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Daniele Hypólito é a história viva da ginástica brasileira

Ao Dicas de Mulher, a atleta compartilha experiências com o esporte e fala sobre novos projetos

Dicas de Mulher

Atualizado em 02.06.23

“Desde criança, eu sempre amei ginástica”, conta Daniele Matias Hypólito, uma das principais atletas do Brasil, que fez história ao ganhar a primeira medalha para o país em competições internacionais, em 2001, no Mundial de Ghent, na Bélgica. De lá para cá, a paulista participou de cerca de 12 Mundiais, com mais insígnias conquistadas em Jogos Pan-americanos, sendo três pratas e seis bronzes, entre as edições de Winnipeg 1999 e Toronto 2015. Também se tornou a atleta mais longeva em edições das Olimpíadas, participando de cinco ao total: Sydney 2000, Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016.

Hoje, aos 38 anos e reconhecida como umas das grandes ginastas nacionais, ela segue trabalhando com o nicho, mas agora de forma diferente: palestrando em eventos da área, trazendo boletins e entrevistando personalidades deste universo, por meio de seu canal ‘Na área com Daniele Hypolito’ e demais redes sociais. Além disso, lidera o projeto Instituto Hypolito com seu irmão, o também ex-ginasta Diego Hypolito; e se dedica à arte circense, participando do espetáculo Abracadabra, no Reder Circus.

Mas, muito antes de abrir caminho para outros ginastas brasileiros, bater recorde no número de participações em Olimpíadas e de alçar o reconhecimento de todos, ela percorreu um longo caminho, transformando uma brincadeira em um sonho para a vida – feito que lhe exigiu foco, determinação e disciplina, como contou em entrevista exclusiva ao Dicas de Mulher. Confira a seguir curiosidades da trajetória da ex-ginasta, seus aprendizados, conselhos às leitoras que visam carreira no esporte e novos projetos.

O início no esporte

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“Com quatros anos, eu comecei a brincar de fazer ginástica no quintal da casa dos meus pais. Eu pegava o colchão e usava o braço do sofá como salto. Então, desde pequenininha, era uma coisa que eu via”, relembra Daniele. Seis meses depois, ela começou na ginástica artística e conta que “acompanhava a primeira nota 10 da modalidade em Mundiais, que era a Nadia Comaneci e a nossa representante da época, a Luisa Parente”. Por coincidência, o professor do Sesi de Santo André era vizinho de sua família e a convidou para fazer o teste da escolinha do Sesi. Ela tentou, passou na seletiva e em uma semana entrou para a equipe.

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Perguntada sobre o papel da família em sua carreira, Daniele Hypólito destaca que sempre foi bastante apoiada, de modo que quando disputava algum campeonato internacional, a mãe, seu pai e o irmão mais velho sempre estavam presentes para torcer e acompanhá-la de perto.

Dos feitos na ginástica

Do início de sua carreira na ginástica artística para cá, Daniele Hypólito fez história ao se consagrar atleta pioneira por arrebatar a primeira medalha para o Brasil em competições internacionais. Foi em 2001, na Bélgica, quando conquistou a prata no solo que ela escreveu e grifou seu nome na história do esporte verde-amarelo.

“Foi onde a gente realmente conseguiu abrir as portas do Brasil para o cenário mundial, e mostrar que o Brasil tem, sim, talentos, tem capacidade.”

– Daniele Hypólito

A atleta pondera que isso veio com ela, naquele campeonato internacional, “veio com a Daiane, com meu irmão e foi aumentando, com o [Arthur] Nory, [Arthur] Zanetti… E tem vindo, agora com a Jade [Barbosa], a Rebeca [Andrade] sendo campeã mundial. Então, a gente está quebrando cada vez mais esse paradigma”.

Dentre as edições Winnipeg 1999 e Toronto 2015 dos Jogos Pan-Americanos, a paulista de Santo André arrebatou nove medalhas, sendo três pratas e seis bronzes. E no que diz respeito aos Jogos Olímpicos, Daniele integrou a Seleção brasileira em cinco edições, sendo recordista em participações, portanto.

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O gênero e o esporte olímpico brasileiro

Perguntada sobre como é ser uma atleta mulher em uma modalidade que, historicamente, começou a ser disputada inicialmente por homens, Daniele Hypólito pontua que enxerga a modalidade como mais feminina. Para ela, são os homens que encontram uma barreira ao ingressar na ginástica artística. “Acho que é um dos poucos esportes que são os meninos que têm de quebrar a barreira dessa questão [de gênero]”, explica.

Mas, pondera os percalços característicos do esporte olímpico brasileiro:

“Você ser atleta mulher, no nosso país, não é fácil, mas eu acho que num modo geral, não é só a mulher. Você ser atleta no Brasil é um desafio muito grande.”

– Daniele Hypólito

Ela diz que para um esportista olímpico, ao contrário do que muitos acreditam, não se pode levar em conta apenas os custos de treinamento, mas também “um bom salário no clube que representa, patrocínio, porque a renda do atleta olímpico não é uma renda alta. As pessoas acham que é uma renda alta, porque somos conhecidos, somos pessoas convidadas para eventos e tudo, mas o esporte olímpico não é… É o que eu falo: o futebol é um esporte totalmente diferente do esporte olímpico”, mencionando a modalidade esportiva de maior apelo socioeconômico no país e no mundo.

Pensando novos caminhos para o esporte olímpico

Ao entrar na questão da disparidade de visibilidade e consequente aporte dentre desportos existentes, como o futebol ou basquete e os esportes olímpicos, Daniele frisou:

“Como atleta olímpica, gostaria também de ter mais espaço na TV, e não só no ano das Olimpíadas, porque a gente treina muito, a gente representa o nosso país, veste a camisa do Brasil também, e a gente veste com orgulho. Então, é claro que a gente quer ter mais espaço.” No entanto, ela também entende que é preciso considerar outros fatores para aumentar essa visibilidade para além do período de edição dos Jogos Olímpicos.

Ela acredita que a comunidade de atletas de elite tem de ter uma postura mais ativa diante do assunto, pois: “o futebol tem mérito por ter esse tempo de TV e o esporte olímpico, ao invés de ficar ‘ai, porque o futebol tem muito espaço’, tem que correr atrás desse espaço”. Para isso, considera que a mudança será gradual, não em uma ou duas temporadas, porque a questão perpassa a conquista de mais medalhas e a valorização do esporte olímpico brasileiro: “pra gente ganhar esse espaço todo, temos que (cada vez mais) ir ganhando medalhas, quebrando barreiras, a gente tem que ir fazendo isso”.

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Dos aprendizados e sonhos pendentes

Dicas de Mulher

Ao refletir sobre a realidade do esporte olímpico, Daniele Hypólito é direta:

“Algo que eu não ganhei, e que gostaria de ter ganho, é com certeza uma medalha olímpica. Acho que eu acertei em Mundiais, mas eu queria ter sido mais assertiva talvez nos Jogos Olímpicos. Ou teria melhor me preparado, ou [competido] em melhor fase, nos Jogos Olímpicos. Acho que a medalha que faltou na minha carreira foi a olímpica”, porém, pondera que “nem sempre o fato de não ganhar a medalha olímpica quer dizer que a sua carreira não foi vitoriosa. Pelo contrário, tenho muito orgulho da carreira que eu construí”.

No que diz respeito à vida pessoal, ela revela que lhe faltou um(a) herdeiro(a):

“Acho que um sonho mais recente é com certeza ser mãe. Com certeza, poder contar a história pro meu filho, do que eu fiz, talvez da minha carreira, e ter orgulho de contar isso pra ele e, de repente, o sonho realizado de ele falar assim ‘eu quero ser igual a minha mãe’. Só pode ser isso.”

– Daniele Hypólito

Do que tem feito

Nos últimos oito anos, Daniele representou o Flamengo por um período, enquanto ginasta; participou de realities shows na televisão (Exathlon Brasil, da Band, em 2017; Dancing Brasil, da Record, em 2019; e Made in Japão, também na Record, em 2020) e casou-se, em 2018, com o coreógrafo e professor de dança Fábio Castro.

Atualmente, Daniele desenvolve vários trabalhos diferentes, ligados ao esporte, à arte circense e também à comunicação, sua nova carreira. “Hoje eu levo o sorriso de uma maneira diferente, através de as pessoas poderem estar mais perto de mim. E a gente virou artista de circo, podendo levar a alegria pela magia do circo, no Reder Circus, no Espetáculo Abracadabra”.

Ela dá palestras sobre a temática esportiva; apadrinha projetos; lidera o Instituto Hypolito – que visa difundir a ginástica artística para crianças carentes – junto de seu irmão, Diego Hypolito e se apresenta no Reder Circus, como contou. Não o bastasse, a paulista também iniciou a graduação na área de comunicação, com especialização em marketing, estudando à distância.

Em seu mais novo projeto, o canal ‘Na área com Daniele Hypólito’, que estreou em novembro de 2022, ela tem trazido boletins e entrevistas com personalidades do mundo esportivo.

Dos hobbies

Na data de nossa conversa, a Copa do Catar de 2022 ainda estava se desenrolando, na fase de grupos, e Daniele estava acompanhando o campeonato com afinco: “eu sou fã de futebol. Eu discuto futebol com meu marido, eu amo, eu gosto. É uma coisa que eu vou atrás, eu leio, porque eu gosto. Então, estou vivendo a Copa”, revela.

Além da peleja, ela contou que adora assistir a séries. “Sou uma pessoa que gosta muito, às vezes, de ver coisas bobas. Então, eu vejo muitos filmes de Natal, de romance. Eu gosto desse tipo de coisa. Gosto muito de séries de época, então eu sou a pessoa que assiste ‘A Imperatriz’, ‘The Crown’… assisto tudo que é de época, que tem história real, que tem um ponto real. Eu gosto de assistir.”

Vida pessoal X vida profissional

Perguntada sobre o ponto de conciliação da vida pessoal com a profissional, de seus hobbies com suas responsabilidades, ela pontuou que tudo o que aprendeu como atleta a ajudou em outras áreas da vida, devido ao foco que adquiriu como esportista.

“Você, na verdade, deixa o esporte, mas o esporte não deixa você, porque, de certa forma, você nunca deixa de ser atleta. O que você aprende, você leva pro resto da sua vida. Então, toda disciplina do esporte, toda disciplina que eu obtive durante 32 anos de carreira, eu levo para as minhas carreiras atuais.”

– Daniele Hypólito

Hypólito revela que a determinação, foco e disciplina aprendidas na sua temporada no esporte olímpico, são aplicadas na sua faculdade de marketing e no seu dia a dia.

Dicas para leitoras:

Com uma trajetória cheia de desafios e vitória, Daniele dá um dos mais importante conselhos para mulheres de todas as áreas e carreiras.

“Nunca desista dos seus sonhos. Muitas pessoas vão dizer que você não pode, que você não tem capacidade e vão duvidar de você. Mas se você acredita em você, e está perto das pessoas que também acreditam em você, os sonhos são possíveis, sim, de se realizar. Tenha certeza, foco, determinação e disciplina, mas o principal: acreditar em si e ir até o final.”

– Daniele Hypólito

Por fim, a ex-ginasta brasileira, que nasceu em Santo André (SP) e passou por tablados no mundo afora, representando o Brasil na modalidade esportiva que conheceu brincando, na sala de casa, encerrou a prosa, a meu pedido, se definindo em uma frase: “Sonhe com o impossível, sem deixar de fazer tudo aquilo que é possível”.

Formada em Jornalismo, é apaixonada por livros e boas histórias (ficcionais ou não). Trabalha com conteúdo e fotografia, e nas horas vagas gosta de ler, escrever e pedalar.