auxilia em parto domiciliar, e com Alaya Dullius de Souza, doula e acupunturista. Além disso, mães que tiveram os seus bebês com doula compartilham como foi essa experiência. Confira!

O que é uma doula?

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A palavra doula é de origem grega, significa “mulher que serve”, e denomina mulheres que dão suporte físico, emocional e cognitivo às grávidas em todo processo gestacional. Segundo Antônia, essa profissional “acompanha a mulher na gestação, parto e pós-parto”. Ela acredita “que buscar o auxílio de uma doula quando começar a planejar a gravidez fará total diferença”.

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Em 1996, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a doula “como prestadora de serviço que recebe treinamento básico sobre parto e está familiarizada com procedimentos de assistência à grávida”. Além disso, Antônia diz que vários países, incluindo o Brasil, reconhecem o trabalho e “incentivam a presença da profissional durante o trabalho de parto”.

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Quem pode ser uma doula?

Para ser doula é preciso ter 18 anos, ensino médio completo e curso de formação com certificado, contendo a carga horária mínima de 80 horas. Antônia Edileusa de Sousa conta que a profissão não é reconhecida no Brasil. Porém esse ano, “foi aprovado o projeto de lei para a sua regulamentação, mas ainda espera a aprovação da Câmara dos Deputados.”

É importante deixar claro que a doula não pode realizar o parto e, mesmo o domiciliar, necessita ter uma equipe médica e enfermeiras especializadas para acontecer. Ou seja, a função dessa profissional é fornecer assistência física e psicológica à mãe durante o parto.

Alaya Dullius de Souza salienta que, para se tornar doula, “é importante compreender que a gestante é a protagonista de seu parto. Nós somos apenas coadjuvantes dispostas a nos entregar a uma ação de profundo cuidado e carinho, que pode levar poucas horas ou muitas, que pode exigir que fiquemos acordadas a madrugada inteira, nos molhemos no chuveiro e sejamos testadas física e emocionalmente”.

Qual é o papel da doula na gestação, parto e pós-parto?

Para Antônia Edileusa de Sousa, a doula é parte importante do parto humanizado e a “sua presença transforma o parto em uma experiência gratificante, fortalecedora e favorecedora da vinculação mãe-bebê.” Confira como essa profissional atua no cuidado à mulher na gestação, parto e pós-parto:

Gestação

Durante o período gestacional, a doula ensina a gestante como preparar o corpo para o parto. “Outros ensinamentos valiosos são as técnicas de respiração para auxiliar durante o desconforto das contrações que facilitarão o trabalho de parto”, explica Antônia Edileusa de Sousa.

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Além do mais, a profissional informa que também aborda os medos e receios da gestante e do acompanhante. “Esses medos acontecem, muitas vezes, por histórias, experiências e mitos contados pela sociedade”, comenta.

Parto

De acordo com Antônia Edileusa de Sousa, “no dia do parto, as doulas, normalmente, chegam com antecedência para dar apoio emocional, acolher a família e ajudar a amenizar a dor das contrações durante o trabalho de parto”. Outras medidas não farmacológicas também são adotadas para amenizar qualquer desconforto proveniente do trabalho de parto.

As medidas mais comuns são massagens, banhos, técnicas de respiração, sugerir posições e movimentos que ajudam nesse processo. A doula também pode oferecer suporte informativo e explicar os procedimentos hospitalares e termos médicos para a mãe.

Pós-parto

Sobre o pós-parto, a profissional diz que as doulas também oferecem suporte para a puérpera. “Então, após ouvir e sentir o que essa mulher está precisando, oferecemos massagem, escalda-pés, alinhamento energético utilizando formas sutis como o Reiki”. Ela diz que outra forma de ajudar as mães, é ficar com os bebê para elas cuidarem de si mesmas e tomarem um banho mais demorado e tranquilo.

Além disso, “as doulas podem ajudar a mulher a encontrar um refúgio neutro e seguro para tomar as melhores decisões sobre a sua maternidade sem julgamentos e com maior liberdade”, completa.

O que uma doula não faz?

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Alaya Dullius de Souza destaca que as doulas são responsáveis por dar suporte físico e emocional, bem como promovem um ambiente agradável, acolhedor, com silêncio e privacidade. Pode dar orientação e informações sobre procedimentos hospitalares, mas não faz procedimentos: “Não faz procedimentos médicos ou da enfermagem, como exame de toque, aferição da pressão arterial e verificação dos batimentos cardíacos do bebê”.

Além disso, a profissional destaca que não é papel da doula “executar nenhum procedimento técnico nem aplicar qualquer tipo de medicação”. Quanto às tomadas de decisão, a doula “não toma nenhuma decisão pela parturiente, mas acolhe as vontades desta e encoraja a mulher em suas escolhas, auxiliando-a a receber as informações necessárias para fazer escolhas conscientes”.

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“A doula não tem nenhuma responsabilidade legal e técnica em relação ao parto. Ela não presta assistência ao parto, ela não é necessariamente um profissional da saúde”, destaca Aláya. Por fim, acrescenta ainda que “enquanto a equipe está ocupada com o monitoramento da mãe e do bebê, as avaliações e o cuidado com a saúde, a doula está ocupada com a mãe”, explica Aláya.

Quais são os benefícios de ter uma doula?

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A profissional Antônia Edileusa de Sousa diz que o parto com doula não é só vantajoso para as mães, mas também para o Sistema de Saúde. “Além de oferecer um serviço de maior qualidade, reduz custos devido à diminuição das intervenções médicas e do tempo de internação das mães e dos bebês”. Conheça outros benefícios do parto com doula:

  • Experiência de parto acolhedor para a mãe;
  • Apoio físico e emocional para as mulheres;
  • Parto menos doloroso e menor risco de depressão pós-parto;
  • Reduz a duração do trabalho de parto;
  • Redução de cesarianas desnecessárias;
  • Menos risco de utilizar fórceps para retirar o bebê;
  • Redução de uso de analgésicos peridural e ocitocina.

Experiências de parto com doula

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Jaqueline de Carvalho Motter (34), formada em Comunicação, é mãe solo do pequeno Lucas de apenas dois meses. Ela conta que optou por um parto normal humanizado que respeitasse as suas vontade e para se sentir segura. “Li bastante sobre o assunto e soube que o índice de violência obstétrica é alto. Sou mãe solteira e precisava ter alguém que pudesse me passar confiança”.

Além disso, ela relata que o parto com doula foi uma experiência excelente, mas no início estava insegura e assustada, devido às histórias negativas de outras mulheres que sofreram no parto tradicional. “A doula ajudou a me fortalecer, me passou todo conteúdo necessário para eu ficar mais segura. Ao longo da gestação, eu fiquei cada vez mais tranquila”, declara Jaqueline.

No dia do parto, ela diz que já sabia como proceder quando a bolsa rompesse e cronometrar as contrações até chegar ao hospital. Durante o trabalho de parto, a doula “me ajudou com palavras de incentivo, ajudou nas sugestões de posições que poderiam facilitar a saída do bebê e foi quem segurou a minha mão. No pós-parto ela ajudou com dicas de amamentação”.

Já a criadora de conteúdo Tamara Barreto (34), mãe de Carlinhos, de 2 anos, diz que conheceu o trabalho de doulas por meio do Instagram, e sempre quis parto normal pelos benefícios que traz para criança e a rápida recuperação da mãe. “A doula me apresentou um mundo que eu não conhecia sobre violência obstétrica, direitos e, o mais importante, eu poderia sim ter um parto normal e natural, e queria uma pessoa para garantir que eu fosse respeitada”, conta.

Tamara relata que a conexão entre ela e a doula foi inexplicável. “Meu parto não evoluiu para um parto vaginal e tive que ser submetida a uma cesárea intraparto. Mas mesmo com todo medo que eu estava, eu me senti segura, ela não saiu de perto de mim em nenhum momento, foi quase uma mãe”. Além do mais, ela conta que a doula a ajudou com os primeiros momentos da amamentação, ensinou a cuidar do umbigo do bebê e a acompanhou para fazer o exame do pezinho.

Para a jornalista Kelly Bessa (43), o parto com doula foi um momento mágico, pois recebeu acolhimento e assistência em todo período gestacional e puerpério. Ela teve a pequena Débora aos 39 anos e conta que “não queria intervenções e não usaria métodos farmacológicos para a dor”.

Kelly acreditou sempre na fisiologia do corpo, então pesquisou quais profissionais a ajudariam nesse sentido. “Foi quando eu descobri uma rede de apoio a gestantes, com rodas de conversas (mensalmente), e tive o primeiro contato com a minha doula. Ela me orientou em toda a minha gestação, durante o parto e temos contato até hoje. Através do seu acolhimento e assistência em todo o ciclo gravídico e puerpério, me senti mais empoderada.”

Além disso, Kelly aponta que parir naturalmente virou tabu, especialmente no Brasil, que mantém altas taxas de cesarianas. “Esse trabalho de potencializar o fisiológico feminino vem ganhando força e é extremamente necessário para um parto e puerpério bem-sucedido”, finaliza.

Parto com doula no SUS

Segundo Antônia, existem controvérsias quando informado que o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza doulas para as mães. Ela relata que na prática isso não funciona, mas “algumas maternidades possuem doulas voluntárias”. Para ter acesso, é preciso entrar em contato com a maternidade e obter informações.

Para as futuras mães que residem em São Paulo, a profissional orienta a procurar casas de parto da sua cidade e, na capital paulista, “temos a Casa Angela, localizada na zona sul, referência” em oferecer um parto seguro e acolhedor para mães que desejam ter um parto natural.

Contudo, conforme o projeto de Lei n.º 376, de 2019, aprovado pela Câmara dos Deputados, todas as maternidades, casas de partos e estabelecimentos hospitalares congêneres, devem permitir a presença de doulas pagas na rede privada e pública.

Vale frisar que toda parturiente tem direito a um acompanhante durante o trabalho de parto, parto, e pós-parto. A Lei Federal n.º 11.108, artigo 19, assegura que as mães sejam acolhidas nesse momento, e não é necessário ter grau de parentesco para acompanhar a mulher.

Gostou de conhecer sobre essa profissão fundamental na vida de mulheres e bebês? Continue lendo sobre a maternidade com informações sobre o parto induzido.

Formada em Letras e pós-graduada em Jornalismo Digital. Apaixonada por livros, plantas e animais. Ama viajar e pesquisar sobre outras culturas. Escreve sobre diversos assuntos, especialmente sobre saúde, bem-estar, beleza e comportamento.