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Como criticar seu chefe de maneira madura e profissional

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Atualizado em 21.08.23

A crítica é algo que faz parte do ambiente de trabalho e mesmo o mais competente dos funcionários sabe que um dia será criticado seja pelo chefe, seja por outros funcionários ou clientes. Mas e o chefe, como critica-lo?

De acordo com a coach e psicóloga Simone Alves, uma tendência que temos é de tornar a crítica em apenas um relatório de defeitos do outro, o que é um grande equívoco em relação ao que a crítica realmente é.

A maneira como criticamos o chefe diz muito da nossa conduta profissional, portanto a crítica é um momento não só para o funcionário comunicar suas insatisfações, mas também para demonstrar que está em sintonia com a empresa, com o que a empresa necessita e também para demonstrar proatividade.

6 regras essenciais para criticar seu chefe

É importante seguir alguns princípios para que a crítica não mude de foco e se perca no caminho como uma lista de defeitos da pessoa. Veja algumas dicas para fazer as críticas de forma profissional:

1. Não seja emocional

De acordo com Simone Alves, ser emocional demais é o maior erro que se pode cometer na hora da crítica. Muitas pessoas não têm “um filtro das suas próprias emoções e falam qualquer coisa”. O excesso de emoções não leva apenas o indivíduo a escolher palavras erradas. Para Simone, essa passionalidade implica que o indivíduo “não tem uma percepção de si mesmo e não tem também uma percepção do que acontece na empresa e com as demais pessoas”.

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Portanto, procure ser racional e atenha-se aos fatos, evitando sempre trazer seu desconforto para o lado pessoal. Mesmo que você se sinta desconfortável com alguma decisão do chefe, por exemplo, é preciso entender que não é um ataque pessoal a você. Inteligência emocional é crucial para uma crítica construtiva.

2. Conheça a cultura da empresa e o seu chefe

A empresa encoraja a crítica? Qual o tipo de liderança do seu chefe? Ele é mais ou menos distante de seus funcionários? Antes de abordar o chefe, é necessário conhecer a empresa, o que ela prega, e também o seu chefe, para que você possa se preparar de forma adequada.

Um chefe mais carismático pode aceitar uma abordagem menos formal, por exemplo. Se seu chefe é muito direto, é provável que ele prefira que você seja direto na sua crítica, sem “enfeitar” demais sua introdução à crítica.

3. “Conhece-te a ti mesmo”

Tão importante quanto conhecer o perfil da empresa e do chefe é conhecer a si mesmo. Você é uma pessoa tímida? Você é confiante demais? Você fala mais do que o necessário? É preciso saber quais traços da sua personalidade podem trazer problemas para você.

Pessoas muito tímidas têm dificuldade não só de criticar, mas de se posicionar, de se impor no ambiente de trabalho, afirma Simone. É preciso que elas trabalhem essa timidez seja em um coaching, seja em uma terapia, pois a dificuldade em criticar é apenas uma manifestação de algo maior.

Da mesma forma o excesso de assertividade e autoconfiança podem levar o funcionário a erros de julgamento. Por mais experiente que o funcionário seja, o excesso de autoconfiança pode leva-lo a ignorar determinados aspectos fundamentais da empresa ou do contexto, enfraquecendo a crítica.

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4. Escolha adequadamente o local da crítica

Mais uma vez a coach Simone chama atenção para a importância de conhecer a cultura da empresa e o perfil do chefe. Em alguns casos, a crítica pode ser feita em uma reunião a portas fechadas, em outros, durante a pausa do cafezinho, sempre avalie o contexto.

Nunca critique o chefe diante de outros funcionários ou chefes. Além de expor seu chefe e oferecer uma oportunidade para comentários desagradáveis e boatos, você acaba por envolver outras pessoas em um problema que é seu com o chefe.

5. Critique o comportamento, não a pessoa

“A pessoa tende muito mais a aceitar alguma coisa que tenha a ver com o comportamento dela e não com ela como um todo”, aponta Simone. Ou seja, em vez de dizer que o chefe é precipitado, destaque que assinar o contrato com determinado cliente, por exemplo, foi algo precipitado naquele momento. Generalizar e dizer que o chefe é precipitado pode deixa-lo ofendido, causando um mal-estar no relacionamento.

6. Atenha-se aos fatos

Além de ser pontual na sua crítica, é necessário oferecer fatos que sustentem sua crítica e exemplos do que você está falando. Dizer que o chefe fala alto é vago, é necessário explicar como isso interfere negativamente no trabalho.

7. Utilize a técnica do sanduíche

Antes de ir direto para a crítica, inicie com um elogio. Em seguida, comunique a crítica e termine falando novamente em algo positivo. Esse modelo não é apenas para “amenizar” ou “amortecer” a crítica, mas de acordo com Simone ele demonstra que você tem uma visão geral do que está se passando e levou em consideração todo o contexto no momento de formular sua crítica.

8. Ofereça uma solução

Oferecer uma solução para o problema é essencial, pois, para Simone Alves, isso demonstra proatividade e que você não está interessado apenas em criticar, mas em ser uma pessoa envolvida na empresa, buscando soluções independentemente do problema ser seu ou não. Quando a crítica vem sozinha pode parecer que o profissional está apenas se queixando e “se você está o tempo todo nesse perfil de queixa e não oferece nenhuma solução, esse profissional tende a ser visto como um profissional-problema”, afirma Simone Alves.

E os chefes, o que eles pensam das críticas?

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Confira agora o depoimento de pessoas em cargos de chefia sobre como a crítica deve ser apresentada e também de como o gestor pode criar um ambiente favorável à crítica.

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Pamela Mocelin Manfrin, Gerente de Estratégia da Apetit Serviços de Alimentação

“Com uma postura amigável e respeitosa ao líder, o profissional deve destacar a importância da transparência em uma empresa e escolher um momento adequado para o bate-papo. O colaborador deve agir com simplicidade, objetividade e segurança, deixando claro o seu interesse em contribuir para o crescimento de ambas as partes. Críticas públicas, agressivas e pejorativas que comprometam a autoridade do superior devem ser evitadas. Nesses casos, o próprio profissional corre o risco de ter sua imagem comprometida. Por outro lado, é importante saber expressar sua opinião, mesmo que contrária aos demais, de forma a contribuir para reflexões. Líderes de alta performance precisam do apoio e feedback de sua equipe para atingir melhores resultados tanto em aspectos técnicos, quanto comportamentais. Vale avaliar também se a postura do líder está de acordo com os valores da empresa e com os da equipe. Se a empresa é conivente com uma postura inadequada das lideranças, acredito que não vale a pena tentar intervir. De todo modo, para sentir-se bem no ambiente de trabalho, é preciso buscar empresas que ofereçam oportunidades e que estejam aliadas aos nossos valores pessoais. Dessa forma, todo o time segue alinhado para o sucesso.”

Solange Pinheiro, sócia-diretora do Grupo Aliar

“Ao abordar, o colaborador deve estar ciente do assunto, possuir dados pertinentes, meras especulações nem sempre são levadas em consideração. Todo gestor busca resultado positivo, pessoas empenhadas e comprometidas com o seu trabalho. [Nós gestores] Procuramos colaboradores para fazer a diferença, com soluções, ideias para melhorar e aprimorar o desenvolvimento da empresa. Para tanto, temos que estar abertos a ouvi-las, analisá-las, dar espaço, criar condição aonde o colaborador se sinta à vontade para interagir, expor melhorias e suas críticas. É fundamental dar o feedback aos mesmos, se são plausíveis ou não as sugestões, e não assumir a autoria como sua. O colaborador tem que se sentir como uma pessoa que está ali para agregar, não apenas um número entre outros. A postura receptiva, a cordialidade e a transparência são itens de muita valia para o gestor ter a confiança de sua equipe. As pessoas gostam de reconhecimentos, agradecimentos, somos um time e crescemos juntos.”

Marcos Sousa, gerente de Recursos Humanos da Gocil Segurança e Serviços

“[A crítica] não é algo incomum, mas ainda assim é algo delicado de se fazer, dependendo da cultura da empresa e da preparação tanto do líder, como do colaborador. Acredito que para que o colaborador tenha sucesso em sua abordagem com o seu superior, principalmente se for para fazer uma crítica, é necessário apresentar argumentos e sugestões que façam sentido e acrescentem, seja no relacionamento, em um projeto ou no modelo de gestão do líder. Caso contrário, a proposta do feedback se limita ao ‘discordar por discordar’, descaracterizando a importância dessa ferramenta de gestão e trabalho. Em relação ao comportamento, é importante se colocar de maneira amistosa, de preferência sugerindo uma conversa privada, para que não haja exposição de ambas as partes. Outros pontos importantes são o equilíbrio emocional, a linguagem corporal e a transparência no momento da conversa. Uma abordagem em um momento de nervoso pode ser precipitada e prejudicar a imagem do colaborador, fazendo com que ele não atente ao seu tom de voz e ao uso das palavras, perdendo assim a sua postura ética. Para finalizar, é importante saber a finalidade do feedback e deixar claro que ele tem o objetivo de agregar para o trabalho e gestão, deixando de lado qualquer motivação pessoal.”

Criticar o chefe é uma prática que intimida os funcionários, até mesmo porque é uma prática que há apenas alguns anos começou a ser encorajada nas empresas. No entanto, ela é um momento importante tanto para a empresa que necessita escutar as críticas para continuar crescendo, quanto para o funcionário que tem uma chance de demonstrar que está atento ao que se passa na empresa e que contribui de forma ativa para seu crescimento. Com um pouco de preparação, a tarefa de criticar o chefe se torna mais confortável, aumentando inclusive a sua satisfação com o seu trabalho.

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